quinta-feira, 10 de junho de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 13.06.2021

O TRABALHO NÃO É TUDO!

Poucas parábolas podem causar maior rejeição na nossa cultura de desempenho, produtividade e eficácia do que esta pequena parábola em que Jesus compara o reino de Deus com esse misterioso crescimento da semente, que produz sem a intervenção do semeador.

Esta parábola, tão esquecida hoje, destaca o contraste entre a espera paciente do semeador e o crescimento irresistível da semente. Enquanto o semeador dorme, a semente germina e cresce, sem a intervenção do agricultor e sem que ele saiba como.

Habituados a valorizar quase exclusivamente a eficiência e a performance, esquecemo-nos de que o Evangelho fala de fecundidade, não de esforço, pois Jesus entende que a lei fundamental do crescimento humano não é o trabalho, mas o acolhimento da vida que vamos recebendo de Deus.

A sociedade atual empurra-nos com tal força para o trabalho, a atividade e o rendimento que já não percebemos até que ponto nos empobrecemos quando tudo se reduz a trabalhar e a ser eficaz.

De fato, a lógica da eficácia está a levar o homem contemporâneo a uma existência tensa e sobrecarregada, a uma deterioração crescente das suas relações com o mundo e as pessoas, a um esvaziamento interior e a essa síndrome da imanência onde Deus desaparece pouco a pouco do horizonte da pessoa.

A vida não é só trabalho e produtividade, mas um presente de Deus que devemos acolher e desfrutar com coração agradecido. Para ser humana, a pessoa precisa aprender a estar na vida não só a partir de uma atitude produtiva, mas também contemplativa. A vida adquire uma nova e mais profunda dimensão quando conseguimos viver a experiência do amor gratuito, criativo e dinamizador de Deus.

Precisamos aprender a viver mais atentos a tudo o que há de oferta na existência; a despertar no nosso interior o agradecimento e o louvor; a libertarmo-nos da pesada lógica de eficácia e abrir em nossa vida espaços para a gratuidade.

Precisamos agradecer a tantas pessoas que alegram a nossa vida, e não passar à margem de tantas paisagens feitas apenas para serem contempladas. Saboreia a vida como graça quem se deixa amar, surpreender pelo bom de cada dia, agraciar por Deus.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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