quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Uma pergunta séria...

POR QUE FICAMOS?

Durante estes anos multiplicaram-se as análises e estudos sobre a crise das Igrejas cristãs na sociedade moderna. Esta leitura é necessária para conhecer melhor alguns dados, mas resulta insuficiente para discernir qual há de ser a nossa reação. O episódio narrado por João pode-nos ajudar a interpretar e viver a crise com maior profundidade evangélica.
Segundo o evangelista, Jesus resume assim a crise que está se criando no Seu grupo: «As palavras que vos disse são espírito e vida. E, contudo, alguns de vós não crêem». É certo. Jesus introduz em quem o segue um espírito novo; as Suas palavras comunicam vida; o programa que propõe pode gerar um movimento capaz de orientar o mundo para uma vida mais digna e plena.
Mas, não é por estar no Seu grupo, que está garantida a fé. Há quem resista a aceitar o Seu espírito e a Sua vida. A sua presença no entorno de Jesus é fictícia; a sua fé Nele não é real. A verdadeira crise no interior do cristianismo é sempre esta: acreditamos ou não acreditamos em Jesus?
O narrador diz que «muitos recuaram e não voltaram a ir com Ele». Na crise revela-se quem são os verdadeiros seguidores de Jesus. A opção decisiva sempre é essa: quem recua e quem permanece com Ele, identificados com o Seu espírito e a Sua vida? Quem está a favor e quem está contra o Seu projeto?
O grupo começa a diminuir. Jesus não se irrita, não pronuncia nenhum juízo contra ninguém. Só faz uma pergunta aos que ficaram junto Dele: «Também vós quereis partir?». É a pergunta que se nos faz hoje, a quem segue na Igreja: Que queremos nós? Por que ficamos? É para seguir Jesus, acolhendo o Seu espírito e vivendo ao Seu estilo? É para trabalhar no Seu projeto?
A resposta de Pedro é exemplar: «Senhor, a quem vamos acudir? Tu tens palavras de vida eterna». Os que ficam, devem-no fazer por Jesus. Só por Jesus. Por nada mais. Comprometem-se com Ele. O único motivo para permanecer no grupo é Ele. Ninguém mais.
Por mais dolorosa que nos pareça, a crise atual será positiva se os que ficarmos na Igreja, muitos ou poucos, nos formos convertendo em discípulos de Jesus, ou seja, em homens e mulheres que vivemos das Suas palavras de vida.

José Antonio Pagola

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