sexta-feira, 13 de maio de 2022

O Evangelho dominical (Pagola) - 15.05.2022

UMA FORMA DE AMAR

Os cristãos começaram a sua expansão numa sociedade em que havia diferentes termos para expressar o que hoje chamamos amor. A palavra mais usada era ‘filia’, que designava o afeto por uma pessoa próxima, e era usada para falar da amizade, carinho ou o amor aos parentes e amigos. Falava-se também de ‘eros’ para designar a inclinação agradável, o amor apaixonado, ou simplesmente o desejo orientado para aqueles que produzem em nós prazer e satisfação.

Os primeiros cristãos abandonaram esta terminologia e colocaram em circulação outra palavra quase desconhecida, ‘agape’, a que deram um conteúdo novo e original. Não queriam que o amor inspirado por Jesus fosse confundido com qualquer coisa. Daí o seu interesse em formular bem o mandamento novo do amor: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”.

A forma de amar de Jesus é inconfundível. Ele não se aproxima das pessoas que procuram o seu próprio interesse ou satisfação, a sua segurança ou bem-estar, mas das pessoas que só pensam em fazer o bem, acolher, dar o melhor que tem, oferecer amizade, ajudar a viver. Assim o recordarão anos mais tarde nas primeiras comunidades cristãs: “Passou toda a sua vida a fazer o bem”.

É por isso que o seu amor tem um caráter serviçal. Jesus coloca-se ao serviço daqueles que mais podem necessitar dele. Abre espaço no seu coração e na sua vida aqueles que não têm lugar na sociedade nem na preocupação das pessoas. Defende os fracos e os pequenos, os que não têm poder para se defenderem a si próprios, os que não são grandes ou importantes. Aproxima-se daqueles que estão sozinhos e indefesos, aqueles que não conhecem o amor ou a amizade de ninguém.

O habitual entre nós é amar aqueles que nos apreciam e realmente nos amam, ser afetuosos e atentos com os nossos familiares e amigos, e viver indiferentes àqueles que consideramos estranhos e alheios ao nosso pequeno mundo de interesses. No entanto, o que distingue o seguidor de Jesus não é um amor qualquer, mas precisamente essa forma de amor que consiste em nos aproximarmos daqueles que podem necessitar de nós. Jamais deveríamos esquecer isso.

José Antônio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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