Voltando às minas gerais e
aos belos horizontes
Na última
terça-feira, 28 de janeiro, cheguei “de mala e cuia” a Belo Horizonte. Em
dezembro de 1991, ainda jovem e depois de dois anos de inesquecível estadia
para estudos, havia deixado para trás os horizontes belos desta paisagem para
prosseguir rumo aos amplos horizontes que os dois estudos me haviam aberto.
Passados 22 anos e trilhados longos e diversos caminhos, tenho a grata
satisfação de estabelecer de novo minha tenda neste chão, desde muito apenas
(apenas?!) visitado de vez em quando para matar saudades dos amigos e amigas
que esta generosa terra me dera.
Na
quarta-feira, sob a presidência do Pe. Genivaldo (Coordenador da Província do
Brasil Oriental) e ainda com a presença do Pe. Lotário (atual formador do
Juniorado), iniciamos oficialmente o ano formativo 2014. Por uma graciosa
coincidência, a data lembrava os 30 anos da minha consagração religiosa como
Missionário da Sagrada Família, celebrada com emoção juvenil e generosidade
sincera em Caibi (SC), no já distante 29 de janeiro de 1984. Fiquei me
perguntando o que poderia significar esta inesperada coincidência para o
ministério que estou iniciando...
Na
quinta-feira, enquando discutíamos alguns procedimentos básicos para a
caminhada formativa deste grupo interprovincial de junioristas, fomos
surpreendidos pela notícia do falecimento do Pe. João Batista Libânio, renomado
e fecundo teólogo jesuíta que tive a graça de ter na banca do meu mestrado, em
maio de 1992. Participando por um momento da vigília em torno do seu corpo, a
pergunta veio naturalmente: o que esta não muito feliz coincidência está
querendo me dizer?
Hoje,
festa litúrgica da apresentação de Jesus no templo de Jerusalém, data
universalmente dedicada à Vida Consagrada, , fui apresentado à Comunidade Nossa
Senhora Aparecida, região pastoral que está sob a responsabilidade dos
Missionários da Sagrada Família em Belo Horizonte e da qual o Pe. Lotário se
despedia. Mais uma vez a interrogação: o que isso tem a ver com a minha volta e a minha nova missão em Belo
Horizonte?
O Salmo 88,
recitado na liturgia do dia 29, me recordava que, neste percurso de 30 anos, a
fidelidade é mais de Deus que minha: “Guardarei eternamente
para ele a minha graça e com ele firmarei minha
Aliança indissolúvel.” E o evangelho propunha a parábola do semeador,
levando-me a avaliar quanta semente da Palavra do Reino caiu à beira da
estrada, em terreno pedregoso, foi abafada pelos espinhos... Mas convidava também
a considerar aqueles belos e generosos brotos que produziram 30, 60 e 100 por
um... A coincidência entre os 30 anos de consagração religiosa e o início do
ministério de formador me diz que formar é, acima de tudo, participar junto com
os formandos da aventura de acolher a Palavra e seguir Jesus, partilhando o que
o percurso que já fiz me ensinou.
Na liturgia da
apresentação de Jesus no templo, Simeão acolhe nos braços o Menino com pouco
mais de um mês de vida, vibra de uma intensa alegria e anuncia que ele não se
deixa deter pelas fronteiras religiosas ou étnico-culturais, pois é salvação e
luz para todos os povos. Mas o que ele é
brilha e frutifica em Nazaré, na Galiléia periférica, e não no templo e em
Jerusalém. Não seria também as fronteiras e periferias o lugar mais apropriado
para testemunhar e anunciar Jesus Cristo, dando prosseguimento à sua missão
libertadora? Não seria nesse contato vital, intenso e duradouro com os últimos
e desprezados que os junioristas poderão crescer em sabedoria, inteligência e
graça?
Com mais de 80 anos de
vida e 100 livros publicados, o Pe. Libânio marcou as gerações e pessoas que o
conheceram pela perspicácia e agilidade da sua teologia, pela sua incorrigível
inquietude, pela sua incomparável generosidade e pela simplicidade com a qual
se aproximava das pessoas, fossem da elite intelectual ou das classes
populares. Hoje mesmo a Ir. Alcídia me lembrava do pedido insistente para que
ela me ajudasse a não abandonar o estudo e a pesquisa. Mais que isso, em
memória dele, eis o imperativo: conjugar estudo e militância; temperar a
inteligência com o bom humor; casar a sabedoria com a simplicidade; unir ao
serviço eficaz o amor intenso.
Itacir Brassiani msf
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