quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 27.09.2020

AS COISAS NÃO SÃO SEMPRE O QUE PARECEM

A parábola é uma das mais claras e simples. Um pai aproxima-se dos seus dois filhos para pedir-lhes que trabalhem na vinha. O primeiro responde com um “não” redondo: “Não quero!” Mas ele pensa melhor e vai trabalhar. O segundo reage com docilidade ostensiva: “Claro que vou, senhor!” No entanto, tudo fica só em palavras, e ele não vai para a vinha.

A mensagem da parábola também é clara e fora de toda a discussão. Diante de Deus, o importante não é falar, mas fazer; o decisivo não é prometer ou confessar, mas cumprir a Sua vontade. As palavras de Jesus não têm nada de original.

Original é a aplicação que, de acordo com o evangelista Mateus, Jesus faz aos líderes religiosos da sociedade: “Eu vos asseguro: os publicanos e prostitutas vão à vossa frente no caminho do reino de Deus”. Será verdade o que diz Jesus?

Os escribas falam constantemente da lei, o nome de Deus está sempre nos seus lábios. Os sacerdotes do templo louvam a Deus sem descanso, as suas bocas estão cheias de salmos. Ninguém duvidaria que estão a fazer a vontade do Pai. Mas as coisas nem sempre são como parecem. Os cobradores de impostos e as prostitutas não falam de Deus. Faz tempo que esqueceram a sua lei. No entanto, segundo Jesus, vão à frente dos sumo sacerdotes e escribas no caminho do reino de Deus.

O que via Jesus naqueles homens e mulheres desprezados por todos? Talvez a sua humilhação. Talvez um coração mais aberto a Deus e mais necessitado do Seu perdão. Quem sabe uma compreensão e uma proximidade maior com os últimos da sociedade. Talvez menos orgulho e prepotência que a dos escribas e sumo sacerdotes.

Os cristãos enchemos de palavras muito bonitas a nossa história de vinte séculos. Construímos impressionantes sistemas que recolhem a doutrina cristã com profundos conceitos. No entanto, hoje e sempre, a verdadeira vontade do Pai é praticada por aqueles que traduzem em atos o evangelho de Jesus, e por aqueles que se abrem com simplicidade e confiança ao seu perdão.

José Antônio Pagola

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