“Este
pobre clama e o Senhor o escuta!”
MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O II
DIA MUNDIAL DOS POBRES (2)
O
Salmo caracteriza a atitude do pobre e a sua relação com Deus, por meio de três
verbos. O primeiro: clamar.
A condição de pobreza não se esgota numa palavra, mas torna-se um brado que atravessa
os céus e chega a Deus. O que exprime o brado dos pobres senão o seu sofrimento
e solidão, a sua desilusão e esperança? Podemos interrogar-nos: como é possível que este brado, que sobe à
presença de Deus, não consiga chegar aos nossos ouvidos e nos deixe
indiferentes e impassíveis? Num Dia como
este, somos chamados a fazer um sério exame de consciência para compreender se
somos verdadeiramente capazes de escutar os pobres.
Necessitamos
da escuta silenciosa para reconhecer a sua voz. Se nós falarmos demasiado, não
conseguiremos escutá-los. Muitas vezes, temo
que tantas iniciativas, apesar de meritórias e necessárias, visem mais
comprazer-nos a nós mesmos do que acolher verdadeiramente o clamor do pobre.
Se assim for, na hora em que os pobres fazem ouvir o seu brado, a reação não é
coerente, não é capaz de sintonizar com a condição deles. Vive-se tão encurralado numa cultura do indivíduo obrigado a olhar-se
ao espelho e a cuidar exageradamente de si mesmo, que se considera suficiente
um gesto de altruísmo para ficar satisfeito, sem se comprometer
diretamente.
Um
segundo verbo é responder.
O Salmista diz que o Senhor não só escuta o clamor do pobre, mas também
responde. A sua resposta é uma
intervenção cheia de amor na condição do pobre. Foi assim, quando Abraão
expressara a Deus o seu desejo de possuir uma descendência, apesar de ele e a
esposa Sara, já idosos, não terem filhos (cf. Gn 15, 1-6). O mesmo aconteceu quando Moisés, do fogo duma
sarça que ardia sem se consumir, recebeu a revelação do nome divino e a missão
de fazer sair o povo do Egito (cf. Ex 3,
1-15). E esta resposta confirmou-se ao longo de todo o caminho do povo pelo
deserto: tanto quando sentia os apertos da fome e da sede (cf. Ex 16, 1-16; 17, 1-7), como
quando caía na miséria pior, ou seja, na infidelidade à aliança e na idolatria
(cf. Ex 32, 1-14).
A resposta de Deus ao pobre é sempre uma
intervenção salvadora para cuidar das feridas da alma e do corpo, repor a
justiça e ajudar a retomar a vida com dignidade. A resposta de Deus é também um apelo para que toda a pessoa que
acredita n’Ele possa, dentro dos limites humanos, fazer o mesmo. O Dia
Mundial dos Pobres pretende ser uma pequena resposta, dirigida pela
Igreja inteira dispersa por todo o mundo, aos pobres de todo o gênero e de todo
o lugar a fim de não pensarem que o seu clamor caíra em saco roto.
Provavelmente, é como uma gota de água no deserto da pobreza; e contudo pode
ser um sinal de solidariedade para quantos passam necessidade a fim de sentirem
a presença ativa dum irmão ou duma irmã. Não é de um ato de delegação que os
pobres precisam, mas do envolvimento pessoal de quantos escutam o seu brado. A solicitude dos crentes não pode
limitar-se a uma forma de assistência – embora necessária e providencial
num primeiro momento –, mas requer
aquela atenção amiga que aprecia o outro como pessoa e procura o seu bem.
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