O que nos salva
é a compaixão livre e generosa
858 | 06 de outubro de 2025 | Lucas 10,25-37
Por
trás da pergunta que o mestre da lei dirige a Jesus sobre como ganhar a vida
eterna está uma ideia muito particular sobre o significado da salvação e o
caminho que conduz a ela. Não esqueçamos que a discussão que perpassa os
evangelhos é sobre o caminho mais direto e seguro para salvação: seria a
submissão à lei, como ensinavam os escribas e fariseus, ou haveria outro
caminho?
Para Jesus, o caminho
da salvação não passa pelo cumprimento escrupuloso da lei, mas pela compaixão com
todas vítimas e sofredores, mediante ações concretas de solidariedade. Na vida
de Jesus, e na vida de quem o segue, não há lugar para a indiferença diante do
sofrimento humano. Para ele, o amor pleno a Deus se concretiza na ação
impostergável e generosa, sem agenda, em benefício das vítimas e de todas as pessoas
necessitadas. Esta é a reposta de Jesus ao doutor da lei.
Mas a pergunta dele também
a verdadeira discussão, que é sobre quem é o nosso próximo. Ressoam aqui as
perguntas do primeiro livro das escrituras sobre “onde está o meu irmão?” e “o
que eu tenho a ver com ele?” Quem repete estas perguntas e não toma uma atitude
concreta perdeu o rumo e o ritmo da vida cristã. Como resposta, Jesus não
acrescenta mais uma norma ao monte de leis que existiam, mas estabelece uma
perspectiva nova e exigente de toda lei que queira ter fundamento.
Para Jesus, a
solidariedade concreta e desinteressada substituiu todas as leis, e vale mais
que culto e as instituições. E o samaritano – considerado herético, bastardo e
impuro pelos judeus de Jerusalém – está mais próximo de Deus que o sacerdote e
o levita, porque se aproxima da pessoa ferida e se compadece dela, enquanto que
o sacerdote e o levita, obcecados pelas leis e pelo templo, se afastam dela. Há
uma oposição entre fazer-se próximo e afastar-se sem se importar.
Jesus inverte a pergunta do especialista da lei, e pergunta pelo
sujeito e não pelo objeto do amor ao próximo. Com a parábola Jesus não quer
apresentar apenas um belo exemplo, mas abrir uma nova perspectiva. O amor
concreto e solícito é definido e na nossa resposta à pessoa necessitada, que
pode ser até inimiga. O amor nos faz livres e criativos! O paradoxo é que o
protótipo do amor salvífico é a pessoa mais desprezada, e o doutor da lei deve
imitá-lo...
Sugestões para a
meditação
§ Releia
atentamente o texto, observando a astúcia do escriba e a sabedoria espiritual e
humana de Jesus
§ Visualize
a cena da parábola e participe dela, lembrando que os samaritanos eram
desprezados e os sacerdotes idealizados
§ Será
que nós também não nos distraímos e dispensamos do amor ao próximo em
discussões estéreis sobre quem são eles?
§ Em
que medida nós e nossas comunidades não deixamos de lado a compaixão para
priorizar as leis e o culto?
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