Desafio 4: Ser espaço e laboratório de fraternidade
A organização da vida em parâmetros de irmandade e de
comunhão faz parte da conversão ao Evangelho de Jesus Cristo. Desde cedo, a
aventura da Vida Religiosa levou isso a sério e consagrou esse desejo nos
apelativos que adotou: Irmão, Irmã, Frei, Frade. Os títulos de padre, madre,
abade, prior, abadessa, por um momento vitalícios, foram cedendo lugar à
transitoriedade e recebendo o caráter de serviço. E surgiu o instituto da
eleição temporária dos Superiores. Mesmo com denominações diversas, o ideal
comunitário progressivamente recebeu força institucional em todas as formas de
vida religiosa.
Num momento cultural e político no qual construir
muros que discriminam pessoas e impedem movimentos e encontros é bem mais que
uma tentação, a substancial abertura a relações de acolhida e reconhecimento
das diferenças é um evangelho que enriquece e fala com eloquência. Numa cultura
que prima pelo individualismo e vê o outro como incômodo a ser evitado ou
personagem a ser descartado, a busca positiva de comunidades de iguais é fator
de uma humanidade renovada e reconciliada.
Quando a vida é apresentada como uma espécie de
mercado onde tudo se compra e se consome, e no qual cada um faz o que quer com
os bens dos quais se apropria privadamente, a comunhão de bens, a universalização
da gratuidade e a busca da sobriedade vivida em comunidade são uma urgência e
uma forma de evitar a ruína total do mundo e de apressar o nascimento do outro
mundo possível. É claro que, enquanto valor evangélico e dinamismo espiritual,
a comunhão é muito mais que a sua estruturação em comunidades.
Mas a fraternidade e a comunhão precisam evitar a
tentação da simples redução a uma comunidade de trabalho e de acúmulo, ou, em outra
versão, numa espécie de asilo afetivo, no qualos indivíduos procuram alargar o
próprio Eu e desfrutar ao máximo a acolhida incondicional que espera e exige do
outro. A comunidade de vida e de bens, quando de matriz evangélica, traz as
marcas da missão e da pádcoa: urge criar e recriar permanentemente comunidades
na missão e para a missão, nas quais os membros são dinamizados pelo dom de si
mesmos e os pobres se sintam cidadãos e sejam beneficiados em primeira mão.
Então, o desafio é dar vida a comunidades que revelem
o frescor e a eloquência do evangelho, verdadeiras escolas de iniciação mística
e de aprendizado profético. Ou seja: comunidades com uma leveza evangélica e
uma força testemunhal capaz de atrair e dinamizar a vontade de comunhão e de
solidariedade que pulsa na história; comunidades nas quais os membros possam
experimentar uma Presença misteriosa que faz memória do melhor do nosso passado
comum e antecipa o mais belo daquilo que esperamos para o futuro; comunidades nas
quais a submissão infantil a autoridades (mal) constituídas dê lugar ao radical
discipulado de iguais.
Itacir Brassiani msf
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