Zumbi
dos Palmares:
Que
vivam a dignidade e aconsciência negras!
No dia 20 de novembro de 1695 foi assassinado Zumbi,
herói da resistência negra e último líder do Quilombo dos Palmares. As
violentas e sucessivas ações do império português para eliminar as comunidades
autônomas de negros/as que fugiam da praga da escravidão se estenderam por mais
de 60 anos, tal a força da resistência do povo negro.
A sede de liberdade e de dignidade é o segredo que
explica tão vigorosa e prolongada resistência. À frente deste teimosa luta pela
autonomia, pela dignidade e pela liberdade esteve o negro Zumbi, líder e rei,
cuja relevância pode ser comparada à de Spartacus, também ele líder de escravos
nos tempos do império romano.
Neste dia de memória reverente da figura desse
patriarca brasileiro, dia também dedicado ao resgate da consciência negra,
partilho um belo texto do grande Eduardo Galeano, no qual faz uma comovente
memória da resistência dos negros na América Latina.
Acontece no começo do
século XVI. Alguns
dias depois do Natal, os escravos negros se rebelam num moinho de açúcar de São
Domingos, que é propriedade do filho de Cristóvão Colombo.
Depois da vitória da
‘divina providência’ e do apóstolo São Tiago, os caminhos se povoam de negros
enforcados.
Os escravos que fracassaram
na primeira tentativa de fuga sofrem castigo de mutilação: corte de uma orelha,
ou do tendão, ou de um pé, ou de uma mão. Em vão o rei da Espanha proíbe cortar
‘as partes que não podem ser mencionadas’.
Nos reincidentes cortam o
que lhes sobra, e eles acabam na forca, no fogo ou no machado. Suas cabeças são
exibidas, cravadas em estacas, nas praças e povoados.
Mas em toda a América se
multiplicam os baluartes dos livres, metidos no fundo da selva ou nos
desfiladeiros das montanhas, rodeados de areias movediças que simulam ser
terreno firme e de falsos caminhos semeados de estacas de ponta.
Até ali chegam os vindos
das muitas pátrias da Africa, que se fizeram compatriotas de tanto partilhar
humilhações.
No Quilombo de Palmares, os
que haviam sido escravos vivem livres de seus amos e também livres da tirania
do açúcar, que não deixa nada crescer. Eles cultivam de tudo, e comem de tudo.
O cardápio dos seus amos vem dos barcos. O deles vem da terra. Suas forjas,
feitas no estilo africano, lhes dão enxadas, picaretas e pás para trabalhar a
terra, e facas, machados e lanças para defendê-la.
(Eduardo Galeano, Espelhos, uma história quase universal.
L&PM Editores, Porto Alegre, 2008, p. 151-152).
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