quarta-feira, 18 de maio de 2022

ANO C | TEMPO PASCAL | SEXTO DOMINGO | 22.05.2022

A Igreja é a ‘casa-de-Deus’, aberta a todos os povos.

Todas as religiões se apresentam como caminhos que asseguram a salvação, a felicidade. E esta oferta se ajusta à insaciável sede de vida e de plenitude que move o ser humano. Os caminhos oferecidos se dividem em dois grupos: os que propõem a saída de si mesmo para encontrar a plenitude nas realidades externas e transcendentes; os que propõem e ensinam o mergulho em si mesmo e o esquecimento das realidades externas, inclusive dos demais seres humanos.

Mas existe uma terceira possibilidade, que está discretamente presente em algumas religiões e é proposta por Jesus Cristo: Deus mesmo vem saciar nossa sede de plenitude, eliminando a distância que nos separa e assusta, assumindo e aperfeiçoando as realidades humanas e sociais. Jesus Cristo é sacramento de um Deus humanizado e encarnado, servidor e libertador, próximo e presente no ser humano que ama e sofre. “Se alguém me ama, guardará a minha Palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”.

O amor autenticamente humano é o êxodo de si mesmo em direção a Deus e o advento de Deus na carne humana. O que nos aproxima de Deus não é o muito saber, o grande poder ou a ausência de sofrimento, mas o dinamismo de um amor que nos faz loucos, apaixonados, pobres e servidores. As igrejas cristãs são chamadas a ser famílias que vivem esta intensa paixão por Deus e pela humanidade e evitam a tentação de assumir a função de delegadas de Deus, de enrijecer o sistema de proibições e de usurpar o poder que só a Deus pertence.

Quando fala das diversas moradas que existem no “lar” do Pai, e que ele vai para preparar-nos um lugar, Jesus está se referindo à sua missão de afirmar nossa condição de filhos/s e herdeiros/as de Deus. Hoje Jesus inverte esta lógica, e diz que é Deus quem vem às comunidades que se organizam em seu nome delas sua morada no mundo. Por isso, as comunidades precisam cultivar o amor, o diálogo, o serviço e a abertura às necessidades do mundo. Uma Igreja fiel a Jesus Cristo e aos tempos atuais, que aceita ser uma morada de Deus, deve ser uma Igreja aberta e missionária.

A dificuldade que Tiago e Pedro colocam a Paulo e Barnabé nasceu de numa atitude de fechamento que os levou a identificar alguns costumes com o próprio Evangelho. Mas, graças à liberdade de Paulo e de Barnabé, “que arriscaram a vida pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”, Tiago e Pedro reconhecem e acolhem os “irmãos vindos do paganismo” e não lhes impõem os costumes e normas que haviam aprendido do judaísmo. Isso nos encoraja a sonhar com uma Igreja que não tenha medo de dialogar com os diferentes grupos e movimentos sociais e culturais.

A propósito, é bela a visão de João sobre a cidade santa, imagem da Igreja. Ela está cercada por uma muralha que a protege das perseguições, mas tem portas e saídas por todos os lados, e tem como alicerce o testemunho dos apóstolos; o esplendor que a envolve não vem do saber ou do poder, mas da glória de Deus, do amor vivido até às últimas consequências. Seu brilho não lhe pertence, nem lhe é dado pelos poderosos, mas vem Cordeiro humilhado e martirizado, e a ele pertence. Esta cidade dispensa templos e ritos, pois basta-lhe a força da divina Compaixão.

No cálido e tenso ambiente da Ceia de despedida, Jesus diz que só o amor pode manifestar claramente o que Deus é e o que Deus faz. Sabedor dos limites que acompanhariam os discípulos e discípulas de todos os tempos, Jesus promete que não os deixa órfãos e indefesos: ele envia o Espírito Santo, Consolador, Defensor e Mestre que guia no seguimento dos seus passos. O Espírito é a fidelidade e a glória à qual podemos aspirar. O amor praticado é mandamento de Jesus. O amor recebido e proclamado é Evangelho. O amor testemunhado é esplendor e glória de Deus.

Jesus de Nazaré, profeta corajoso e irmão amado! Que o teu Espírito nos ajude a entender e atualizar tua ação libertadora e tua Palavra vivificadora; a reinventar tua ação em mil ações que resgatam a dignidade de todo ser humano; a anunciar que estás presente naqueles/as a quem não te envergonhas de chamar irmãos. Não permitas que a tua Igreja dê as costas ao Espírito e se erga como muro defensivo, trono que manda e sepultura que conserva restos mortais. Renova tua amada Igreja, abrindo portas que acolhem os que chegam e nos envia em saída. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Atos dos Apóstolos 15,1-2.22-29 | Salmo 66 (67) | Apocalipse de São João 21,10-14.22-23 |  Evangelho  de São  João (14,23-29)

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