quarta-feira, 23 de agosto de 2017

ANO A – VIGÉSIMO-PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 27.08.2017

A fé em Jesus Cristo é o alicerce que sustenta a Igreja.
Jesus deixa a região marginal da Galileia, onde revelou sua compaixão pela multidão faminta e tomou a iniciativa de alimentá-la, e chega à região de Cesaréia de Filipe. No passado, esta região fora famosa pelo santuário dedicado a Pã, divindade protetora dos rebanhos e pastores. Mais recentemente, o rei Filipe rebatizara a cidade com o nome de Cesaréia de Filipe, em homenagem a César Augusto. Este nome e esta homenagem mexiam com a questão da soberania e da submissão política de um povo.
A primeira pergunta que Jesus dirige aos discípulos, justamente neste lugar carregado de significado político, soa como uma espécie de enquete: “Quem dizem os homens que é o filho do homem?” E um elemento que não pode ser menosprezado é o apelativo que Jesus usa para referir-se a si mesmo. A expressão ‘Filho do homem’ destaca os vínculos de Jesus com os homens e mulheres comuns, e é o nome que ele mesmo prefere e usa com mais frequência. Conhecedor da ambiguidade dos conceitos e expectativas que escondem, Jesus evita referir-se a si mesmo como Filho de Deus ou Messias...
Podemos imaginar que a resposta não saiu assim muito rapidamente. Entre os discípulos fez-se silêncio, e eles se esforçaram para recordar aquilo que o povo dizia depois de ter escutado e conhecido Jesus. As respostas que eles resumem vinculam Jesus claramente ao movimento profético. O povo identifica a ação e a pregação de Jesus com a missão dos grandes profetas da sua tradição, aqueles homens que falavam e agiam em nome de Deus e defendiam o direito dos oprimidos.
Mas parece que o interesse de Jesus não é apenas fazer uma espécie de pesquisa de opinião... Ele escuta atentamente a resposta dos discípulos, mas não comenta a síntese que eles apresentam. Faz-se novamente silêncio. Então Jesus, olhando os discípulos nos olhos, pergunta-lhes enfaticamente: “E vocês, quem dizem que eu sou?” O que interessa a Jesus são as fantasias e expectativas que povoam a mente e o coração dos homens e mulheres que seguem seus passos e escutam suas palavras.
A pergunta é séria e as respostas não estavam escritas em nenhuma cartilha. A tradição na qual os discípulos haviam sido formados oferecia possibilidades diversas e contrastantes de resposta. O chão que eles pisavam lembrava deuses pastores e impérios dominadores. A pergunta toca direto nas expectativas que eles alimentam sobre Jesus, e coloca em questão a relação que tem com ele. No fundo, Jesus pergunta “que lugar eu ocupo na vida, no projeto e nas opções de vocês?”
Tanto para aqueles discípulos com para nós, as respostas que ouvimos dos nossos pais, catequistas, padres e professores podem ajudar, mas são radicalmente insuficientes. A resposta à pergunta de Jesus deve vir da vida pessoal e eclesial; está inscrita nas nossas práticas, relacionamentos, opções e utopias; está oculta no tipo de relação que cultivamos com Cristo, no lugar que ele ocupa em nossa existência. Portanto, não pode ser uma resposta à flor da pele, na ponta da língua, irrefletida.
Pedro rompe o silêncio. Com voz insegura, mas sereno e até ousado, fala, como sempre, em nome dos demais discípulos: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo.” É uma afirmação de fé, porque nela Pedro reconhece que aquele ser humano concreto, aquele jovem galileu que se compadeceu da multidão faminta e elogiou a fé de uma mulher pagã, é o Ungido pelo Espírito Santo, o pastor de Israel, o enviado de Deus para realizar seu projeto. E Jesus chama Pedro de rocha, pois é sobre essa adesão de fé que ele confia a continuidade da sua missão. Esta adesão firme e fiel se torna chave que abre e fecha portas.
A resposta de Pedro não nasce dos medos ou desejos infantis de onipotência, nem é ensinada pelos doutores de plantão. O reconhecimento e a fé num Deus presente na carne humana é dom de Deus aos pequenos. Não precisamos de fé para aderir a um deus que se identifica com os poderosos e as grandes obras, mas ela é indispensável para reconhecer Deus na história e para colaborar com sua missão libertadora. É nisso que se manifesta a profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus, como diz o apóstolo Paulo. Como são insondáveis as decisões e misteriosos os caminhos de Deus! 
Deus pai e mãe! Teus caminhos são impenetráveis, tu andas pela contramão da história dos grandes. Oxalá nossa pregação não se apoie no poder do dinheiro, na força das armas e na persuasão da oratória. E que tua Igreja, inspirada na prática de Jesus de Nazaré, o missionário querido que enviaste ao mundo, valorize e promova a vocação dos leigos e leigas, tanto na sociedade como na Igreja, reconhecendo sua fé como alicerce firme e evitando tratá-los como menores de idade ou dependentes. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaias 22,19-23 * Salmo 137 (138) * Carta aos Romanos 11,36-38 * Evangelho de São Mateus 16,13-20) 

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