Que Jesus cure a
cegueira de parte dos eleitores brasileiros!
Estamos chegando ao final do mês que dedicamos à oração e à animação missionária,
e vivendo, neste domingo, o desfecho de uma conturbado e dramático processo
eleitoral. Cego pelo medo e pelo ódio, conduzido como gado marcado para morrer
por uma imprensa que detesta tudo o que representa avanço da cidadania, o povo
brasileiro corre o risco de aplaudir o torturador que o fere e de recusar a
democracia que assegura seus direitos. Precisamos abrir a boca e gritar com
coragem, pedindo que se abram nossos olhos, que o país acorde e se coloque a
caminho, que não brinque à beira do precipício.
Somos movidos pelo desejo, pelos sonhos, pelas utopias. O desejo
insaciável de plenitude, de bem viver e conviver, faz com que a pessoa humana
se coloque a caminho. Apagar este desejo, ou substituí-lo pela rasteira
satisfação de uma segurança feita sob medida para os fortes, equivale a começar
a morrer. O ser humano só fica sentado à beira da estrada e condena quem é
diferente quando ainda não alcançou sua própria maturidade ou quando teve
roubada a sua dignidade. Só quem ousa caminhar para além da situação presente é
capaz de recusar uma vida sustentada por migalhas de bem-estar e falsa
segurança.
O desejo mobilizador, criativo e emancipador é também o lugar do
encontro com Deus. Quem busca Deus fora da insaciável sede de plenitude e
convivência inclusiva e solidária acaba fabricando ídolos que só fazem
amedrontar os viventes e devorar vidas. É Deus quem nos fez sonhadores,
misturando o pó da terra ao sopro divino. E é nessa abertura radical que nada
pode preencher que ele costuma vir ao nosso encontro, acolhendo-a não como
sinal de nossos limites, mas como expressão do infinito que nos habita. É também
do adorável fundo desta condição de criaturas desejantes que brota a verdadeira
oração.
É na oração que revelamos nossos verdadeiros e mais profundos desejos.
Então, que é que andamos pedindo a Deus? E o que pedimos para nosso país? Dirigimo-nos
a Deus como se ele fosse um capitão pronto a eliminar, em nosso nome, as
pessoas e grupos que não nos agradam ou sentimos como ameaça? Confiamos a ele a
frágil economia e a duvidosa moral da nossa família e imploramos que dê
segurança às nossas poupanças e propriedades? Talvez cheguemos até a pedir paz,
segurança e sucesso à nossa Igreja na concorrência com as demais denominações,
que tratamos como concorrentes...
Como são pobres e medíocres estes desejos! Não passam de necessidades,
reais ou fantasiosas, geradas no ventre do medo. Por isso, quando se trata de
oração, não é suficiente pedir com insistência: é preciso desejar e pedir com
ousadia e corretamente grandes coisas! Venha a nós o vosso Reino! Seja feita a
vossa vontade! Democracia radical e respeito aos pobres. Bartimeu, que pede
esmolas à margem do caminho, começa pedindo compaixão àquele que carrega nas
próprias entranhas as esperanças dos pequenos. Antes de manifestar propriamente
um desejo, expressa sua própria condição de dor e alienação.
Apesar da contrariedade dos que o circundam e seguem, Jesus para e se dirige
ao cego e mendigo que implora: “O que você quer que eu faça por você?” Encorajado pelos discípulos, Bartimeu balbucia
um pedido que vem do fundo da condição humana, que espanta todos os medos e
exorciza todas limitações: “Mestre, eu quero ver de novo!” Neste pedido, ele
resume todas as suas necessidades e desejos: ver claramente as coisas, avaliar
com retidão os acontecimentos, vislumbrar o Reino de Deus chegando como graça, tomar
decisões políticas responsáveis à luz da razão ética e não dos medos e ódios...
Pouco antes, um jovem rico havia voltado atrás, entristecido, porque era
refém dos próprios bens (cf. Mc 10,17-22), e João e Tiago haviam expressado
seus sonhos de poder. Mas o cego Bartimeu se livra do único meio de
sobrevivência que possui e se aproxima de Jesus. E é essa fé ativa e dinâmica
que abre seus olhos. “Pode ir, a sua fé curou você!” E ele não volta para casa
ou para a caserna, mas põe-se a seguir Jesus. Mostra-se mais livre que o jovem
rico, que voltou atrás desiludido, e que João e Tiago, que desejam os primeiros
lugares. Que o povo brasileiro aprenda do cego de Jericó, peça a Jesus a
capacidade de ver, de entender e de jogar fora o manto dos grandes medos e
pequenas e falsas seguranças.
Jesus de Nazaré,
peregrino no santuário das dores e sonhos humanos! Escuta o grito que brota das
entranhas da terra e abre os nossos olhos para podermos reconhecer-te passando
por nossos caminhos. Converte os cristãos do Brasil, para que não ignorem os
desejos e sonhos que movem a humanidade. Desperta o povo brasileiro, para que
saiba escolher a democracia e a solidariedade, e não a violência e o fascismo.
E que ninguém cale em nós o grito desse desejo, mais forte que todas as razões,
mais glorioso que todas as luzes, mais vivo que todas as cores, mais nobre que
todas as honras. Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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