O corpo de Cristo é comunhão e vida partilhada na
mesa do mundo!
Israel gostava de
lembrar que Deus sempre dá o melhor de si pelo povo que ama. Ele o alimenta com
a melhor farinha produzida pelo trigo e com o melhor mel oferecido pelas
abelhas. As comunidades cristãs, por sua
vez, se rejubilam na experiência e no anúncio de que, em Jesus Cristo, Deus
assume a fragilidade humana e faz conosco uma aliança eterna. E proclamam que
Deus tem corpo feito amor e vulnerabilidade, e que sua carne e seu sangue são
verdadeiro alimento que sacia todas as fomes e sedes.
Na catequese
aprendemos, e continuamos acreditando, que a comunidade cristã é um corpo vivo,
orgânico e articulado que tem Cristo como cabeça. Em suas cartas, Paulo
sublinha que somos um corpo porque partilhamos de um único pão, e que, num
corpo vivo, os membros são solidários: quando um membro sofre, todos os demais
sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os demais participam de sua
alegria; e os membros mais frágeis são os que necessitam de maior cuidado e
proteção.
A festa do Corpo e
Sangue de Cristo quer nos lembrar enfaticamente que Deus tem um corpo, e que
este corpo é principalmente o corpo da comunidade, formado por homens e
mulheres que dão o melhor de si pelos outros, em vista de um outro mundo
possível! É um corpo formado por pessoas habituadas ao sofrimento, que nem
sempre estão em nossas celebrações e festas. O corpo de Deus é este corpo feito
de membros livres e diferentes, unidos no mesmo espírito, na mesma dor e no
mesmo sonho.
Este é exatamente um
dos sentidos mais profundos da Eucaristia: a partilha do mesmo e único pão
expressa nosso desejo e nossa disposição de viver a solidariedade e a comunhão
com o corpo vivo de Cristo, com todos os seus membros, sem exceção, começando
pelos ‘últimos’, por aqueles nos quais Jesus disse que estaria presente; o ato
de beber do mesmo e único cálice expressa a comunhão com o sangue de Cristo que
circula nas veias daqueles que elegemos como irmãos, ou que Deus nos deu como
irmãos.
Porém, estamos tão
acostumados a solenizar a festa de ‘Corpus Christi’, a participar da missa e a
‘receber a comunhão’ que, ouvindo Jesus Cristo dizer que Ele mesmo é “o pão
vivo que desceu do céu”, temos que fazer enorme esforço para crer que ele está
presente naquela partícula de pão que chamamos hóstia. Nossos olhos teimam em
ver somente pão, e então lutamos para ver ali o próprio Cristo! Com isso
esquecemos que a primeira e mais decisiva passagem não é do pão para Jesus Cristo,
mas de Cristo para o pão repartido!
No evangelho de hoje,
Jesus fala de sua vida em termos de carne e sangue. Estas palavras sublinham a
concretude de sua vida histórica e, ao mesmo tempo, a vulnerabilidade que
compartilha com todos os seres humanos. Os discípulos acham difícil demais
levar isso a sério. Na verdade, a questão decisiva, e difícil, é reconhecer as
ações e opções concretas de Jesus Cristo, sua comunhão solidária com a humanidade
sofredora, como algo que nos motiva e sustenta, como um caminho que vale a pena
ser continuado.
Para muitas pessoas
isso não faz o menor sentido. Elas pensam que é irrelevante ou impossível que
Deus tenha assumido a carne humana. Isso não as toca, não as alimenta, não mexe
com elas. Entretanto, as palavras de Jesus são claras: “A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira
bebida.” O pão do céu se fez carne e terra, se oferece como alimento para
aqueles que têm fome e sede de justiça. É a humanidade de Jesus que sacia nossa
fome e nossa sede de um mundo reconciliado!
Jesus Cristo dá tudo
de si para que todas as criaturas tenham vida e esplendor. É para isso que ele
se faz carne e sangue e se oferece como verdadeira comida e bebida. A Eucaristia
que celebramos comunitariamente é sacramento de uma vida plena. Por isso, a
Eucaristia não pode se resumir a uma prática religiosa privada e misteriosa,
repetida unicamente para cumprir uma lei ou para salvar a alma, a própria ou a
de alguém. E jamais pode ser reduzida a um troféu exibido em procissões!
Deus Pai e Mãe! Queremos celebrar a ceia do teu Filho com
o coração agradecido e prontos para o caminho que nos espera. Dá-nos teu Filho,
Pão para a vida do mundo! Dá-nos teu Espírito, “vírus” de comunhão que regenera
o mundo na comunhão sustentada pelo dom. Mantém nossos passos na imensa
caravana dos homens e mulheres de boa vontade. Não somos dignos que entres em
nossa casa, mas dize uma Palavra e recuperaremos a dignidade e a liberdade. E
assim viveremos a verdadeira comunhão. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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