Nota de um
grupo de padres brasileiros quanto ao momento eleitoral
Queridos irmãos e irmãs!
Somos um grupo de padres que teme pelo destino político que
está sendo gestado para o Brasil. No corrente ano de 2018, depois de uma
campanha marcada por mentiras, “Fake News”, e por manifestações claras de ódio
e de indiferença quanto ao diálogo, nós queremos recordar ao povo que nos foi
entregue nossa firme convicção pelos valores evangélicos.
A fé cristã exige de nós uma firme postura diante do mal. Os
seguidores de Cristo não podem se permitir corromper por interesses, sejam eles
ideológicos ou econômicos. Muito mais escandaloso, então, é a possibilidade de
que os discípulos e discípulas de Jesus se permitam motivar pelo ódio contra as
minorias, já tão esmagadas em nosso país. Os pobres, sem teto, sem trabalho,
sem o mínimo de dignidade humana são nossos senhores e sem eles, nenhum de nós
poderá chegar à comunhão com Cristo (Mt 25,31-46).
Mas, as minorias são muitas nesse país marcado pela
desigualdade: os negros e quilombolas que enfrentam o preconceito e a
desigualdade de condições sociais; as comunidades indígenas que lutam para
sobreviver; os grupos LGBTs tão perseguidos, desrespeitados e marginalizados;
os imigrantes que buscam uma nova vida em nosso país; as mulheres que, ainda
hoje, ficam em cargos secundários na sociedade. Todos esses grupos, e todos
aqueles que sofrem injustiça são a presença de Cristo crucificado entre nós.
Tendo em vista essas realidades, sabedores que somos da
enorme crise ética pela qual passamos e pela desconfiança de grande parte da
população em relação às instituições democráticas, pedimos ao nosso povo que
não arrisque abrir mão da democracia, que a duras penas resgatamos após um
regime militar autoritário e ditatorial. Deixar de lado a democracia para
acolher e confiar num discurso de um candidato que possui uma fala extremamente
excludente e marcada pela violência, é abandonar o Evangelho e colocar a
esperança em falsos deuses.
A democracia brasileira é recente e precisa, constantemente,
ser melhorada. Mas, não esqueçamos que a democracia não é o regime político
onde a maioria manda e as minorias se calam. Ou, em casos extremos, onde a
maioria procura exterminar as minorias. A democracia é o sistema em que todos
têm seus direitos e deveres assegurados, pois cada ser humano é reconhecido em
sua dignidade.
Como pastores do povo de Deus que não podem deixar morrer a
voz profética da Igreja, pedimos ao nosso povo que não se permita manipular por
ideologias totalitárias. Os cristãos são movidos pelos valores do Evangelho,
são pobres de espírito, pacificadores, mansos de coração, têm fome e sede de
justiça, são misericordiosos, são construtores da paz e, se preciso for, são
perseguidos por defender esses valores que brotam do coração do Evangelho (Mt
5,1-11). Pedimos ao nosso povo que trabalhe pela paz e assegure a democracia
que garante nossa liberdade, abrindo mãos das lógicas de violência e de todo e
qualquer tipo de preconceito e de ódio.
(Pe. Itacir Brassiani msf, entre muitos)
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