segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Desafios atuais à Vida Religiosa (4)

Desafio 4: Ser espaço e laboratório de fraternidade

A organização da vida em parâmetros de irmandade e de comunhão faz parte da conversão ao Evangelho de Jesus Cristo. Desde cedo, a aventura da Vida Religiosa levou isso a sério e consagrou esse desejo nos apelativos que adotou: Irmão, Irmã, Frei, Frade. Os títulos de padre, madre, abade, prior, abadessa, por um momento vitalícios, foram cedendo lugar à transitoriedade e recebendo o caráter de serviço. E surgiu o instituto da eleição temporária dos Superiores. Mesmo com denominações diversas, o ideal comunitário progressivamente recebeu força institucional em todas as formas de vida religiosa.

Num momento cultural e político no qual construir muros que discriminam pessoas e impedem movimentos e encontros é bem mais que uma tentação, a substancial abertura a relações de acolhida e reconhecimento das diferenças é um evangelho que enriquece e fala com eloquência. Numa cultura que prima pelo individualismo e vê o outro como incômodo a ser evitado ou personagem a ser descartado, a busca positiva de comunidades de iguais é fator de uma humanidade renovada e reconciliada.

Quando a vida é apresentada como uma espécie de mercado onde tudo se compra e se consome, e no qual cada um faz o que quer com os bens dos quais se apropria privadamente, a comunhão de bens, a universalização da gratuidade e a busca da sobriedade vivida em comunidade são uma urgência e uma forma de evitar a ruína total do mundo e de apressar o nascimento do outro mundo possível. É claro que, enquanto valor evangélico e dinamismo espiritual, a comunhão é muito mais que a sua estruturação em comunidades.

Mas a fraternidade e a comunhão precisam evitar a tentação da simples redução a uma comunidade de trabalho e de acúmulo, ou, em outra versão, numa espécie de asilo afetivo, no qualos indivíduos procuram alargar o próprio Eu e desfrutar ao máximo a acolhida incondicional que espera e exige do outro. A comunidade de vida e de bens, quando de matriz evangélica, traz as marcas da missão e da pádcoa: urge criar e recriar permanentemente comunidades na missão e para a missão, nas quais os membros são dinamizados pelo dom de si mesmos e os pobres se sintam cidadãos e sejam beneficiados em primeira mão.

Então, o desafio é dar vida a comunidades que revelem o frescor e a eloquência do evangelho, verdadeiras escolas de iniciação mística e de aprendizado profético. Ou seja: comunidades com uma leveza evangélica e uma força testemunhal capaz de atrair e dinamizar a vontade de comunhão e de solidariedade que pulsa na história; comunidades nas quais os membros possam experimentar uma Presença misteriosa que faz memória do melhor do nosso passado comum e antecipa o mais belo daquilo que esperamos para o futuro; comunidades nas quais a submissão infantil a autoridades (mal) constituídas dê lugar ao radical discipulado de iguais.

Itacir Brassiani msf

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