quinta-feira, 25 de março de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 28.03.2021

JESUS PERANTE SUA PRÓPRIA MORTE

Jesus previu serenamente a possibilidade de uma morte violenta. Talvez não contasse com a intervenção da autoridade romana ou com a crucificação como o último destino mais provável. Mas ele estava ciente da reação que a Sua atuação estava provocando nos setores mais poderosos. O rosto de Deus que ele apresentava desfazia muitos esquemas teológicos, e o anúncio do Reino de Deus quebrava demasiadas seguranças políticas e religiosas.

No entanto, nada muda a sua atuação. A morte não o assusta. Ele não se defende, não foge, mas tampouco procura a própria perdição. Jesus não se comporta como um suicida, que procura a morte. Durante a sua curta estadia em Jerusalém, faz o possível para não aparecer em público.

Se queremos saber como Jesus viveu a sua morte, devemos deter-nos em duas atitudes fundamentais que dão sentido a todo o seu comportamento. Toda a sua vida foi um «desviver-se» pela causa de Deus no serviço libertador aos homens e mulheres. A sua morte selará essa sua vida. Jesus morrerá por fidelidade ao Pai e por solidariedade com os homens.

Em primeiro lugar, Jesus enfrenta a própria morte a partir de uma atitude de total confiança no Pai. Caminha para a morte, convencido de que ela não poderá impedir a chegada do reino de Deus, que continua a anunciar até o fim.

Na ceia de despedida, Jesus manifesta a sua esperança de que voltará a comer com os Seus a Páscoa verdadeira, quando se estabeleça o reino definitivo de Deus, com a superação de todas as injustiças que os seres humanos possam cometer. Quando tudo fracassa e até Deus parece abandoná-Lo, como a um falso profeta condenado justamente em nome da lei, Jesus grita: «Pai, nas Tuas mãos ponho a minha vida».

Por outro lado, Jesus morre numa atitude de solidariedade e de entrega a todos. Toda a sua vida foi uma defesa dos pobres frente à desumanidade dos ricos, uma solidariedade com os vulneráveis frente aos interesses egoístas dos poderosos, um anúncio do perdão aos pecadores frente à dureza inamovível dos «justos».

Jesus sofre a morte de um pobre, de um abandonado que nada pode ante o poder dos que dominam a Terra. Ele a vive como um serviço: o último e supremo serviço que ele pode fazer à causa de Deus e à salvação definitiva dos seus filhos e filhas.

José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez

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