segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Porque somos pessoas de fé, damos o máximo em tudo o que fazemos

Porque somos pessoas de fé, damos o máximo em tudo o que fazemos | 529 |12. 11.2024 | Lucas 17,7-10

Em nosso exercício de meditação de ontem buscávamos um sentido atual para as advertências de Jesus sobre a inevitabilidade e a gravidade dos escândalos no interior das comunidades cristãs. Jesus insiste na necessidade do perdão e da reconciliação, sem os quais a vida cristã é impossível. Entretanto, isso não significa relativizar a responsabilidade quando escandalizamos os pobres.

Mas cultivar e manter a reconciliação não é nada fácil, e leva os discípulos a pedir que Jesus lhes aumente a fé. Somente ela pode nos ajudar a transpor os empecilhos. Depois de ilustrar a força (e não a quantidade) da fé, Jesus conta a parábola que meditaremos hoje. A história é muito verossímil, pois trata de uma experiência amplamente conhecida e tolerada no mundo escravagista antigo: o escravo deve tudo ao seu dono, e não goza de nenhum direito frente a ele.

Jesus não elogia o patrão, nem compara Deus com um proprietário de escravos. O foco da parábola é a atitude de empenho incondicional, serviço incansável e gratuidade integral que deve caracterizar todas as dimensões da vida dos discípulos e discípulas. A fé é obediência e serviço ativo e desinteressado, sem nenhuma pretensão de cobrar vantagens, dividendos e méritos. A fé nos faz incansáveis no serviço aos outros, e não significa apenas crer e esperar passivamente um milagre.

Assim foi Jesus, e assim ele espera que sejamos nós, seus discípulos e discípulas. O Concílio Vaticano II já dizia que a fé ilumina a nossa inteligência para que sejamos capazes de encontrar soluções concretas para os problemas humanos concretos. Portanto, a fé não pode ser reduzida à aceitação resignada de uma doutrina, ou na crença desesperada de que Deus poderá fazer um milagre e salvar-nos dos perigos.

É verdade que há situações para as quais não visualizamos nenhuma solução, e diante delas nos sentimos impotentes e derrotados. Muitas vezes perguntamo-nos: Será que vale a pena ser correto e compreensivo, tolerante e engajado, sonhador e construtor de fraternidades sem fronteiras? Nesses casos, e só depois de tentar tudo com insistência e santa teimosia, podemos dizer, sem falsidade nem resignação: “Fizemos o que devíamos fazer. Somos dispensáveis!” Mas, por isso mesmo, continuamos nossa busca de sentido para viver, amar e servir.

 

Meditação:

§  Leia e releia a parábola, meditando sobre ela, sem levar em conta o horizonte escravagista no qual a história está situada

§  Como você se sente quando, depois de ter feito tudo o que era possível, não conseguiu bons resultados, nem reconhecimento?

§  Você não acha que às vezes caímos na tentação de exigir méritos, créditos e benefícios de Deus pela vivência da fé?

§  Como nossa fé pode ser luz e força, por exemplo, diante do enorme e indecente problema da pobreza, da fome e da guerra?

domingo, 10 de novembro de 2024

Que nosso modo de viver não seja pedra no caminho dos pequenos

Que nosso modo de viver não seja pedra no caminho dos pequenos | 528 |11. 11.2024 | Lucas 17,1-6

O texto que nos é proposto hoje é uma continuidade das “conversas à mesa”, nas quais Jesus fala da misericórdia com que Deus trata seus filhos e filhas, da necessidade de fazer bem as contas para segui-lo sem recuos, da atenção solidária para com os pobres e vulneráveis. Isso não é e nunca foi facultativo na escola de Jesus.

Depois de ter se dirigido enfaticamente aos escribas e fariseus, que eram mais amigos do dinheiro que das pessoas, Jesus volta-se aos discípulos e discípulas, e aborda com eles a questão das dificuldades internas da comunidade cristã. Jesus não tem uma visão idealizada nem ingênua da sua comunidade. Ele faz questão de dizer que os escândalos existem de fato, que são inevitáveis e não podem ser escamoteados, mas isso não diminui a gravidade.

Literalmente, “escândalo” significa a pedra de tropeço que alguém põe numa trilha para fazer o outro tropeçar e cair. Por isso, em que pese serem normais as divisões e tropeços, quem faz os mais fracos tropeçarem na fé por causa das práticas incoerentes mereceria uma pena muito severa: ser amarrado numa pedra muito maior e ser jogado no mar. Para atrair tamanha punição, o escândalo deve ser coisa muito grave!

Mas se o tropeço é inevitável, na vida em comunidade o perdão é essencial, indispensável. Na verdade, o perdão merece mais atenção que o escândalo. “Prestai atenção!”, adverte Jesus para sublinhar isso. A comunidade precisa exercitar o ministério do perdão e da reconciliação com quem reconhece e se arrepende de seus erros, inclusive se a conta dos tropeços sobe e chega a sete por dia!

Se isso nos incomoda, incomodou mais ainda os apóstolos, que reagiram dizendo que a fé que vivem não chega a tanto. A vivência da misericórdia, da solidariedade e da reconciliação só é possível no horizonte da fé, da adesão ao Evangelho e da imitação de Jesus Cristo. Nem tudo se resolve no voluntarismo, no “basta querer”.

Mas não precisamos de uma fé heroica, apenas de uma fé normal. Jesus não está aludindo a uma fé miraculosa, pois ele mesmo se recusou a produzir sinais que impressionassem o povo e atraísse admiração. A fé autêntica tem seu dinamismo e sua força, e não é questão de quantidade. A adesão sincera a Jesus e a graça do Evangelho têm força para mudar as relações humanas!

 

Meditação:

·    Leia e releia este episódio, procurando entender as expressões e as ênfases de Jesus nessa catequese dirigida aos discípulos

·    Na sua comunidade e na sua família ocorre o fato de alguns colocarem pedras para que os outros tropecem e entrem em crise?

·    Como entender a dura palavra de Jesus: “melhor seria que lhe amarrassem uma pedra de moinho e o jogassem no mar”?

·    O que o perdão e a reconciliação têm a ver com a fé? E o que significa a comparação que Jesus faz com a remoção da amoreira?

sábado, 9 de novembro de 2024

Que ninguém use a piedade e a fé para explorar

Que ninguém use a piedade e a fé para explorar os mais pobres! | 527 |10. 11.2024 | Marcos 12,38-44

Depois de ter calado seus adversários e desmascarado a ideologia nacionalista e triunfalista dos que pregavam a restauração messiânica do império de Davi, Jesus continua por algum tempo no templo central de Jerusalém. Ele ensina as multidões e os seus discípulos a respeito da novidade do Reino de Deus, e se mostra implacável na crítica aos mestres ou doutores da Lei. Para Jesus, eles estão muito longe da novidade ética e religiosa do Reino de Deus inaugurado por ele.

Na cena de hoje, Jesus começa recomendando ao povo que se cuide dos doutores da Lei: eles buscam apenas e sempre distinção, status e privilégios, enquanto que Jesus propõe que ocupemos o lugar do servo e do último. Por causa das aparências de piedade, os doutores da Lei haviam conseguido o direito legal de cuidar da herança das viúvas, e eram muito bem pagos para fazer isso. Entretanto, mesmo sendo pagos, não se contentavam com isso, e “devoravam” os bens delas, fazendo o contrário do que pedia a própria Lei: proteger os órfãos e as viúvas.

Mas não é apenas isso. O próprio templo, que Jesus lembra que deve ser sempre um lugar de oração, mas é controlado por eles, acaba sendo uma estrutura que espolia e empobrece ainda mais o povo já ferido e explorado. E Jesus não aceita isso de modo nenhum. Sentado, diante do cofre das esmolas, longo do lugar dos sacrifícios, ele observa como os ricos “turbinam” suas ofertas, que são enganosas, e como a viúva é explorada, obrigada a dar mais que eles, a dar “tudo o que possuía para viver”.

Esta cena não propõe um elogio à “doação generosa” da viúva, mas um lamento pelo que ela sofre. Se a lemos com atenção e inteligência, Jesus não compara a esmola dos ricos com a “oferta” que a viúva é obrigada a dar, que não passa de uma extorsão inaceitável, mas ilustra aos seus discípulos como é que os doutores da Lei agem, legitimados pelo templo, para “devorar” as casas das viúvas. A piedade ostentada pelos escribas é um véu que mal esconde oportunismo e exploração.

Esta passagem não apresenta um exemplo de generosidade, e não deve serve de motivação para o dízimo. Ela fazer ressoar um lamento, o clamor dos pobres, explorados até em nome de Deus. Também nunca poupou críticas e denúncias contra o templo e seus controladores. É por isso que, depois de chamar os discípulos e criticar a exploração travestida de piedade, ele deixa o templo definitivamente.

 

Meditação:

·      Situe-se dentro da cena, no templo, com Jesus e os escribas, e observe, com Jesus, a descarada ostentação dos ricos e piedosos, que com suas migalhas disfarçam e legitimam o que acumulam injustamente

·      Perceba a coragem de Jesus ao desmascarar os doutores da lei, pois eles dão legitimidade teológica à exploração dos pobres: “Tomai cuidado com eles!”

·      Fique atento/a aos sentimentos e pensamentos que esta palavra e esta atitude de Jesus desperta em você

O Evangelho dominical (Pagola) 10.11.2024

 A NEUROSE DE POSSUIR

Uma das contribuições mais valiosas do Evangelho de Jesus Cristo ao homem contemporâneo é de ajudá-lo a viver com um sentido mais humano no meio de uma sociedade doente de neurose de possuir.

O modelo de sociedade e de convivência que configura o nosso viver diário não está baseado no que cada pessoa é, mas no que cada pessoa tem. O importante é «ter» dinheiro, prestígio, poder, autoridade... Quem possui isto avança e triunfa na vida. Quem não consegue nada disso fica desqualificado.

Desde os primeiros anos a criança é educada mais para «ter» do que para «ser». O que interessa é que se capacite para que no dia de amanhã: “tenha” uma posição, uma renda, um nome, uma segurança. Assim, quase inconscientemente, preparamos as novas gerações para a competição e a rivalidade.

Vivemos num modelo de sociedade que facilmente empobrece as pessoas. A procura de afeto, ternura e amizade que pulsa em cada ser humano é atendida com objetos. A comunicação e a relação é substituída pela posse de coisas.

As pessoas acostumam-se a valorizar-se a si mesmas pelo que têm. E, desta forma, correm o risco de se irem incapacitando para o amor, a ternura, o serviço generoso, a ajuda solidária, o sentido gratuito da vida. Esta sociedade não ajuda a crescer na amizade, na solidariedade e na preocupação pelos direitos e pela vida e bem-estar do outro.

Por isso adquire especial relevo o convite de Jesus a valorizar a pessoa a partir da sua capacidade de serviço e de solidariedade. A grandeza de uma vida mede-se não pelos conhecimentos que se possui, nem pelos bens que conseguiu acumular, nem pelo sucesso que conseguiu alcançar, mas pela capacidade de servir e ajudar os outros a viver de forma mais humana.

Quantas pessoas humildes, como a viúva do Evangelho, contribuem mais para a humanização da nossa sociedade com a sua vida simples de solidariedade e ajuda generosa aos necessitados que muitos protagonistas da vida social, política ou religiosa, hábeis defensores dos seus interesses, do seu protagonismo e da sua posição.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

Jornada Mundial dos Pobres (17.11.2-2024)

Um Dia Mundial dos Pobres!?

Celebramos com destaque alguns dias do longo calendário do ano para interromper a rotina que tende a engolir a todos com sua disfarçada voracidade, mas também para evidenciar valores e princípios preciosos e não queremos perder. Por isso celebramos o dia das mulheres, o dia das mães, o dia dos pais, o dia das crianças, o dia dos namorados...

A ONU também tem seu calendário, e pede que todos os povos celebrem algumas datas, entre as quais: o dia das florestas; o dia da água; o dia da terra; o dia da democracia; o dia da alimentação; o dia da paz; o dia da justiça social; o dia dos direitos humanos; o dia dos refugiados; o dia da juventude; o dia dos migrantes; o dia das vítimas da escravatura; o dia de luta contra o trabalho infantil; o dia de luta contra o tráfico de pessoas humanas...

Por sua vez, as comunidades cristãs celebram dias especiais nos quais recordam eventos e pessoas que mantém vivo o melhor do passado no qual lançam suas raízes e apontam para o horizonte que sonham e para o qual caminham: o natal, a morte e a ressurreição de Jesus; outros momentos cruciais da vida de Jesus, como pentecostes, transfiguração e ascensão; a vida dos profetas, dos mártires, das testemunhas, dos santos e santas...

Com o passar do tempo, algumas destas datas e celebrações foram se afastando do seu sentido histórico, assumindo traços das culturas e territórios e perdendo seu sentido especificamente cristão. Parte delas foi apropriada pelo comércio e transformada em diversão e mercadoria, em fonte de lucro para alguns e em distração para muitos. Outras simplesmente perderam sua força religiosa e propulsora de valores e utopias.

Em 2017 o Papa Francisco surpreendeu o mundo, tão acostumado a tornar invisíveis os pobres e as vítimas que produz, pedindo que celebremos anualmente o Dia Mundial dos Pobres. Há quem questione as razões de dar tanta visibilidade aos pobres, e quem pergunta se dedicar aos pobres apenas um dia vai mudar a condição que eles vivem. Outros ainda acusam o Papa de estar cedendo a ideologias políticas esquerdistas...

Entretanto, a vida histórica e a memória de Jesus de Nazaré, no qual os cristãos fixamos o nosso olhar, deu aos pobres, às vítimas e excluídos do seu tempo a primazia absoluta: ele deu sua vida e recebeu a condenação de cruz por causa deles, e afirmou sem titubear que eles são seus vigários, seus representantes. Certamente, sua vida cotidiana e as causas que abraçou pedem que o visualizemos mais como um pobre que como um rei.

Há 60 anos, o Concílio Vaticano II dizia que Cristo realizou a obra da salvação na pobreza e na perseguição, assumiu a condição de servo, evangelizou os pobres, aliviou os corações feridos, buscou os que se haviam perdido. Por isso a Igreja, reconhecendo nos pobres e desvalidos a imagem de “seu fundador pobre e sofredor, é “chamada a trilhar o mesmo caminho, servindo os pobres e combatendo a pobreza” (cf. Lumen Gentium 8).

Dom Itacir Brassiani msf

Bispo diocesano de Santa Cruz do Sul

Dedicação da Basílica de São João de Latrão

O corpo de Cristo é o templo no qual temos acesso a Deus | 526 |09. 11.2024 | João 2,13-22

Hoje a Igreja celebra a dedicação da Basílica de São João de Latrão, a “Catedral” de Roma. É uma das mais antigas basílicas cristãs, construída entre os anos 311 e 314, segundo o modelo dos templos romanos, depois que o cristianismo deixou de ser perseguido e de se reunir nas casas. Nessa festa, celebramos o significado cristão dos templos de pedra, da catedral de Roma e de todos os templos.

A passagem evangélica que ilumina o sentido dessa festa é extraída do evangelho segundo João. Nessa cena, situada logo no início da missão de Jeus, depois da transformação da água em vinho, Jesus nos é apresentado numa perspectiva profética, como o homem enviado por Deus para limpar e substituir o templo de pedra por um templo vivo, tecido por relações de fraternidade. O corpo humano de Jesus é o verdadeiro templo, e nele o corpo humano se torna templo de Deus.

Entrando no templo de Jerusalém, Jesus só encontra dissimulação, comércio e exploração dos mais pobres. Ali ninguém está buscando Deus, nem exercendo sua misericórdia para com as pessoas vulneráveis. Então, ele faz um chicote e expulsa todos os mercadores e seus animais, proclamando a inutilidade e o fim dos sacrifícios. Deus se relaciona com seu povo dando vida, e não exigindo a morte de animais, aves ou pessoas. E o lugar de encontro com ele são todos os lugares.

A venda de animais e aves para o sacrifício era controlada pela hierarquia sacerdote, e as pombas eram o único sacrifício acessível aos pobres. Por isso, com os vendedores de pombas Jesus é especialmente duro. Ao povo os sacerdotes oferecem perdão em troca de dinheiro! No templo, o povo é explorado. Em vez de dar vida em abundância, o templo suga a vida dos pobres. No novo templo do corpo de Cristo, do corpo machucado e amável de todos os humanos, Deus tem seu encontro conosco.

Os sacerdotes não se importam com o comércio e a exploração no templo. Eles se interessam apenas pelo cumprimento da lei. É em nome do templo, suas leis e seus interesses que os sacerdotes pedem para matar Jesus, aquele que veio para que todos tenham vida. E questionam violentamente a autoridade de Jesus para fazer o que ele faz. Jesus demonstra que Deus mora fora do templo, age e habita no seu corpo. Os seres humanos, o nosso próximo, são o lugar lugares de encontro com Deus.

 

Meditação:

§  Leia e releia esta cena, tentando visualizar as ações de Jesus e as reações dos comerciantes, sacerdotes e dos fiéis

§  Será que não fizemos pouco caso desse gesto e dessa lição de Jesus, e ainda valorizamos mais os lugares, ritos e leis que as pessoas?

§  O que significa hoje tratar os templos como lugares de encontro e oração que não excluem nenhum grupo e nenhum povo?

§  Será que não estamos mais preocupados com os rótulos (é cristão ou não) dos movimentos que com o bem que eles fazem?

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Como administrar corretamente os bens que nos são confiados?

Como administrar corretamente os bens que nos são confiados? | 525 |08. 11.2024 | Lucas 16,1-8

Este é um dos textos mais difíceis do Evangelho. Está situado literariamente depois das três parábolas dirigidas aos fariseus (a ovelha, a moeda e o filho perdidos, e a alegria de quem os reencontrou). Mas, desta vez, Jesus se dirige aos discípulos, e isso é importante para compreender o texto. Ele não está polemizando com ninguém, mas formando os seus seguidores.

A parábola fala de um administrador acusado de esbanjar os bens do patrão, bens que não lhe pertencem. Diante da denúncia e de iminente demissão, ele reflete, decide e age com rapidez e esperteza. O administrador sabe que o tempo presente é decisivo para seu futuro, por isso analisa, pondera e decide. Ele não se defende da acusação, mas procura um jeito esperto de garantir seu próprio futuro.

A parábola dá apenas dois exemplos dessa esperteza do administrador. Muitos outros seriam possíveis, mas o que interessa a Jesus é demonstrar a esperteza, a estratégia. O sujeito é administrador, “filho deste mundo”, e sabe como “se virar” para “salvar a pele”. Os discípulos, filhos da luz, devem saber decidir à luz do Reino, no meio de um mundo que se rege por outra lógica.

O que deve ser imitado não é a ação interesseira, desonesta e ilegal do empregado, mas sua capacidade de agir bem no breve tempo presente em vista do futuro. Quem segue Jesus devem ter lucidez e sabedoria para encarnar na provisoriedade deste mundo a fraternidade, os valores definitivos do Reino de Deus.

Como filhos e filhas da luz, nas avaliações e decisões estratégicas que devemos tomar permanentemente, não podemos guiar-nos pelo medo ou pelo apego a pequenas vantagens para grupos privilegiados. Nada de medo de “sujar as mãos” no mundo da política e da economia. O que é preciso é subordiná-los à fraternidade, ao bem comum. Tudo deve estar a serviço disso!

Quando temos o Reino de Deus como único tesouro, o medo se afasta, os olhos se abrem, e a criatividade tira-nos da comodidade. E não se trata de “salvar a própria pele”, mas de ter diante dos olhos o bem-estar da humanidade, as necessidades dos pobres, dos “devedores”, das pessoas tratadas como não-cidadãos. Esta é a esperteza dos discípulos de Jesus, dos filhos e filhas da luz. O resto é ambição e capitulação.

 

Meditação:

§  Considere também o exemplo do pai misericordioso, que empenha todos os bens (que não pertencem totalmente a ele) para acolher o filho e refazer a solidariedade familiar (15,11-32)

§  Leia e releia a parábola, colocando-se no lugar dos discípulos, sem esquecer o todo do ensino e da prática de Jesus

§  Quais são os critérios que guiam nossas decisões nos momentos mais difíceis e urgentes, nos quais nosso futuro este em jogo?


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

A festa da vida é para todos

A festa da vida é para todos, mas há quem não queira participar... | 524 |05. 11.2024 | Lucas 14,15-24

A cena de hoje apresenta Jesus ainda na casa do líder dos fariseus, onde curara um homem em dia de sábado. O convívio à mesa, mesmo marcado pela tensão, assim como a exclamação de um anônimo entusiasmado, proporciona a Jesus a oportunidade de falar das pessoas acolhidas prioritariamente, nos primeiros lugares, na festa da vida pela sua pregação e missão.

Tendo ouvido Jesus falar de que o Pai prioriza os pobres e doentes no convite para a festa do Reino, alguém proclama: “Feliz aquele que come o pão no Reino de Deus”. Jesus responde, à luz do que anunciara no início da sua missão, em Nazaré (cf. Lc 4,18-19): no Reino de Deus, a prioridade é dos oprimidos, os pobres, dos excluídos, dos “últimos” na escala social. A estes Deus dedica sua imensa misericórdia.

Na cena de hoje, Jesus não o diz isso com um discurso direto, exortativo ou crítico, mas através de uma parábola, com a qual também evidencia e explica a auto exclusão do Reino de Deus decidida pelos setores mais piedosos e poderosos. O próprio Jesus se dirigiu primeiro a eles, mas eles se armaram de desculpas e “caíram fora”. Infelizmente também hoje há quem se recuse a sentar na mesa dos iguais, numa nação na qual haja lugar para todos.

O chamamento de Jesus à novidade do reino de Deus representa um momento crítico e decisivo na vida dos discípulos. A responsabilidade pela resposta é nossa. No Reino de Deus os hábitos e posses não contam. Ninguém pode reivindicar direitos adquiridos, méritos acumulados. O Reino chegou, está no meio de nós, e devemos decidir hoje, acolhendo os benefícios e pagando os custos! Construir uma humanidade única não é coisa para românticos, nem para iniciantes.

Deus pensa o mundo como uma mesa na qual todos as pessoas e povos são acolhidos. Aqueles que se sentiam os únicos chamados são os primeiros a declinar do convite. Querem ser os primeiros, os “cidadãos de bem”, e não admitem serem misturados ao povo, querem viver separados. Mas Deus continua no seu objetivo: encher a sala da festa. Não há pandemia, enchente ou urgência eleitoral que justifique nosso esfriamento na fé e na missão de ajudar Deus a realizar essa vontade de Deus!

 

Meditação:

§  Você alimenta a convicção de que é realmente feliz quem acolhe a Boa Notícia e come do pão do Reino de Deus?

§  Diante do convite a participar da mesa solidária, imagem do mundo inclusivo, você costuma apresentar desculpas?

§  Como você se sente diante da afirmação de que os últimos da escala social devem ser os primeiros e preferidos?

§  Em nossas comunidades e organismos pastorais estamos priorizando a atenção aos últimos, para que todos sejam incluídos?

§  Como podemos mobilizar nossas famílias e comunidades cristãs num empenho efetivo para que diminuam as exclusões?

A felicidade verdadeira é doar-se

A felicidade verdadeira está em doar-se sem “se” nem “mas”...| 523 |04. 11.2024 | Lucas 14,12-14

Sabemos que Jesus pede aos seus discípulos que não busquem lugares de honra, e não entrem no jogo da competição. Isso revelaria o desejo de ser mais, de ter privilégio sobre as outras pessoas. A competição gera divisões, ciúmes, invejas. Ao contrário, faz parte do seu projeto do Reino de Deus quem vive como irmã e como irmão, quem estabelece relações de parceria baseadas na igualdade e no dom de si. 

Depois da orientação dada ao pessoal que esteva com ele na casa do fariseu, Jesus se dirige diretamente a quem o convidara, ordenando: “Ao dares um almoço, não convides teus amigos... Antes, convida os pobres que não têm como te recompensar...” A expectativa de ser recompensado é exatamente o contrário do amor, pois o amor é gratuito, não espera compensações.

O amor gratuito é o verdadeiro e duradouro caminho que nos abre as portas da felicidade. Na verdade, só é capaz de amar quem tem uma experiência referencial de ser amado e acolhido de modo incondicional e eterno. Essa experiência nos faz livres dos medos e das ambições, capazes de bondade e generosidade, sem necessidade de comprar afeto de ninguém.

Mas este princípio não pode ficar restrito à espiritualidade pessoal e às relações interpessoais ou domésticas. O Evangelho de Jesus Cristo pretende fecundar também as relações familiares, sociais, políticas e econômicas. Nele não há lugar para o “toma lá, dá cá” que costuma guiar boa parte das alianças políticas e das práticas da administração pública. Esse vírus pode contaminar inclusive nossas práticas de piedade.

E, mais ainda: o Evangelho pede políticas públicas e sociais que beneficiem exatamente as pessoas e os grupos sociais mais vulneráveis, e não apenas linhas de crédito aos “setores produtivos”, a quem já tem até demais. O governo anterior, especialmente o ministro da economia, queria um INSS no qual o pobre cidadão recebesse somente aquilo que pagou...

Mas não esqueçamos que isso deve valer mais ainda para nossas comunidades eclesiais e para toda a Igreja! Não é uma contradição evangélica tratar os fiéis segundo o critério do merecimento, como, por exemplo, estar em dia com o dízimo ou ostentar uma vida supostamente irrepreensível?

 

Meditação:

·    Situe-se no interior da cena, diante de Jesus e dos convidados para a confraternização na casa do fariseu

·    Podemos dizer que nossa verdadeira alegria consiste em ajudar as pessoas necessitadas, sem esperar nada em troca?

·    Que ensinamentos esta palavra de Jesus traz para nossas famílias, comunidades religiosas e para a Igreja como um todo?


sábado, 2 de novembro de 2024

Sejamos santos e irrepreensíveis no amor

Sejamos santos e irrepreensíveis no amor e na compaixão! | 522 |03. 11.2024 | Mateus 5,1-12

Buscamos nas bem-aventuranças, que fazem parte da primeira grande pregação catequética de Jesus no evangelho segundo Mateus, para iluminar a solenidade de todos os santos e santas. Depois da experiência forte por ocasião do batismo e da experiência crucial das tentações no deserto, Jesus inicia sua pregação na Galileia, e chama os primeiros discípulos. Ele percorre a região “pregando o Evangelho do Reino e curando toda doença e enfermidade do povo” (Mt 4,23).

A cena das bem-aventuranças começa mostrando que Jesus vê diante de si as multidões que vêm de toda a região, e assume sua missão de mestre e formador de discípulos. Tendo os discípulos e o povo cansado e abatido diante dos olhos, ele fala da novidade jubilosa do Reino de Deus, que reverte a situação de sofrimento e dominação na qual vive seu povo. Ao mesmo tempo, pede o engajamento daqueles que desejam segui-lo. E não se trata, obviamente, de cumprir leis minuciosas, mas de assumir um novo estilo de vida!

Por isso, Jesus evita apresentar um simples manual de procedimentos ou um conjunto de mandamentos, e prefere indicar uma direção, esboçar em traços gerais um mundo bom e alternativo, uma comunidade-semente, um caminho de felicidade compartilhada e duradoura. Ele oferece várias ilustrações para nos ajudar a entender como podemos acolher a vontade de Deus, o Reino de Deus. Mas precisamos sublinhar que não se trata de uma descrição de diferentes virtudes a serem exercitadas, mas apenas de alguns exemplos das prioridades do Reino de Deus.

Estas ilustrações podem ser divididas em dois grupos de quatro: as primeiras (v. 3-6) abordam situações de opressão (pobreza, aflição, impotência e ausência de justiça) que são simplesmente revogadas com a chegada do reino de Deus; o segundo grupo (v. 7-12) apresenta um conjunto de ações humanas que brotam da acolhida da novidade de Jesus (misericórdia, integridade, promoção da paz e luta firme pela justiça). Estas são a razão e o caminho da felicidade.

Para Jesus, pobreza, opressão, injustiça e humilhação não são situações que devemos aceitar, mas algo que devemos deplorar, denunciar e superar. E a misericórdia, a pureza, a pacificação e a luta perseverante são atitudes a serem cultivadas. O Reino de Deus que ele anuncia e inicia provoca essa mudança, e não há caminho de felicidade fora do engajamento nessa mudança.

 

Meditação:

·    Retome as bem-aventuranças uma a uma, observando o porquê da felicidade apresentada em cada aspecto

·    Podemos dizer que é nisso que reside nosso sonho, nossas aspirações, a meta de tudo o que fazemos e buscamos?

·    Em qual desses oito aspectos do caminho da santidade você precisa crescer mais? E qual deles lhe dá mais alegria?