Porque somos
pessoas de fé, damos o máximo em tudo o que fazemos | 529 |12. 11.2024 | Lucas
17,7-10
Em nosso exercício de meditação de ontem buscávamos
um sentido atual para as advertências de Jesus sobre a inevitabilidade e a
gravidade dos escândalos no interior das comunidades cristãs. Jesus insiste na
necessidade do perdão e da reconciliação, sem os quais a vida cristã é
impossível. Entretanto, isso não significa relativizar a responsabilidade
quando escandalizamos os pobres.
Mas cultivar e manter a reconciliação não é nada
fácil, e leva os discípulos a pedir que Jesus lhes aumente a fé. Somente ela
pode nos ajudar a transpor os empecilhos. Depois de ilustrar a força (e não a
quantidade) da fé, Jesus conta a parábola que meditaremos hoje. A história é
muito verossímil, pois trata de uma experiência amplamente conhecida e tolerada
no mundo escravagista antigo: o escravo deve tudo ao seu dono, e não goza de
nenhum direito frente a ele.
Jesus não elogia o patrão, nem compara Deus com um
proprietário de escravos. O foco da parábola é a atitude de empenho
incondicional, serviço incansável e gratuidade integral que deve caracterizar
todas as dimensões da vida dos discípulos e discípulas. A fé é obediência e
serviço ativo e desinteressado, sem nenhuma pretensão de cobrar vantagens,
dividendos e méritos. A fé nos faz incansáveis no serviço aos outros, e não
significa apenas crer e esperar passivamente um milagre.
Assim foi Jesus, e assim ele espera que sejamos
nós, seus discípulos e discípulas. O Concílio Vaticano II já dizia que a fé
ilumina a nossa inteligência para que sejamos capazes de encontrar soluções
concretas para os problemas humanos concretos. Portanto, a fé não pode ser
reduzida à aceitação resignada de uma doutrina, ou na crença desesperada de que
Deus poderá fazer um milagre e salvar-nos dos perigos.
É verdade que há situações para as quais não visualizamos nenhuma solução,
e diante delas nos sentimos impotentes e derrotados. Muitas vezes
perguntamo-nos: Será que vale a pena ser correto e compreensivo, tolerante e
engajado, sonhador e construtor de fraternidades sem fronteiras? Nesses casos, e
só depois de tentar tudo com insistência e santa teimosia, podemos dizer, sem
falsidade nem resignação: “Fizemos o que devíamos fazer. Somos dispensáveis!”
Mas, por isso mesmo, continuamos nossa busca de sentido para viver, amar e
servir.
Meditação:
§ Leia e releia a parábola, meditando sobre ela,
sem levar em conta o horizonte escravagista no qual a história está situada
§ Como você se sente quando, depois de ter feito
tudo o que era possível, não conseguiu bons resultados, nem reconhecimento?
§ Você não acha que às vezes caímos na tentação de
exigir méritos, créditos e benefícios de Deus pela vivência da fé?
§ Como nossa fé pode ser luz e força, por exemplo,
diante do enorme e indecente problema da pobreza, da fome e da guerra?