quinta-feira, 25 de agosto de 2022

ANO C | TEMPO COMUM | VIGÉSIMO-SEGUNDO | 28.08.2022

Prioridade absoluta para os pequenos, pobres e vulneráveis!

Jesus não desperdiça nenhuma ocasião para ensinar. Como Palavra viva e atuante de Deus, ele propõe uma inversão radical na escala dos valores da sociedade e da religião, e não se cala nem mesmo na casa de uma autoridade, em pleno jantar para o qual havia sido convidado. Ele desenvolve a corajosa lição de hoje num sábado, na casa de um dos chefes dos fariseus, logo depois de afirmar que as necessidades de qualquer pessoa estão acima das leis. No dia dedicado à vocação dos leigos, fixemos os olhos em Jesus, a Palavra que ressoa como Boa Notícia.

Jesus evita ficar na periferia ou na superfície das questões essenciais. Seu ensino não é sobre as regras de boas maneiras numa refeição solene, mas sobre uma questão fundamental da vida cristã: quem é o maior ou o primeiro, o mais importante ou notável na vida cristã? Jesus começa pela crítica ao orgulho e aos privilégios e passa à questão dos beneficiários da nossa atenção. Ele conhece o costume de privilegiar, tanto nas festas quanto nas decisões e projetos políticos, os familiares, parentes, amigos e vizinhos. Para Jesus, este é um círculo muito estreito.

Inicialmente, Jesus fala aos hóspedes que estão com ele à mesa, afirmando que “todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. Depois, dirige-se ao próprio anfitrião que o acolhe, questionando sua expectativa de retribuição. E deixa muito claro que orgulho e a busca de retribuição são posturas anti-evangélicas. Os cristãos e as igrejas não podem ceder a honras e vaidades, mas buscar decididamente o lugar reservado aos servidores, superar a velha prática de servir, apoiar e defender prioritariamente as pessoas e instituições que a favorecem.

Jesus propõe a inversão da ordem dos grupos e pessoas que costumam aparecer no topo das nossas listas de honoráveis, presenças infalíveis entre os convidados das nossas festas e solenidades: os pobres, aleijados, coxos e cegos devem ser os primeiros! É claro que aqui Jesus não quer estragar nossa festa, mas questionar a estreiteza das fronteiras que traçamos entre ‘nós’ e ‘eles’, entre os ‘nossos’ e os ‘outros’. Jesus coloca em questão a busca de compensações que rege nossas pequenas e grandes ações. A verdadeira felicidade consiste em dar generosamente.

Dom Helder Câmara nos ensinava que o maior perigo que ameaça os cristãos e a hierarquia é o desejo de sempre vencer e jamais fracassar, de sentir-se sempre querido/a e nunca sobrar. E chegou a advertir um colega bispo: “Mais grave do que ser apanhado pela engrenagem do dinheiro, é ser apanhado pela engrenagem do prestígio”. Na verdade, a busca de privilégios e compensações é tão desgastante quanto infantilizadora: o caminho que dá acesso a eles costuma passar pela pela subserviência, e é acompanhado pelo medo do anonimato e pelo apego doentio aos bens e títulos.

Para quem segue o caminho de Jesus, a recompensa é prometida para ressurreição dos justos. A felicidade que ninguém pode roubar é aquela que conquistamos entrando pela estreita porta da humildade, da generosidade e da solidariedade. É a alegria profunda que experimentamos quando ouvimos da boca dos porta-vozes da vida o convite: “Amigo, vem para um lugar melhor!” E, enquanto caminhamos nesta direção, não há honra e alegria maiores que servir, compartilhar sonhos e lutas com aqueles que normalmente são ejetados para os últimos lugares.

A Carta aos Hebreus nos diz que, em Jesus e na comunidade que o segue, torna-se visível a assembleia dos primogênitos, o verdadeiro povo de Deus, constituído de homens e mulheres que descobriram a grande honra de amar e servir. Esta é a verdadeira cidade de Deus, a manifestação e a morada de Deus no mundo. Fogo, tempestade, trevas, sons de trovões e trombetas são nada diante do sinal grandioso de homens e mulheres mansos e corajosos, humildes e generosos.

Jesus de Nazaré, servidor humilde e generoso, queremos acolher teu o chamado e seguir o teu caminho de estar entre os ‘últimos’ e a serviço deles. Que nesta semana, dedicada às vocações leigas, tua Palavra ocupe um lugar importante em nossa vida, ilumine nossa percepção e guie nossas decisões. Hoje tu nos pedes que reservemos os primeiros lugares aos que são vistos e tratados como ‘últimos’. Envia-nos teu Espírito, para que ele nos ajude a assimilar este mandamento e escutar teu convite: “Vem para um lugar melhor!” Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Livro do Eclesiástico 3,19-21.30-31 | Salmo 67 (68) | Carta de Paulo  aos Hebreus 12,18-24 |  Evangelho  de São  Lucas (12,1.7-14)

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