sábado, 5 de maio de 2018

Seminário sobre a vida religiosa (3)


Seria melhor não ver nada, evitar ser tocado por este mundo?
Participando no debate com o professor Coutinho, a Ir. Francinete lembrou que, no Brasil, a VRC quer deixar-se iluminar pela profecia de Isaías e identificar sinais da novidade em gestação e sair às pressas onde a vida está clamando. E isso porque somos tocados e não podemos fazer de conta de quem não temos nada a ver com isso. Mas provocou a assembleia: Podemos dizer que, realmente, o mundo, a dor do outros me toca, dói em mim?
A Irmã Francinete leu a carta de um adolescente que, ao visitar uma casa de pessoas idosas e com visão reduzida, diz que preferia ser cego a ver o que tem que ver no cenário nacional. Mas, para a vida consagrada, não ver, não ouvir, não se tocar, pode ser mais cômodo e mais econômico, mas não gera compromisso, nem transforma, expressa a morte e leva à morte. 
Nossos Fundadores e Fundadoras nos inspiram porque foram pessoas que se deixaram tocar pela realidade, pela dor das vítimas, não conseguiram ficar indiferentes. Imaginaram caminhos e congregaram pessoas para sonhá-los e percorrê-los. Mas, não podemos negar, cada vez menos as dores da humanidade nos atingem, nos movem, provocam indignação e mobilização.
Vivemos num mundo no qual cada um assume a impossível missão de cuidar sozinho de si mesmo, sem poder contar com mais ninguém, plenamente ocupado em cuidar dele mesmo. E nos sentimos dispensados de cuidar de outro que não sejamos nós mesmos. Será que isso pode ser dito também dos nossos institutos religiosos?!
Para que a situação de desordem seja excelente, como afirmava Mao Tsé Tung, precisamos posicionarmo-nos corretamente. De que lado estamos? Não podemos fingir que não vemos, desistir de ver, pois esse não é um caminho cristão. Deixemo-nos tocar pelo mundo, para que nossa ação toque e transforme o mundo, a partir das vítimas.
Itacir Brassiani msf

Um comentário:

Rita Maria disse...

Oi Ita, como sempre textos super bem escritos, bem apanhandos - penso que no terceiro paragrafo, referindo-se aos' fundadorss'a ideia é que eles NÃO ficaram indiferentes...Bons encontros!