quarta-feira, 9 de setembro de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | VIGÉSIMO-QUARTO DOMINGO | 13.09.2020


Somos incansáveis embaixadores do perdão e da reconciliação!
Quando ocorre e é noticiada, a violência implacável nos parece uma exceção e, por isso, nos assusta. Mas isso não significa que nossas tensões tenham sido resolvidas e que os débitos tenham sido realmente perdoados e eliminados da nossa convivência. Eles têm hoje uma conotação mais psicológica e social que moral, e não deixam sensação de culpa. Nesta perspectivas, muitos pensam que os pobres, os negros, as mulheres, os indígenas e outros, devem se contentar com um lugar subalterno e marginal, e não são perdoados quando ousam questionar esta ordem desordenada.
A parábola que Jesus propõe no evangelho deste domingo parte de uma pergunta que Pedro faz, em nome dos discípulos: quantas vezes devemos perdoar os irmãos e irmãs? Está claro que a comunidade dos discípulos/as experimenta tensões e ofensas. Pedro não escamoteia esta situação, mas pensa que perdoar até sete vezes seja um sinal suficiente de generosidade. Efetivamente, isso já seria uma radical e corajosa inversão da postura de Lamec, que propunha vingar sete vezes quem agredisse Caim (cf. Gn 4,24).
A resposta de Jesus é contundente: “Não até sete vezes, mas até setenta vezes sete!” Ou seja: o perdão aos irmãos e irmãs não pode ter limites, pois não é uma questão de número, mas de espiritualidade e ética. E, para ilustrar aquilo que afirma, Jesus conta uma parábola, na qual contrapõe a prática esperada de um cristão com a de alguém que, mesmo tendo uma grande dívida perdoada por seu patrão, se nega a perdoar uma pequena dívida do seu companheiro.
Precisamos superar uma visão moralista e superficial das ofensas e débitos. A dívida do empregado da parábola é impagável: 10 mil talentos equivalente ao tributo que o imperador Pompeu exigiu de Israel depois de conquistá-lo! Ademais, o foco de Jesus nesta parábola não é o nosso pecado, mas o pecado ou a dívida dos outros. Muitos pensam que as pessoas das escalas inferiores da sociedade tem um grande dever de obediência e respeito às pessoas das escalas superiores; que os pobres devem se contentar com as migalhas mal-humoradas dos ricos; que os leigos devem se submeter aos ministros ordenados; e assim por diante.
O foco de Jesus é a conexão indissociável entre receber perdão e dar perdão. E isso é lustrado na relação que a parábola estabelece entre o perdão de uma enorme dívida, que o empregado recebe do rei, e a sua falta de compaixão para com o companheiro que lhe devia qualquer coisa. Esse empregado se mostra surdo e indiferente aos apelos do irmão, e o trata com violência. Até seus companheiros ficam impressionados com tamanha violência. É isso que faz o rei voltar atrás e revogar sua compaixão.
E Jesus afirma: “É assim que o meu pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão!” Se a vontade de Deus, que é estender seu perdão a todas as relações humanas, não for levada a sério, ele se verá forçado a agir como o rei da parábola. Porém, Deus não é o ‘rei dos céus’, mas o ‘pai que está nos céus’, e enquanto pai, mantém seu amor indiscriminado (cf. Mt 5,45-48), um amor que responsabiliza os discípulos. A misericórdia de Deus por nós deve suscitar em nós ações de misericórdia!
Quem não consegue perdoar, demonstra que não alcançou a verdadeira liberdade. Viver dominado pelo ressentimento, cobrando eternamente as ofensas cometidas, exigindo o pouco que os outros devem, é uma terrível escravidão que impede o amadurecimento humano e espiritual. Paulo diz que que somos nós que devemos amor ao próximo e não eles a nós (cf. Rm 13,8), e pede que sejamos acolhedores e compreensivos com aqueles que se mostram mais fracos na fé. Ele nos ensina que o coração da vida cristã não é nossa honra ou nossos méritos, mas Jesus Cristo e seu Reino. “Ninguém vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos, e se morremos, é para o Senhor que morremos...”
Deus pai e mãe, o resumo da tua Palavra é Amor, Verdade e Fidelidade. Hoje tua Palavra nos ensina que o perdão, tanto quando é recebido quanto quando é dado, é um dom que nos faz livres e resgata a igualdade essencial de todas as pessoas. Que teu Espírito, que nos guie na participação na eucaristia, a mesa dos/as iguais, dos/as pecadores/as reconciliados/as, nos liberte da ira que mutila, das cobranças infantis, das acusações desequilibradas. Faze de nossa comunidade um laboratório de perdão e de igualdade, e, da Igreja inteira, um movimento que fecunde o mundo e a história com a força do perdão. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Livro do Eclesiástico 27,33-28,9 | Salmo 102 (103)
Carta de Paulo aos Romanos 14,7-9 | Evangelho de São Mateus 18,21-35

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