quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Ainda sobre o pão da vida...

O DECISIVO É TER FOME

O evangelista João utiliza uma linguagem muito forte para insistir na necessidade de alimentar a comunhão com Jesus Cristo. Só assim experimentaremos em nós a Sua própria vida. Segundo ele, é necessário alimentar-se de Jesus: «O que se alimenta de mim, viverá por mim».
A linguagem adquire um caráter todavia mais agressivo quando diz que tem de se comer a carne de Jesus e beber o Seu sangue. O texto é claro e provocativo. «A Minha carne é verdadeira comida, e o Meu sangue é verdadeira bebida. O que come a Minha carne e bebe mi sangue habita em Mim e Eu nele».
Esta linguagem já não produz impacto algum entre os cristãos. Habituados a escutá-lo desde crianças, tendemos a pensar no que vimos fazendo desde a primeira comunhão. Todos conhecemos a doutrina aprendida no catecismo: no momento de comungar, Cristo faz-se presente em nós pela graça do sacramento da eucaristia.
Por desgraça, tudo pode ficar mais de uma vez na doutrina pensada e aceita piedosamente. Mas, com frequência, falta-nos a experiência de incorporar Cristo à nossa vida concreta. Não sabemos como abrir-nos a Ele para que nutra com o Seu Espírito a nossa vida e a vá fazendo mais humana e mais evangélica.
Alimentar-se de Cristo é muito mais que avançarmos distraidamente para cumprir o rito sacramental de receber o pão consagrado. Comungar com Cristo exige um ato de fé e abertura de especial intensidade, que se pode viver sobretudo no momento da comunhão sacramental, mas também em outras experiências de contato vital com Jesus.
O decisivo é ter fome de Jesus. Procurar desde o mais profundo encontrar-nos com Ele. Abrir-nos à Sua verdade para que nos marque com o Seu Espírito e potencie o melhor que há em nós. Permitir que ilumine e transforme as zonas da nossa vida que estão todavia sem evangelizar.
Então, alimentar-nos de Jesus é voltar ao mais genuíno, ao mais simples e mais autêntico do Seu Evangelho; interiorizar as Suas atitudes mais básicas e essenciais; acender em nós o instinto de viver como Ele; despertar a nossa consciência de discípulos e seguidores para fazer Dele o centro da nossa vida. Sem cristãos que se alimentem de Jesus, a Igreja enfraquece sem remédio.

José Antonio Pagola

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