Que ninguém
use a piedade e a fé para explorar os mais pobres! | 527 |10. 11.2024 | Marcos
12,38-44
Depois de ter calado seus adversários e
desmascarado a ideologia nacionalista e triunfalista dos que pregavam a
restauração messiânica do império de Davi, Jesus continua por algum tempo no
templo central de Jerusalém. Ele ensina as multidões e os seus discípulos a
respeito da novidade do Reino de Deus, e se mostra implacável na crítica aos
mestres ou doutores da Lei. Para Jesus, eles estão muito longe da novidade
ética e religiosa do Reino de Deus inaugurado por ele.
Na cena de hoje, Jesus começa recomendando ao povo
que se cuide dos doutores da Lei: eles buscam apenas e sempre distinção, status
e privilégios, enquanto que Jesus propõe que ocupemos o lugar do servo e do
último. Por causa das aparências de piedade, os doutores da Lei haviam
conseguido o direito legal de cuidar da herança das viúvas, e eram muito bem pagos
para fazer isso. Entretanto, mesmo sendo pagos, não se contentavam com isso, e
“devoravam” os bens delas, fazendo o contrário do que pedia a própria Lei:
proteger os órfãos e as viúvas.
Mas não é apenas isso. O próprio templo, que Jesus
lembra que deve ser sempre um lugar de oração, mas é controlado por eles, acaba
sendo uma estrutura que espolia e empobrece ainda mais o povo já ferido e
explorado. E Jesus não aceita isso de modo nenhum. Sentado, diante do cofre das
esmolas, longo do lugar dos sacrifícios, ele observa como os ricos “turbinam” suas
ofertas, que são enganosas, e como a viúva é explorada, obrigada a dar mais que
eles, a dar “tudo o que possuía para viver”.
Esta cena não propõe um elogio à “doação generosa”
da viúva, mas um lamento pelo que ela sofre. Se a lemos com atenção e
inteligência, Jesus não compara a esmola dos ricos com a “oferta” que a viúva é
obrigada a dar, que não passa de uma extorsão inaceitável, mas ilustra aos seus
discípulos como é que os doutores da Lei agem, legitimados pelo templo, para
“devorar” as casas das viúvas. A piedade ostentada pelos escribas é um véu que mal
esconde oportunismo e exploração.
Esta passagem não apresenta
um exemplo de generosidade, e não deve serve de motivação para o dízimo. Ela fazer
ressoar um lamento, o clamor dos pobres, explorados até em nome de Deus. Também
nunca poupou críticas e denúncias contra o templo e seus controladores. É por
isso que, depois de chamar os discípulos e criticar a exploração travestida de
piedade, ele deixa o templo definitivamente.
Meditação:
· Situe-se dentro da cena, no templo, com Jesus e
os escribas, e observe, com Jesus, a descarada ostentação dos ricos e piedosos,
que com suas migalhas disfarçam e legitimam o que acumulam injustamente
· Perceba a coragem de Jesus ao desmascarar os
doutores da lei, pois eles dão legitimidade teológica à exploração dos pobres:
“Tomai cuidado com eles!”
· Fique atento/a aos sentimentos e pensamentos que
esta palavra e esta atitude de Jesus desperta em você
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