quarta-feira, 15 de junho de 2016

ANO C – DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 19.06.2016

O caminho de Jesus Cristo não garante o sucesso fácil!

O retiro e a oração de Jesus neste momento denotam a encruzilhada, o momento forte no qual ele e seus discípulos se encontram. O que está em jogo é a missão e a identidade de Jesus e dos seus discípulos. A pergunta estava no ar e na cabeça de todos. Jesus havia saciado a fome das multidões, curara doentes, e havia enviado os discípulos para preparar e alargar sua ação. Mas eles se perguntavam: “Quem é este que dá ordem aos ventos e à água, e lhe obedecem?” (Lc 8,25). E até Herodes, desejoso de conhecer Jesus, se interrogava: “Quem será este homem, sobre quem ouço falar estas coisas?” (Lc 9,9)
Ao que parece, o conteúdo da pregação de Jesus e o testemunho contundente das suas ações não eram suficientes para que os discípulos intuíssem claramente sua identidade e sua missão. Mais: a tendência que predominava era entendê-lo no horizonte da ideologia nacionalista, que vivia a ardente expectativa da vinda de um messias identificado com a tradição monárquica, cuja tarefa seria libertar Jerusalém do domínio do exército romano. É para tomar distância deste perfil de líder popular nacionalista e consolidar sua vocação diante do Pai que Jesus se retira em oração.
Depois de aprofundar a consciência sobre a missão que o Pai lhe confia, Jesus retoma a conversa com os discípulos e propõe um balanço das opiniões sobre ele. “Quem dizem as multidões que eu sou?” Na verdade, o povo se perguntava, e alguns arriscavam afirmações aproximativas sobre a pessoa de Jesus: ele poderia ser João Batista ressuscitado; ou Elias que retornava para purificar a fé; ou então um outro profeta importante. Em todos os casos, Jesus aparece claramente identificado com a tradição profética. Ele mesmo acenara para isso na sinagoga de Nazaré quando, percebendo o desconcerto que sua mensagem provocara, dissera que “nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra...”
Um pouco antes, diante da cura do filho da viúva de Naim o povo dizia: “Um grande profeta surgiu entre nós...” E o fariseu que o recebera em sua casa para uma refeição questionava: “Se este homem fosse profeta, saberia quem é esta mulher que está tocando nele...” Mas não podemos nos deter nas respostas que estão na boca do povo ou que aprendemos de cor e boiam na superficialidade das fórmulas pouco consequentes. Afinal, que ressonâncias concretas têm em nossa vida e em nossos projetos fórmulas abstratas e distantes como Messias, Filho de Deus, Redentor, Salvador, Senhor?
A pergunta que Jesus dirige aos discípulos nos pede uma tomada de posição. “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro responde que ele é “Cristo de Deus”, recorrendo um conceito que denota um messianismo de natureza teocrática e nacionalista, que alimenta a expectativa de uma intervenção poderosa para liberar o território do domínio romano e reinstalar a monarquia. Jesus reage a esta resposta de Pedro, determinando que os discípulos não anunciem uma coisa dessas ao povo. Os discípulos estão imersos numa ideologia que fanatiza e desvia do caminho.
Nas imagens e conceitos que usamos para falar de Jesus está embutido aquilo que esperamos dele e pensamos sobre a pessoa humana. Os próprios chefes do judaísmo dão a entender que há uma ideia de poder e de sucesso conexa com o conceito “Cristo de Deus” (cf. Lc 23,35). Não é por nada que, mesmo depois de acompanhar Jesus no seu caminho até Jerusalém e de participar da sua ceia sacramental, os discípulos ainda discutem qual deles devia ser considerado o maior (cf. Lc 22,14-30). Por isso, Jesus prefere falar do caminho do Filho do Homem: sofrimento e rejeição por parte da liderança religiosa.
Precisamos mudar nossos hábitos, trocar os velhos trajes que trazem as marcas de reinos, impérios e ideologias de péssima memória. Paulo lembra que o nosso batismo significa exatamente isso: revestir-se de Cristo.  E isso implica na eliminação dos muros – arquitetônicos ou dogmáticos – que separam e hierarquizam crentes e não crentes, ricos e pobres, cultos e incultos, homens e mulheres, sacerdotes e leigos, etc.  “Todos vós sois um só, em Cristo Jesus”, insiste o Apóstolo das nações. Fiéis a esta verdade, sigamos o profeta de Nazaré, o rosto da misericórdia de Deus Pai.
Jesus de Nazaré, carpinteiro como teu pai José e ouvinte assíduo da Palavra: sendo filho da humanidade e nosso irmão maior, tu és o Ungido de Deus, do Pai dos pobres. Olhando para teu corpo trespassado, te reconhecemos como um dos nossos e, por isso, como o início do Ano Novo (que os indígenas celebram no dia 21/06) e Caminho que nos leva à plena liberdade, que vale mais que a vida. Exultamos de alegria à sombra das asas da tua cruz e tomamos a nossa, cada dia, nos turbulentos e desafiadores tempos que vive a nação brasileira. Com vozes de alegria, nossa boca te canta louvores. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profeta Zacarias 12,10-11; 13,1 * Salmo 62 (63) * Carta aos Gálatas 3,26-29* Evangelho de S. Lucas 9,18-24)

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