terça-feira, 23 de maio de 2023

Semana de Oração pela Unidade Cristã (2)

 As nossas contradições verde-amarelas

Quando lemos o profeta Isaías, aprendemos que Deus exige que nossas ações não se orientem por compreensões de justiça excludentes. Atualizando as palavras do profeta Isaías, poderíamos dizer que de nada vale seguir todos os preceitos cristãos, ler a bíblia todos os dias, se continuamos sendo racistas e rechaçando as pessoas pobres.  Não é possível falar em justiça quando um pequeno grupo de pessoas é muito rico e um número grande de pessoas é muito pobre. Da mesma forma, não é possível falar em justiça quando pessoas detêm privilégios por causa da cor de sua pele.

Não há justiça quando pessoas indígenas e negras são impedidas de acessar territórios, de viver sua espiritualidade originária ou de frequentar escolas e universidades. Neste exato momento, acompanhamos o crime praticado contra o povo Yanomani no Estado de Roraima. Se nosso país fosse justo, crianças, adultos e pessoas idosas não estariam morrendo de fome por causa da ganância de poucos e da ausência do Estado em garantir o direito a território para os povos originários. Nós vivemos as contradições denunciadas pelo profeta Isaías.

Justiça, retidão e unidade têm sua origem no profundo amor de Deus por nós. A justiça, a retidão e a unidade estão no coração do que Deus é e o que Deus espera que sejamos uns para os outros. A concretização da promessa de Deus, de uma nova humanidade em que “todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9) vivam em paz exige que aprendamos a fazer o bem, procuremos a justiça, chamemos à razão o espoliador, façamos justiça ao órfão, defendamos a viúva” (Is 1,17).

A crítica do profeta à religiosidade de seu tempo é direta e forte. Ele diz: “Cessai de trazer oferendas vãs: à fumaça (incenso) tenho horror… Quando estendeis as mãos cubro os olhos” (Is 1. 13-15). Ao analisar e criticar a sociedade de seu tempo, o profeta propõe alternativas para que a justiça seja, de fato, praticada. Ele orienta as pessoas dizendo: “lavai-vos, purificai-vos. Tirai do alcance do meu olhar vossas más ações; cessai de fazer o mal” (Is 1.16).

 

A segregação fere gravemente o povo brasileiro

A mesma segregação denunciada pelo profeta Isaías está presente entre nós. Podemos vê-la em todos os contextos em que um grupo ou classe têm acesso a privilégios e outros não. O pecado do racismo é a expressão maior da arquitetura do mal, porque ele compreende que uma determinada “raça” é melhor do que a outra, organizando a sociedade a partir deste princípio. O Brasil é um exemplo de uma arquitetura social racista.  A população brasileira é formada por 55% de pessoas negras e pardas. No entanto, quando olhamos onde estão as pessoas negras e pardas, vemos que a maioria está nas favelas.

Assim como em Minnesota (onde foi preparado o tema da Semana de Oração pela Unidade), também aqui, as pessoas negras são os alvos preferenciais da polícia. Tanto os povos indígenas quanto as pessoas negras são impactadas por políticas racistas que negam o acesso ao território e o seu direito de viver conforme seus costumes e tradições. As experiências de democracia que tivemos no Brasil não foram suficientes para desestruturar o racismo que sustenta a desigualdade.

 

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