segunda-feira, 7 de maio de 2018

Seminário sobre a vida religiosa (6)


Espiritualidade da vida religiosa: o primeiro amor e o bem viver

Segundo o monge beneditino Dom Marcelo Barros, palestrante de hoje no Seminário da Vida Consagrada (Aparecida – SP), espiritualidade está relacionada sempre com santidade e sanidade, que é o oposto da “normose”, do ser doentiamente normal e adaptado às exigências culturais e institucionais, e tem a ver com vitalidade e dinamismo. Segundo ele, as instituições, inclusive as religiões e os votos, existem para nos levar à maturidade, ao bem viver; se não for para isso, não valem nada, devem ser jogadas fora. Se cremos e temos fé em Deus, é para não sermos normais, para nadar contra a corrente, para mudar, inovar, transformar. 
Depois de interrogar se podemos afirmar que há uma identidade religiosa, uma identidade da vida consagrada, dom Marcelo sublinhou que hoje as identidades são hoje são plurais e múltiplas, e, quando fechadas e enrijecidas, podem se tornar mortíferas (como aquilo que ocorre com as identidades fundamentalistas). Uma identidade desenha fronteiras, mas precisa fazê-la no respeito, no apreço e na admiração pelo Outro.
Para Marcelo Barros, o primeiro eixo dinâmico de uma espiritualidade da vida religiosa para os tempos atuais é manter o primeiro amor, aquele que moveu nossos primeiros passos e deve continuar movendo nossa vida hoje, nossa inserção na instituição, nossa militância e nossa missão. Esse primeiro amor nos ajudará a “reiventar” e viver a aliança, o deserto (resistência e luta interior, comunitária, política e social), o Evangelho como norma e prática de vida cotidiana, a caminhada toda (na sua dimensão itinerante, contestatória e revolucionária).
Enquanto eixo articulador da vida consagrada, o Evangelho arrasta-nos à profecia. Não podemos esquecer que o profeta Jesus não se contentou em ser contestador dos poderes políticos e estruturas econômicas do seu tempo, mas voltou sua atenção e a sua palavra forte e contestadora contra os desmandos das autoridades e estruturas religiosas. Então, como a vida consagrada pode viver e exercitar a profecia numa instituição eclesial que cede à autorreferencialidade e relativiza o Evangelho, e num mundo que idolatra o capital, numa cultura que postula o sacrifício da vida humana e da família das criaturas, que vê o outro sempre como ameaça e nunca como promessa, uma sociedade sem vínculos ou da “desvinculação”?
Segundo Marcelo Barros, faz parte do DNA da vida consagrada sua vocação de humanizar e fraternizar o mundo, de ser fator de aliança na complementaridade das diferenças e na riqueza da alteridade. E isso em Deus e com Deus, o que significa, a partir de um amor universalmente inclusivo, irrestrito e incondicional. A travessia necessária é aquela que leva de uma forma de amar marcadamente “egóica” e uma forma de amar essencialmente ecológica, sistêmica, relacional.
Itacir Brassiani msf

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