terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Desafios atuais à Vida Religiosa (3)

Desafio 3: Reencontrar a eloquência do testemunho


Há mais de 50 anos o Concílio Vaticano II insiste que a natureza da vida religiosa é de ordem simbólica, que sua vocação é ser sinal (da vida cristã, da Igreja, do Evangelho, de Jesus, do Reino futuro, de uma humanidade reconciliada e renovada). Mas um dos fatores da crise experimentada diante envelhecimento e da diminuição numérica da Vida Religiosa, e também de outras situações que deprimem, é a ambiguidade ou o hermetismo das mensagens que temos passado à Igreja e à sociedade.

Precisamos admitir que faz tempo que, por mais que multipliquemos e modernizemos as mensagens explícitas, nossos contemporâneos não conseguem decifrar um sentido forte e atraente nas mensagens indesejavelmente criptografadas que passamos. Alguns até apreciam a vida religiosa por sua contribuição social ou cultural, mas a vêem como são vistos os edifícios históricos: estão ali, destacados, como memória de um passado que não existe mais; são interessantes para visitas e como museus, mas ninguém deseja habitá-los...

A saída não é, obviamente, restaurar fachadas de época, envernizar móveis antigos, usar meios modernos e tecnicamente eficientes para transmitir uma velha mensagem. O desafio é rever o fundamento sobre o qual construímos o edifício, seu projeto arquitetônico; ou avaliar a seiva que circula (ou não) no tronco e nos galhos: é o Evangelho da simplicidade, da solidariedade e da alegria que circula nas suas veias? Se é a seiva do evangelho que circula em nós, deveria dar mais verdor às folhas e mais cor e sabor aos frutos...

Um dos aspectos ou elementos da Vida Religiosa que precisa de uma urgente ressignificação são os votos. Quem não prova um certo desconcerto quando deve explicar a familiares e, especialmente, ao povo comum, o que significam os votos de castidade, pobreza e obediência? Por um lado, temos a impressão de que o conteúdo que colocamos dentro destes conceitos são pouco evangélicos. E, por outro lado, temos a sensação de que o essencial do Evangelho para o nosso tempo não cabe mais nestas três palavras...

Ou os votos que professamos são sonhos que descobrimos na alma e nas mais secretas e vitais utopias do povo e assumimos e antecipamos em nossas comunidades, ou são resquícios de um tempo que não existe mais e, pior ainda, obstáculos que se interpõem entre nós e o Evangelho da humanização. Se não tiverem raízes e ressonâncias na vida real do nosso povo e no Evangelho, os votos aparecerão aos olhos  nossos e dele como uma mensagem incompreensível e desprezível. E a Vida Religiosa perderá irremediavelmente sua eloquência e significado para os homens e mulheres de hoje.
Itacir Brassiani msf

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