Maria de Betânia: a
mulher do desperdício
Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi para Betânia, onde morava Lázaro,
que ele havia essuscitado dos mortos. Aí ofereceram um jantar para Jesus. Marta
servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus. Então Maria levou
quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro. Ungiu com ele os pés de
Jesus e os enxugou com seus cabelos. A casa inteira se encheu com o perfume.
Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que ia trair esus, disse: "Por
que esse perfume não foi vendido por trezentas moedas de prata, para dar aos
pobres?" Judas disse isso não porque se preocupava com os pobres, mas
porque era um ladrão. Ele tomava conta da bolsa comum e roubava do que era
depositado nela. Jesus, porém, disse: "Deixe-a. Ela guardou esse perfume
para me ungir no dia do meu sepultamento. No meio de vocês sempre haverá pobres;
enquanto eu não estarei sempre com vocês."
Muitos judeus ficavam sabendo que Jesus estava aí em Betânia. Então
foram aí não só por ausa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Jesus
havia ressuscitado dos mortos. Então os
chefes dos sacerdotes decidiram matar também Lázaro, porque, por causa dele, muitos udeus deixavam
seus chefes e acreditavam em Jesus.(Jo 11,1-11)
Tu, Maria, devias ser a irmã
mais nova. Marta aparece sempre antes de ti, sempre preocupada, mais concreta,
mais senhora das situações. O próprio nome de Marta diz isso: significa literalmente
patroa da casa. Quando a maior faz tudo o que julga oportuno, o que sobra para
a mais nova?
Nós olhamos impressionados
para aquela cena, aquela tua atenção a uma coisa não necessária, não exigida,
não prevista. Olhando friamente, precisavas bastante coragem para enfrentar os
comentários maliciosos. Falou Judas, mas não se podia esperar que os demais não
o seguissem. Marta não te havia dito nada?
Naquele momento, como uma
inesperada irrupção vulcânica – por qual profundo intuito ou luz do alto não
sabemos – tu tiraste da bolsa o precioso perfume e o derramaste sem medida
sobre os pés de Jesus. Com um perfume tão caro e confiável, tu uniste amor e fidelidade
a Deus feito carne, ele também cheio de graça e de fidelidade.
Aquela tua atitude foi
conhecida pelos crentes medievais, que na sua simplicidade, espalharam a
história do perfume precioso que representam algumas belas e preciosas catedrais.
Sabem o que isso significa a monja e o monge que derramam aos pés de Cristo o
perfume da própria vida. Sabem-no também as nossas vovós, dobradas sob o peso do
trabalho, dos filhos e netos, que antes do amanhecer já estavam na igreja
oferecendo a Deus a última hora de uma noite mal dormida.
O mundo está cheio de coisas
esbanjadas e de gente que calcula aquilo que se poderia fazer com o que é
desperdiçado. Mas estamos marcando passo do ano 2015, limite estabelecido pela
FAO para realizar as metas do milênio está próximo. Nele deveríamos vencer a
fome no mundo, mas multidões ainda vivem sob a fome. Tiramos o tempo que
didicávamos a Deus mas mesmo assim não temos tempo para quem está próximo.
Talvez a estrada seja outra.
Talvez tenhamos necessidade da tua iluminada e corajosa certeza de que não é o
dinheiro que salva o mundo. O que salva o mundo são aqueles pés que seriam
pregados na cruz, aquela vida que seria inteiramente doada. Estes nos curam do
mal profundo de viver por nós mesmos.
“Deixem que ela faça”, diz
Jesus. Deixemos que ajam aqueles/as que amam a Deus de todo o coração. Diante
da casa deles/as nenhum pobre sairá sem uma resposta, sem um gesto. Deixemos
que atuem aqueles/as que amam a Deus com todas as forças, porque sempre haverá
um/a pronto a socorrer quem está caído. Deixem que façam algo aqueles/as que
amam a Deus com toda a alma, porque estarão prontos a morrer pelo menor dos
seus filhos. Deixem a iniciativa por conta daqueles/as que honram um Deus feito
carne, porque saberão honrar a carne de cada um dos pobres que encontrarem nos
seus caminhos.
Maria, tu nos ensinas que é
tempo de deixar de pensar que viver para Deus é um desperdício e que Deus é um
peso e um atrapalho para o nosso mundo. Dá-nos teu olhar fecundado pela
confiança total, a plena entrega, o pleno e não calculado desperdício de nós
mesmos por Cristo. Talvez então possamos darmo-nos conta que o perfume invadirá
toda a casa, não o nosso perfume, mas o dele. E o mundo respirará um novo ar.
(Teresina Caffi, In cammino con il Vangelo. Icone
della missione, EMI, Bologna, 2008, p. 98-101)
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