Lava Jato,
trair a Pátria não é crime?
Vender o país
não é corrupção?
(Discurso do Sem. Roberto Requião no
dia 30.10.2018)
O juiz Sérgio Moro sabe; o procurador Deltan Dallagnol tem plena ciência. Fui, neste plenário, o primeiro senador a apoiar e a conclamar o apoio à Operação Lava Jato. Assim como fui o primeiro a fazer reparos aos seus equívocos e excessos.
Mas, sobretudo, desde o início,
apontei a falta de compromisso da Operação, de seus principais operadores, com
o país. Dizia que o combate à corrupção descolado da realidade dos fatos
da política e da economia do país era inútil e enganoso.
E por que a Lava Jato se apartou,
distanciou-se dos fatos da política e da economia do Brasil? Porque a Lava Jato
acabou presa, imobilizada por sua própria obsessão; obsessão que toldou,
empanou os olhos e a compreensão dos heróis da operação ao ponto de eles não
despertarem e nem reagirem à pilhagem criminosa, desavergonhada do país.
Querem um exemplo assombroso, sinistro
dessa fuga da realidade? Nunca aconteceu na história do Brasil de um presidente
ser denunciado por corrupção durante o exercício do mandato. Não apenas ele.
Todo o entorno foi indigitado e
denunciado. Mas nunca um presidente da República desbaratou o patrimônio
nacional de forma tão açodada, irresponsável e suspeita, como essa Presidência
denunciada por corrupção.
Vejam. Só no último o leilão do
petróleo, esse governo de denunciado como corrupto, abriu mão de um trilhão de
reais de receitas.
Um trilhão, Moro! Um trilhão, Dallagnoll! Um trilhão, Polícia
Federal! Um trilhão, PGR! Um trilhão, Supremo, STJ, Tribunais Federais,
Conselhos do Ministério Público e da Justiça. Um trilhão, brava gente da OAB!
Um trilhão de isenções graciosamente
cedidas às maiores e mais ricas empresas do planeta Terra. Injustificadamente.
Sem qualquer amparo em dados econômicos, em projeções de investimentos, em
retorno de investimentos. Sem o apoio de estudos sérios, confiáveis.
Nada! Absolutamente nada!
Foi um a doação escandalosa. Uma
negociata impudica. Abrimos mão de dinheiro suficiente para cobrir todos
os alegados déficits orçamentários, todos os rombos nas tais contas públicas.
Abrimos mão do dinheiro essencial, vital para a previdência, a saúde, a educação, a segurança, a habitação e o saneamento, as estradas, ferrovias, aeroportos, portos e hidrovias, para os próximos anos.
Mas suas excelentíssimas excelências
acima citadas não estão nem aí. Por que, entendem, não vem ao caso?
Na década de 80, quando as montadoras
de automóveis, depois de saturados os mercados do Ocidente desenvolvido,
voltaram os olhos para o Sul do mundo, os governantes da América Latina, da
África, da Ásia entraram em guerra para ver quem fazia mais concessões, quem
dava mais vantagens para “atrair” as fábricas de automóveis.
Lester Turow, um dos papas da
globalização, vendo aquele espetáculo deprimente de presidentes, governadores,
prefeitos a oferecer até suas progenitoras para atrair uma montadora de automóvel,
censurou- os, chamando-os de ignorantes por desperdiçarem o suado dinheiro dos
impostos de seus concidadãos para premiarem empresas biliardárias.
Turow dizia o seguinte: qualquer
primeiroanista de economia, minimamente dotado, que examinasse um mapa do
mundo, veria que a alternativa para as montadoras se expandirem e sobreviverem
estava no Sul do Planeta Terra. Logo, elas não precisavam de qualquer incentivo
para se instalarem na América Latina, Ásia ou África. Forçosamente viriam para cá.
No entanto, governantes estúpidos,
bocós, provincianos, além de corruptos e gananciosos deram às montadoras mundos
e fundos.
Conto aqui uma experiência pessoal:
eu era governador do Paraná e a fábrica de colheitadeiras New Holland, do Grupo
Fiat, pretendia instalar- se no Brasil, que vivia à época o boom da produção de
grãos.
A Fiat balançava entre se instalar no
Paraná ou Minas Gerais. Recebo no palácio um dirigente da fábrica italiana, que
vai logo fazendo numerosas exigências para montar a fábrica em meu estado.
Queria tudo: isenções de impostos, terreno, infraestrutura, berço especial no
porto de Paranaguá, e mais algumas benesses.
Como resposta, pedi ao meu chefe de
gabinete uma ligação para o então governador de Minas Gerais, o Hélio Garcia.
Feito o contanto, cumprimento o governador: “Parabéns, Hélio, você acaba de
ganhar a fábrica da New Holland”. Ele fica intrigado e me pergunta o que havia
acontecido.
Explico a ele que o Paraná não
aceitava nenhuma das exigências da Fiat para atrair a fábrica, e já que Minas
aceitava, a fábrica iria para lá.
O diretor da Fiat ficou pasmo e se retirou. Dias depois, ele aparece e comunica que a New Holland iria se instalar no Paraná.
Por que? Pela obviedade dos fatos: o Paraná à época, era o maior
produtor de grãos do Brasil e, logo, o maior consumidor de colheitadeiras do
país; a fábrica ficaria a apenas cem quilômetros do porto de Paranaguá;
tínhamos mão-de-obra altamente especializada e assim por diante.
Enfim, o grande incentivo que o Paraná oferecia era o mercado.
Enfim, o grande incentivo que o Paraná oferecia era o mercado.
O que me inspirou trucar a Fiat? O
conselho de Lester Turow e o exemplo de meu antecessor no governo, que atraiu a
Renault, a Wolks e a Chrysler a peso de ouro e às custas dos salários dos
metalúrgicos paranaenses, pois o governador de então chegou até mesmo negociar
os vencimentos dos operários, fixando-os a uma fração do que recebiam os
trabalhadores paulista. Mundos e fundos, e um retorno pífio.
trabalhadores paulista. Mundos e fundos, e um retorno pífio.
Pois bem, voltemos aos dias de hoje,
retornemos à história, que agora se reproduz como um pastelão. O pré-sal, pelos
custos de sua extração, coisa de sete dólares o barril, é moranguinho com nata,
uma mamata só!
A extração do óleo xisto, nos Estados Unidos, o shale oil , chegou a custar até 50 dólares o barril; O petróleo extraído pelos canadenses das areias betuminosas sai por 20 a 30 dólares o barril; as petrolíferas, as mesmas que vieram aqui tomar o nosso pré-sal, fecharam vários projetos de extração de petróleo no Alasca porque os custos ultrapassavam os 40 dólares o barril.
A extração do óleo xisto, nos Estados Unidos, o shale oil , chegou a custar até 50 dólares o barril; O petróleo extraído pelos canadenses das areias betuminosas sai por 20 a 30 dólares o barril; as petrolíferas, as mesmas que vieram aqui tomar o nosso pré-sal, fecharam vários projetos de extração de petróleo no Alasca porque os custos ultrapassavam os 40 dólares o barril.
Quer dizer: como no caso das
montadoras, era natural, favas contadas que as petrolíferas enxameassem, como
abelhas no mel, o pré-sal. Com esse custo, quem não seria atraído?
Por que então, imbecis, por que
então, entreguistas de uma figa, oferecer mais vantagens ainda que a já enorme,
incomparável e indisputável vantagem do custo da extração?
Mais um dado, senhoras e senhores da
Lava Jato, atrizes e atores daquele malfadado filme: vocês sabem quanto o
governo arrecadou com o último leilão? Arrecadou o correspondente a um
centavo de real por litro leiloado.
Um centavo, Moro! Um centavo, Dallagnoll! Um centavo, Carmem
Lúcia! Um centavo, Raquel Dodge! Um
centavo, ínclitos delegados da Policia Federal!
Esse governo de meliantes faz isso e
vocês fazem cara de paisagem, viram o rosto para o outro lado.
Já sei, uma das razões para essa omissão indecente certamente é, foi e haverá de ser a opinião da mídia. Com toda a mídia comercial, monopolizada por seis famílias, todas a favor desse leilão rapinante, como os senhores e as senhoras iriam falar qualquer coisa, não é? Não pegava bem contrariar a imprensa amiga, não é, lavajatinos?
Renovo a pergunta: desbaratar o suado
dinheiro que é esfolado dos brasileiros via impostos e dar isenção às empresas
mais ricas do planeta é um ou não é corrupção? Entregar o preciosíssimo
pré-sal, o nosso passaporte para romper com o subdesenvolvimento, é ou não é
suprema, absoluta, imperdoável corrupção? É ou não uma corrupção inominável
reduzir o salário mínimo e isentar as petroleiras? Será, juízes, procuradores,
policiais federais, defensores públicos, será que as senhoras e os senhores são
tão limitados, tão fronteiriços, tão pouco dotados de perspicácia e patriotismo
ao ponto de engolirem essa roubalheira toda sem piscar?
Bom, eu não acredito, como alguns
chegam a acusar, que os senhores e as senhoras são quintas-colunas, agentes
estrangeiros, calabares, joaquins silvérios ou, então, cabos anselmos.
Não, não acredito.
Não acredito, mas a passividade das
senhoras e dos senhores diante da destruição da soberania nacional, diante da
submissão do Brasil às transnacionais, diante da liquidação dos direitos
trabalhistas e sociais, diante da reintrodução da escravatura no país?.
essa passividade incomoda e desperta desconfianças, levanta suspeitas.
Pergunto, renovo a pergunta: como pode um país ser comandado por uma quadrilha, clara e
explicitamente uma quadrilha, e tudo continuar como se nada estivesse
acontecendo?
Responda, Moro. Responda, Dallagnoll. Responda, Carmem Lúcia.
Responda, Raquel Dodge. Respondam, oh, ínclitos e severos ministros do Tribunal de Contas da União que ajudaram a derrubar uma presidente honesta.
Responda, Raquel Dodge. Respondam, oh, ínclitos e severos ministros do Tribunal de Contas da União que ajudaram a derrubar uma presidente honesta.
Respondam, oh guardiões da moral, da
ética, da honestidade, dos bons costumes, da família, da propriedade e da
civilização cristã ocidental.
Respondam porque denunciaram,
mandaram prender, processaram e condenaram tantos lobistas, corruptores de
parlamentares e de dirigentes de estatais, mas pouco se dão se, por exemplo,
lobistas da Shell, da Exxon e de outras petroleiras estrangeiras circulem pelo
Congresso obscenamente, a pressionar, a constranger parlamentares em defesa da entrega do pré-sal, e do desmantelamento indústria nacional do óleo e do gás?
Congresso obscenamente, a pressionar, a constranger parlamentares em defesa da entrega do pré-sal, e do desmantelamento indústria nacional do óleo e do gás?
Eu vi, senhoras e senhores. Eu vi com que
liberdade e desfaçatez o lobista da Shell, semanas atrás, buscava angarias
votos para aprovar a maldita, indecorosa MP franqueando todo o setor industrial
nacional do petróleo à predação das multinacionais.
Já sei, já sei, isso não vem, ao
caso... Fico cá pensando o que esses rapazes e essas moças, brilhantíssimos
campeões de concursos públicos, fico pensando o que eles e elas conhecem de
economia, da história e dos impasses históricos do desenvolvimento brasileiro?
Será que eles são tão tapados ao
ponto de não saberem que sem energia, sem indústria, sem mercado consumidor,
sem sistema financeiro público, para alavancar a economia, sem
infraestrutura não há futuro para qualquer país que seja? Esses são os ativos
imprescindíveis para o desenvolvimento, para a remissão do atraso, para o
bem-estar social e para a paz social. Sem esses ativos, vamos nos escorar no quê? Na produção e
exportação de commodities? Ora?
Mas, os nossos bravos e bravas
lavajatinos não consideram o desbaratamento dos ativos nacionais uma forma de
corrupção.
Senhoras, senhores, estamos falando
da venda subfaturada –ou melhor, da doação- do país todo! Todo!
E quem o vende? Um governo atolado, completamente submerso na corrupção. E para que vende? Para comprar parlamentares e assim escapar de ser julgado por
corrupção.
Depois de jogar o petróleo pela
janela, preparando assim o terreno para a nossa perpetuação no
subdesenvolvimento, o governo aproveita a distração de um feriado prolongado e
coloca em hasta pública o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a Eletrobrás, a
Petrobrás e que mais seja de estatal. Ladrões de dinheiro público vendendo o patrimônio público.
Pode isso, Moro? Pode isso, Dallagnoll? Pode isso, Carmem
Lúcia? Pode isso, Raquel Dodge? Ou devo perguntar para o Arnaldo?
À véspera do leilão do pré-sal,
semana passada, tive a esperança de que algum juiz intrépido ou algum
procurador audacioso, iluminados pelos feéricos, espetaculosos exemplos da Lava
Jato, impedissem esse supremo ato de corrupção praticado por um governo
corrupto.
Mas, como isso não vinha ao caso,
nada tinha com os pedalinhos, o tríplex, as palestras, o aluguel do
apartamento, nenhum juiz, nenhum procurador, nenhum delegado da polícia
federal, e nem aquele rapaz do TCU, tão rigoroso com a presidente Dilma,
ninguém enfim, se lixou para o esbulho.
Ah, sim, não estava também no power point?.
É com desencanto e o mais profundo
desânimo que pergunto: por que Deus está sendo tão duro assim com o
Brasil.
*Roberto Requião é senador da República no segundo mandato. Foi governador de estado por 3 mandatos, 12 anos, prefeito de Curitiba, secretário de estado, deputado, industrial, agricultor, oficial do exército brasileiro e advogado de movimento sociais. É graduado em direito e jornalismo com pós graduação em urbanismo e comunicação.
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