quinta-feira, 25 de junho de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 28.06.2020


DISPOSTOS A SOFRER

Jesus não queria ver ninguém sofrer. O sofrimento é mau. Ele nunca o procurou para si nem para os outros. Pelo contrário, toda a Sua vida consistiu em lutar contra o sofrimento e o mal, que causam tanto dano às pessoas.

Os evangelhos nos apresentam Jesus sempre combatendo o sofrimento que se esconde na doença, nas injustiças, na solidão, no desespero ou na culpa. Assim foi Jesus: um homem dedicado a eliminar o sofrimento, suprimindo injustiças e contagiando força para viver.

Mas procurar o bem e a felicidade para todos traz muitos problemas. Jesus sabia disso por experiência. Não se pode estar com os sofrem e procuram o bem dos últimos sem provocar a rejeição e a hostilidade daqueles a quem interessa nenhuma mudança. É impossível estar com os crucificados e não se ver um dia “crucificado”.

Jesus nunca escondeu isso dos seus seguidores. Em várias ocasiões, utilizou uma metáfora inquietante que Mateus resumiu assim: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim”. Jesus não poderia ter escolhido uma linguagem mais plástica. Todos conheciam a imagem terrível do condenado que, nu e indefeso, era obrigado a carregar nas costas o tronco horizontal da cruz até ao local da execução, onde o esperava, tronco vertical fixado na terra.

“Carregar a cruz” fazia parte do ritual da crucificação. O objetivo era que o condenado aparecesse perante a sociedade como culpado, como um homem indigno de continuar a viver entre os seus. Todo descansariam vendo-o morto.

Os discípulos tentaram entendê-lo. Jesus vinha dizer mais ou menos o seguinte: “Se vocês me seguirem, terão que estar dispostos a serem rejeitados. Acontecerá com vocês o mesmo que aconteceu comigo. Aos olhos de muitos, vocês serão culpados. Serão condenados, para não incomodar mais eles. Vocês deverão carregar a cruz. Então vocês se parecerão mais Comigo, serão meus dignos seguidores, partilharão o destino dos crucificados. Com eles vocês entrarão um dia no reino de Deus”.

Carregar a cruz não significa procurar cruzes, mas aceitar a “crucificação” que nos chegará se seguirmos os passos de Jesus. Assim, tão simples e claro.
José Antonio Pagola
(Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez)

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