sábado, 9 de novembro de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) 10.11.2024

 A NEUROSE DE POSSUIR

Uma das contribuições mais valiosas do Evangelho de Jesus Cristo ao homem contemporâneo é de ajudá-lo a viver com um sentido mais humano no meio de uma sociedade doente de neurose de possuir.

O modelo de sociedade e de convivência que configura o nosso viver diário não está baseado no que cada pessoa é, mas no que cada pessoa tem. O importante é «ter» dinheiro, prestígio, poder, autoridade... Quem possui isto avança e triunfa na vida. Quem não consegue nada disso fica desqualificado.

Desde os primeiros anos a criança é educada mais para «ter» do que para «ser». O que interessa é que se capacite para que no dia de amanhã: “tenha” uma posição, uma renda, um nome, uma segurança. Assim, quase inconscientemente, preparamos as novas gerações para a competição e a rivalidade.

Vivemos num modelo de sociedade que facilmente empobrece as pessoas. A procura de afeto, ternura e amizade que pulsa em cada ser humano é atendida com objetos. A comunicação e a relação é substituída pela posse de coisas.

As pessoas acostumam-se a valorizar-se a si mesmas pelo que têm. E, desta forma, correm o risco de se irem incapacitando para o amor, a ternura, o serviço generoso, a ajuda solidária, o sentido gratuito da vida. Esta sociedade não ajuda a crescer na amizade, na solidariedade e na preocupação pelos direitos e pela vida e bem-estar do outro.

Por isso adquire especial relevo o convite de Jesus a valorizar a pessoa a partir da sua capacidade de serviço e de solidariedade. A grandeza de uma vida mede-se não pelos conhecimentos que se possui, nem pelos bens que conseguiu acumular, nem pelo sucesso que conseguiu alcançar, mas pela capacidade de servir e ajudar os outros a viver de forma mais humana.

Quantas pessoas humildes, como a viúva do Evangelho, contribuem mais para a humanização da nossa sociedade com a sua vida simples de solidariedade e ajuda generosa aos necessitados que muitos protagonistas da vida social, política ou religiosa, hábeis defensores dos seus interesses, do seu protagonismo e da sua posição.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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