quarta-feira, 2 de junho de 2021

Comunhão, Memória e Utopia: A solenidade de Corpus Christi (Pagola)

FAZER MEMÓRIA DE JESUS

Jesus cria um clima especial na ceia de despedida que partilha com os Seus na véspera da Sua execução. Sabe que é a última. Já não voltará a sentar-se à mesa com eles até à festa final junto ao Pai. Quer deixar bem gravado na memória deles o que sempre foi a Sua vida: paixão por Deus e entrega total a todos.

Nessa noite ele vive tudo com tanta intensidade que, ao distribuir-lhes o pão e o vinho, diz estas palavras memoráveis: “Assim sou Eu. Dou-vos a minha vida inteira. Olhai: este pão é o meu corpo partido por vós; este vinho é o meu sangue derramado por vós. Não me esqueçais nunca. Fazei isto em memória de Mim. Recordai-Me assim: totalmente entregue a vós. Isto alimentará as vossas vidas”.

Para Jesus, este é o momento da verdade. Neste jantar, reafirma-se na Sua decisão de ir até ao fim na Sua fidelidade ao projeto de Deus. Continuará sempre do lado dos fracos, morrerá enfrentando a quem deseja outra religião e outro Deus esquecido do sofrimento do povo. Dará a sua vida sem pensar em si mesmo. Confia no Pai, e deixa tudo nas suas mãos dele.

Celebrar a Eucaristia é recordar este Jesus, gravando dentro de nós como viveu até ao fim. Reafirmarmo-nos na nossa escolha de viver seguindo os seus passos, de tomar a vida nas nossas mãos e tentar vivê-la até às últimas consequências.

Celebrar a Eucaristia é, acima de tudo, dizer como Ele: “Esta minha vida não quero guardá-la exclusivamente para mim. Não quero guardá-la só para o meu próprio bem-estar. Quero passar por esta terra reproduzindo em mim algo do que Ele viveu, sem encerrar-me no meu egoísmo, contribuindo desde a minha local e da minha pequenez para fazer um mundo mais humano”.

É fácil fazer da Eucaristia algo muito diferente do que é. Basta ir à missa para cumprir uma obrigação, esquecendo o que Jesus viveu na última ceia. Basta comungar pensando só no nosso bem-estar interior. Basta sair da igreja sem nunca decidir viver de forma mais generosa e solidária.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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