quarta-feira, 3 de março de 2021

ANO B | TEMPO QUARESLMAL | TERCEIRO DOMINGO | 07.03.2021

Jesus erradica do nosso meio a exploração que contamina até a religião!

A experiência religiosa está ligada a lugares, tempos, normas, símbolos e ritos que a expressam e tornam palpável. Mas, por mais importantes e sedutores que sejam, eles são apenas meios, e sofrem da ambiguidade de todas as realidades humanas e históricas. Mesmo estando intimamente relacionados com a celebração da fé, podem ser profundamente ambivalentes. E a caminha quaresmal ajuda-nos a purificar nosso olhar, nosso pensar e nosso agir, inclusive em relação aos templos.

Jesus entra no templo durante a festa da páscoa, que entulhada Jerusalém de peregrinos, fazia ferver o comércio e o faturamento tanto ou mais que a fé. O povo chegava de todos os lados para oferecer os sacrifícios, e para isso, precisava comprar os animais. E os vendedores de animais e os cambistas estavam lá para facilitar os ‘negócios de Deus’ e faturar com a piedade popular. Como a lei proibia o uso de moedas com imagens dos reis e dos impérios, lá estavam os cambistas como operadores indispensáveis. As autoridades religiosas, usando a fé e o nome de Deus, haviam transformado o templo em instrumento de exploração.

Entrando no templo e vendo isso, Jesus fica simplesmente indignado. O zelo pelo bem-estar do povo o inflama e consome. Por isso, expulsa os comerciantes, derruba as mesas dos cambistas e pede aos vendedores de pombas que levem suas gaiolas embora. Sua indignação é maior com estes últimos, pois são os exploram os mais pobres, daqueles que só podiam comprar e oferecer pombas (cf. Lv 5,7; 14,30).

Ameaçando e expulsando do templo os comerciantes e cambistas, Jesus denuncia o uso do nome de Deus para fins de exploração e diz que, na prática, a elite religiosa e social que havia se apropriado do templo e o administrava cultuava outros deuses. Como hoje, quando muitas pessoas que invocam o nome de Deus para justificar sua prosperidade e refutar as lutas dos pobres, excluem e violentam outros em nome da própria honra. A ação de Jesus, mesmo parecendo um gesto violento, é uma reação apaixonada em defesa das vítimas de uma violência exercida em nome da religião e do mercado religioso.

A expulsão dos comerciantes do templo é a primeira ação propriamente pública de Jesus relatada no evangelho de João. Os dirigentes reagem imediatamente, solicitando as credenciais de Jesus, perguntando com que direito ele faz isso. Eles pouco se importam com a exploração dos possibilitada pelo templo sobre os pobres. Estão mais interessados nas credencias de Jesus! Não querem apenas saber se Jesus se apresenta como profeta, já que fazer um chicote e ‘botar ordem’ no templo era um gesto ligado à chegada do Messias. Querem uma demonstração de que ele é mesmo o Messias esperado.

Com sua desconcertante ação simbólica, Jesus faz bem mais que purificar o templo ou corrigir o que se praticava nele. Jesus declara que o templo não é mais caminho e espaço para o encontro com Deus, que os sacrifícios e ritos são por si mesmos inúteis. A partir de Jesus, Deus se deixa encontrar na humanidade das pessoas que amam e lutam para superar a divisão e na comunidade que serve os mais necessitados. O templo permanece unicamente como espaço de encontro e lugar para fazer memória e cultivar a esperança. A verdadeira sacralidade deixa o templo e se hospeda nos corpos dos filhos e filhas de Deus e nas ações concretas do corpo de Cristo, que é a comunidade eclesial.

Ilustrando aquilo que é visto como importante até hoje, Paulo escreve: “Os judeus pedem sinais e os gregos procuram sabedoria”, ou seja: uns procuram e valorizam gestos grandiosos, demonstrações de poder; outros confiam no conhecimento e no saber bem organizado. Mas o poder e a sabedoria de Deus brilham em Jesus de Nazaré, irmão servidor da humanidade, vítima da violência religiosa e política, que veio derrubar os muros que separam e fazer unidade daquilo que está dividido. Infelizmente até hoje temos Igrejas e movimentos que não fazem outra coisa senão promover cultos e ‘milagres’ espetaculares e prometer prosperidade.

Senhor Jesus, para muita gente, teu ensinamento e tuas atitudes parecem exageradas e inaceitáveis. Pensam que uma religião que prioriza a fraternidade seja coisa destinada ao fracasso. Estão habituados a decorar leis, frequentar cultos, impor doutrinas e ouvir condenações. Mas Paulo diz que loucura de Deus é mais sábia que os homens, e que a fraqueza de Deus é mais forte que os homens! Vem de novo, Jesus, e purifica as Igrejas do entulho moralista, escapista, dinheirista e autoritário. Que nossas comunidades sejam teu corpo, constituído de membros igualmente dignos e solidários, continuadores da tua compaixão. Amém! Assim seja!

Itacir Brassiani msf

Livro do êxodo 20,1-17 | Salmo 18 (19) | 1ª Carta de Paulo aos Coríntios 1,22-15 |  Evangelho  de São  João 2,13-25

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