Rever a história e superar as
ideologias tóxicas
O racismo divide o corpo de
Cristo, porque é uma ideologia tóxica, assim como é toxica a ideia da
supremacia branca e a “doutrina da descoberta das Américas”, legitimada por uma
bula papal de 1493. Esta bula papal justificou a apropriação de terras de povos
indígenas, dizendo, erroneamente, que os colonialistas tinham descoberto terras
não habitadas. Até hoje, os países que formam as Américas do Sul, Central e do
Norte vivem as consequências do colonialismo europeu. Como pessoas cristãs,
cabe-nos a revisão desta história.
Nossa fé foi capturada pelo
colonialismo a fim de legitimar crimes racistas. O
profeta Isaías, ao nos conclamar a “aprender a fazer o bem, procurar a justiça,
chamar à razão o espoliador, fazer justiça ao órfão, defender a viúva” (Is
1,17), está nos convocando a libertar a
fé cristã do sentimento de hegemonia e superioridade, pois tanto a ideia
hegemonia, quanto a de superioridade, fazem com que sigamos perpetuando o
racismo.
O
período em que o grupo de Minnesota preparou o texto para a Semana de Oração
pela Unidade Cristã foi marcado pela maldade, pela devastação e pela opressão
em diferentes partes do mundo. Esse sofrimento foi amplificado, especialmente
no Sul Global, pela pandemia de Covid-19. Esta pandemia e a ausência de
políticas públicas de amparo às pessoas economicamente vulneráveis deixaram
milhares de pessoas sem o mínimo para a subsistência básica. O autor do
Eclesiastes parece estar falando de uma experiência assim: “Vi, ainda, todas as
opressões praticadas sob o sol. Eis: as lágrimas dos oprimidos, e não há para
eles consolador; a força, do lado dos opressores, e não há para eles consolador”
(Ecl 4,1).
O
racismo e suas consequências são nocivos para a humanidade inteira. Ao
orarmos pela unidade cristã, precisamos abrir os olhos, os ouvidos, as mentes e
os corações para as opressões geradas pelo racismo, comprometendo-nos com o
antirracismo. Ser antirracista é uma resposta concreta ao amor de Deus por nós.
A exortação do profeta Isaías “lavai-vos, purificai-vos” porque “vossas mãos
estão cheias de sangue” (Is 1,15.16) também é dirigida para nós.
Socorrer os oprimidos
A
Bíblia nos diz que não podemos separar nosso relacionamento com Cristo da nossa
atitude em relação ao nosso semelhante, particularmente, os que são
considerados “os mais pequeninos” (Mt 25,40). O nosso compromisso de uns com os
outros requer um envolvimento com a ‘mishpat’,
que é a palavra hebraica para justiça restaurativa.
Praticar
a justiça restaurativa significa defender aquelas pessoas cujas vozes são
silenciadas ou abafadas, desmantelando estruturas que criam e alimentam
iniquidades. A justiça restaurativa contribui para a construção de estruturas
capazes de promover e garantir que todas as pessoas recebam tratamento igual e
tenham seus direitos respeitados. A justiça restaurativa precisa se estender
além de nossos amigos, família e congregações, abrangendo o conjunto da
humanidade.
A
fé em Jesus Cristo exige que saiamos de nossas zonas de conforto para que o
grito das pessoas que sofrem os impactos das políticas e práticas racistas nos
desacomode. Para isso, é fundamental termos a consciência de que a estrutura
social racista é uma consequência da ambição, de poder e lucro, de uma elite
branca.
O
reverendo Martin Luther King frequentemente declarou que “uma revolta é a
linguagem dos que não são ouvidos”. Quando protestos e movimentos civis se
erguem, é frequentemente porque a voz dos que protestam não está sendo ouvida.
Se
as Igrejas unirem suas vozes às vozes das pessoas oprimidas, o grito por
justiça e libertação das pessoas excluídas será amplificado. É nosso dever de fé servir e amar a Deus, e
a pessoa próxima, tornando-nos antirracistas. Defender o órfão, zelar pela
viúva. As viúvas, as crianças órfãs e pessoas estrangeiras ocupam um lugar
especial na Bíblia hebraica. Estes são os grupos que representam as pessoas em
vulnerabilidade nos tempos bíblicos.
1) Olhando
ao nosso redor, quem são, onde estão e como vivem as pessoas vulnerabilizadas?
2) Que
vozes não estão sendo ouvidas em nossas comunidades? Quem não está sentado à
mesa? Por quê?
3) Que
igrejas, comunidades e religiões estão fora de nossos diálogos, de nossa ação
comum e de nossa oração pela unidade?
4) O que
gostaríamos de fazer a respeito dessas presenças ausentes?
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