Espiritualidade
da vida religiosa: o primeiro amor e o bem viver
Segundo o monge
beneditino Dom Marcelo Barros, palestrante de hoje no Seminário da Vida
Consagrada (Aparecida – SP), espiritualidade está relacionada sempre com
santidade e sanidade, que é o oposto da “normose”, do ser doentiamente normal e
adaptado às exigências culturais e institucionais, e tem a ver com vitalidade e
dinamismo. Segundo ele, as instituições, inclusive as religiões e os votos,
existem para nos levar à maturidade, ao bem viver; se não for para isso, não
valem nada, devem ser jogadas fora. Se cremos e temos fé em Deus, é para não
sermos normais, para nadar contra a corrente, para mudar, inovar,
transformar.
Depois de
interrogar se podemos afirmar que há uma identidade religiosa, uma identidade
da vida consagrada, dom Marcelo sublinhou que hoje as identidades são hoje são
plurais e múltiplas, e, quando fechadas e enrijecidas, podem se tornar
mortíferas (como aquilo que ocorre com as identidades fundamentalistas). Uma
identidade desenha fronteiras, mas precisa fazê-la no respeito, no apreço e na
admiração pelo Outro.
Para Marcelo
Barros, o primeiro eixo dinâmico de uma espiritualidade da vida religiosa para
os tempos atuais é manter o primeiro amor, aquele que moveu nossos primeiros
passos e deve continuar movendo nossa vida hoje, nossa inserção na instituição,
nossa militância e nossa missão. Esse primeiro amor nos ajudará a “reiventar” e
viver a aliança, o deserto (resistência e luta interior, comunitária, política
e social), o Evangelho como norma e prática de vida cotidiana, a caminhada toda
(na sua dimensão itinerante, contestatória e revolucionária).
Enquanto eixo
articulador da vida consagrada, o Evangelho arrasta-nos à profecia. Não podemos
esquecer que o profeta Jesus não se contentou em ser contestador dos poderes
políticos e estruturas econômicas do seu tempo, mas voltou sua atenção e a sua
palavra forte e contestadora contra os desmandos das autoridades e estruturas
religiosas. Então, como a vida consagrada pode viver e exercitar a profecia numa
instituição eclesial que cede à autorreferencialidade e relativiza o Evangelho,
e num mundo que idolatra o capital, numa cultura que postula o sacrifício da
vida humana e da família das criaturas, que vê o outro sempre como ameaça e
nunca como promessa, uma sociedade sem vínculos ou da “desvinculação”?
Segundo Marcelo
Barros, faz parte do DNA da vida consagrada sua vocação de humanizar e
fraternizar o mundo, de ser fator de aliança na complementaridade das
diferenças e na riqueza da alteridade. E isso em Deus e com Deus, o que
significa, a partir de um amor universalmente inclusivo, irrestrito e incondicional.
A travessia necessária é aquela que leva de uma forma de amar marcadamente “egóica”
e uma forma de amar essencialmente ecológica, sistêmica, relacional.
Itacir
Brassiani msf
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