Desafio 3: Reencontrar
a eloquência do testemunho
Há mais de 50 anos o Concílio Vaticano II insiste que
a natureza da vida religiosa é de ordem
simbólica, que sua vocação é ser sinal (da vida cristã, da Igreja, do
Evangelho, de Jesus, do Reino futuro, de uma humanidade reconciliada e
renovada). Mas um dos fatores da crise experimentada diante envelhecimento e da
diminuição numérica da Vida Religiosa, e também de outras situações que
deprimem, é a ambiguidade ou o hermetismo das mensagens que temos passado à
Igreja e à sociedade.
Precisamos admitir que faz tempo que, por mais que multipliquemos
e modernizemos as mensagens explícitas, nossos contemporâneos não conseguem
decifrar um sentido forte e atraente nas mensagens indesejavelmente
criptografadas que passamos. Alguns até apreciam a vida religiosa por sua
contribuição social ou cultural, mas a vêem como são vistos os edifícios
históricos: estão ali, destacados, como memória de um passado que não existe
mais; são interessantes para visitas e como museus, mas ninguém deseja
habitá-los...
A saída não é, obviamente, restaurar fachadas de
época, envernizar móveis antigos, usar meios modernos e tecnicamente eficientes
para transmitir uma velha mensagem. O desafio é rever o fundamento sobre o qual
construímos o edifício, seu projeto arquitetônico; ou avaliar a seiva que
circula (ou não) no tronco e nos galhos: é o Evangelho da simplicidade, da
solidariedade e da alegria que circula nas suas veias? Se é a seiva do
evangelho que circula em nós, deveria dar mais verdor às folhas e mais cor e
sabor aos frutos...
Um dos aspectos ou elementos da Vida Religiosa que
precisa de uma urgente ressignificação são os votos. Quem não prova um certo
desconcerto quando deve explicar a familiares e, especialmente, ao povo comum,
o que significam os votos de castidade, pobreza e obediência? Por um lado,
temos a impressão de que o conteúdo que colocamos dentro destes conceitos são
pouco evangélicos. E, por outro lado, temos a sensação de que o essencial do
Evangelho para o nosso tempo não cabe mais nestas três palavras...
Ou os votos que professamos são sonhos que descobrimos
na alma e nas mais secretas e vitais utopias do povo e assumimos e antecipamos
em nossas comunidades, ou são resquícios de um tempo que não existe mais e,
pior ainda, obstáculos que se interpõem entre nós e o Evangelho da humanização.
Se não tiverem raízes e ressonâncias na vida real do nosso povo e no Evangelho,
os votos aparecerão aos olhos nossos e
dele como uma mensagem incompreensível e desprezível. E a Vida Religiosa perderá
irremediavelmente sua eloquência e significado para os homens e mulheres de
hoje.
Itacir Brassiani msf
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