domingo, 2 de fevereiro de 2014

Iniciando a caminhada

Voltando às minas gerais e aos belos horizontes

Na última terça-feira, 28 de janeiro, cheguei “de mala e cuia” a Belo Horizonte. Em dezembro de 1991, ainda jovem e depois de dois anos de inesquecível estadia para estudos, havia deixado para trás os horizontes belos desta paisagem para prosseguir rumo aos amplos horizontes que os dois estudos me haviam aberto. Passados 22 anos e trilhados longos e diversos caminhos, tenho a grata satisfação de estabelecer de novo minha tenda neste chão, desde muito apenas (apenas?!) visitado de vez em quando para matar saudades dos amigos e amigas que esta generosa terra me dera.

Na quarta-feira, sob a presidência do Pe. Genivaldo (Coordenador da Província do Brasil Oriental) e ainda com a presença do Pe. Lotário (atual formador do Juniorado), iniciamos oficialmente o ano formativo 2014. Por uma graciosa coincidência, a data lembrava os 30 anos da minha consagração religiosa como Missionário da Sagrada Família, celebrada com emoção juvenil e generosidade sincera em Caibi (SC), no já distante 29 de janeiro de 1984. Fiquei me perguntando o que poderia significar esta inesperada coincidência para o ministério que estou iniciando...

Na quinta-feira, enquando discutíamos alguns procedimentos básicos para a caminhada formativa deste grupo interprovincial de junioristas, fomos surpreendidos pela notícia do falecimento do Pe. João Batista Libânio, renomado e fecundo teólogo jesuíta que tive a graça de ter na banca do meu mestrado, em maio de 1992. Participando por um momento da vigília em torno do seu corpo, a pergunta veio naturalmente: o que esta não muito feliz coincidência está querendo me dizer?

Hoje, festa litúrgica da apresentação de Jesus no templo de Jerusalém, data universalmente dedicada à Vida Consagrada, , fui apresentado à Comunidade Nossa Senhora Aparecida, região pastoral que está sob a responsabilidade dos Missionários da Sagrada Família em Belo Horizonte e da qual o Pe. Lotário se despedia. Mais uma vez a interrogação: o que isso tem a ver com  a minha volta e a minha nova missão em Belo Horizonte?

O Salmo 88, recitado na liturgia do dia 29, me recordava que, neste percurso de 30 anos, a fidelidade é mais de Deus que minha: “Guardarei eternamente para ele a minha graça e com ele firmarei minha Aliança indissolúvel.” E o evangelho propunha a parábola do semeador, levando-me a avaliar quanta semente da Palavra do Reino caiu à beira da estrada, em terreno pedregoso, foi abafada pelos espinhos... Mas convidava também a considerar aqueles belos e generosos brotos que produziram 30, 60 e 100 por um... A coincidência entre os 30 anos de consagração religiosa e o início do ministério de formador me diz que formar é, acima de tudo, participar junto com os formandos da aventura de acolher a Palavra e seguir Jesus, partilhando o que o percurso que já fiz me ensinou.

Na liturgia da apresentação de Jesus no templo, Simeão acolhe nos braços o Menino com pouco mais de um mês de vida, vibra de uma intensa alegria e anuncia que ele não se deixa deter pelas fronteiras religiosas ou étnico-culturais, pois é salvação e luz para todos os povos.  Mas o que ele é brilha e frutifica em Nazaré, na Galiléia periférica, e não no templo e em Jerusalém. Não seria também as fronteiras e periferias o lugar mais apropriado para testemunhar e anunciar Jesus Cristo, dando prosseguimento à sua missão libertadora? Não seria nesse contato vital, intenso e duradouro com os últimos e desprezados que os junioristas poderão crescer em sabedoria, inteligência e graça?

Com mais de 80 anos de vida e 100 livros publicados, o Pe. Libânio marcou as gerações e pessoas que o conheceram pela perspicácia e agilidade da sua teologia, pela sua incorrigível inquietude, pela sua incomparável generosidade e pela simplicidade com a qual se aproximava das pessoas, fossem da elite intelectual ou das classes populares. Hoje mesmo a Ir. Alcídia me lembrava do pedido insistente para que ela me ajudasse a não abandonar o estudo e a pesquisa. Mais que isso, em memória dele, eis o imperativo: conjugar estudo e militância; temperar a inteligência com o bom humor; casar a sabedoria com a simplicidade; unir ao serviço eficaz o amor intenso.


Itacir Brassiani msf

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