quinta-feira, 18 de março de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 21.03.2021

UMA LEI PARADOXAL

Encontramos poucas frases no Evangelho tão desafiantes como estas palavras que reúnem uma convicção muito de Jesus: “Garanto-vos que se o grão de trigo não cai em terra e morre, fica infecundo; mas se morre, dá muito fruto”.

A ideia de Jesus é clara. Com a vida acontece o mesmo que com o grão de trigo, que tem de morrer para libertar toda a sua energia e um dia produzir fruto. Se “não morre”, fica em cima do terreno. Pelo contrário, se “morrer”, volta a levantar-se, trazendo consigo novos grãos e nova vida.

Com esta linguagem tão gráfica e cheia de força, Jesus deixa antever que a Sua morte, longe de ser um fracasso, será precisamente o que dará fecundidade à Sua vida. Mas, ao mesmo tempo, convida os seus seguidores a viverem de acordo com esta mesma lei paradoxal: para dar vida é necessário “morrer”.

Não podemos gerar vida sem dar a própria. Não é possível ajuda a viver se não estivermos dispostos a “desviver-nos” pelos outros. Ninguém contribui para um mundo mais justo e humano vivendo apegado ao seu próprio bem-estar. Ninguém trabalha seriamente pelo reino de Deus e a Sua justiça se não está disposto a assumir os riscos e rejeições, a conflitualidade e a perseguição que Jesus sofreu.

Passamos a vida tentando evitar sofrimentos e problemas. A cultura do bem-estar obriga-nos a organizar-nos da forma mais cômoda e agradável possível. É o ideal supremo. No entanto, há sofrimentos e renúncias que é necessário assumir se queremos que a nossa vida seja fecunda e criativa. O hedonismo não é uma força mobilizadora; a obsessão com o próprio bem-estar apequena as pessoas.

Habituamo-nos a viver fechando os olhos ao sofrimento dos outros. Parece ser o mais inteligente e sensato para sermos felizes. É um erro. Seguramente conseguiremos evitar alguns problemas e dissabores, mas o nosso bem-estar será cada vez mais vazio e estéril, a nossa religião cada vez mais triste e egoísta. Entretanto, os oprimidos e afligidos querem saber se alguém se importa com a sua dor.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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