As nossas contradições verde-amarelas
Quando
lemos o profeta Isaías, aprendemos que Deus exige que nossas ações não se
orientem por compreensões de justiça excludentes. Atualizando as palavras do
profeta Isaías, poderíamos dizer que de
nada vale seguir todos os preceitos cristãos, ler a bíblia todos os dias, se
continuamos sendo racistas e rechaçando as pessoas pobres. Não é possível falar em justiça quando um
pequeno grupo de pessoas é muito rico e um número grande de pessoas é muito
pobre. Da mesma forma, não é possível
falar em justiça quando pessoas detêm privilégios por causa da cor de sua pele.
Não
há justiça quando pessoas indígenas e negras são impedidas de acessar
territórios, de viver sua espiritualidade originária ou de frequentar escolas e
universidades. Neste exato momento, acompanhamos o crime praticado contra o
povo Yanomani no Estado de Roraima. Se nosso país fosse justo, crianças, adultos
e pessoas idosas não estariam morrendo de fome por causa da ganância de poucos
e da ausência do Estado em garantir o direito a território para os povos
originários. Nós vivemos as contradições
denunciadas pelo profeta Isaías.
Justiça,
retidão e unidade têm sua origem no profundo amor de Deus por nós. A justiça, a retidão e a unidade estão no coração do
que Deus é e o que Deus espera que sejamos uns para os outros. A
concretização da promessa de Deus, de uma nova humanidade em que “todas as
nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9) vivam em paz exige que aprendamos a
fazer o bem, procuremos a justiça, chamemos à razão o espoliador, façamos justiça
ao órfão, defendamos a viúva” (Is 1,17).
A
crítica do profeta à religiosidade de seu tempo é direta e forte. Ele diz: “Cessai
de trazer oferendas vãs: à fumaça (incenso) tenho horror… Quando estendeis as
mãos cubro os olhos” (Is 1. 13-15). Ao analisar e criticar a sociedade de seu
tempo, o profeta propõe alternativas para que a justiça seja, de fato,
praticada. Ele orienta as pessoas dizendo: “lavai-vos, purificai-vos. Tirai do
alcance do meu olhar vossas más ações; cessai de fazer o mal” (Is 1.16).
A segregação fere gravemente o
povo brasileiro
A
mesma segregação denunciada pelo profeta Isaías está presente entre nós.
Podemos vê-la em todos os contextos em que um grupo ou classe têm acesso a
privilégios e outros não. O pecado do
racismo é a expressão maior da arquitetura do mal, porque ele compreende
que uma determinada “raça” é melhor do que a outra, organizando a sociedade a
partir deste princípio. O Brasil é um
exemplo de uma arquitetura social racista.
A população brasileira é formada por 55% de pessoas negras e pardas. No
entanto, quando olhamos onde estão as pessoas negras e pardas, vemos que a maioria
está nas favelas.
Assim
como em Minnesota (onde foi preparado o tema da Semana de Oração pela Unidade),
também aqui, as pessoas negras são os alvos preferenciais da polícia. Tanto os povos indígenas quanto as pessoas
negras são impactadas por políticas racistas que negam o acesso ao território e
o seu direito de viver conforme seus costumes e tradições. As experiências
de democracia que tivemos no Brasil não foram suficientes para desestruturar o
racismo que sustenta a desigualdade.
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