A ONU incluiu o direito à
alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É na perspectiva da luta
por esse direito, um dos mais violados, que publico aqui uma série de breves
textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à alimentação. São
informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do recente
livro Destruction massive. Géopolitique de la
faim, de Jean
Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008.
O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora
Seuil (Paris).
Fiat panis... sem recursos!?
Entre seus objetivos estão: a) organizar, reunir, interpretar e difundir conhecimentos relativos à alimentação, à
nutrição e à agricultura; b) melhorar, encorajar e recomendar ações nacionais e internacionais em
torno da pesquisa científica, social, econômica e tecnológica no campo da
alimentação, nutrição e agricultura; c) instituir sistemas satisfatórios de crédito agrícola em âmbito nacional e
internacional; d)desenvolver uma política
internacional de produtos agrícolas.
Mas hoje a política agrícola mundial, particularmente a questão da
segurança alimentar, é determinada pelo Banco
Mundial, pelo FMI e pela OMC. A FAO está simplesmente ausente deste
violento campo de batalha por uma razão muito simples: está institucionalmente esgotada
e fragililizada. A FAO é uma organização interestatal, e as empresas
multinacionais, que controlam o essencial do mercado agroalimentar, a combatem
frontalmente.
As empresas agroalimentares multinacionais gozam de uma influência muito
poderosa sobre os principais governos ocidentais. Consequentemente, os governantes não se interessam
pela FAO, restringem sempre mais seu orçamento e boicotam sistematicamente as Conferências
mundiais sobre a segurança alimentar.
Além disso, em torno de 70% dos parcos recursos da FAO
são hoje consumidos pelo pagamento de funcionários (que são 1.800, a maioria
dos quais lotados na sede, em Roma). Dos 30% restantes do orçamento, 15% é
queimado no pagamento de uma nuvem de consultores exteriores e apenas 15% vai para o financiamento da
cooperação técnica, do desenvolvimento da agricultura do Sul e da luta contra a
fome. Além disso, em 2010, o orçamento da FAO era de 349
milhões de dólares, mil vezes inferior
aos 349 bilhões de dólares empregados pelos países mais industrializados para
subsidiar a produção e a exportação dos seus produtos.
Segundo Graham Hancock, a FAO não passa hoje de uma gigantesca burocracia que não faz outra coisa que administrar a
pobreza, a subalimentação e a fome. O que resta do projeto original “é uma
instituição que se perdeu pelo caminho, traiu sua missão fundacional, tem
apenas uma confusa idéia do seu lugar no mundo e não sabe mais o que faz e por
quê o faz” (citado por Ziegler, p. 233). O pessoal que a dirige faz exatamente
o contrário do que propunha o projeto inicial concebido por Josué de Castro. (p.
231-238).
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