segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Reflexões do Pe. Ceolin msf (4)

Hoje o Pe. Ceolin estaria completando 84 anos de vida e, amanhã, 63 anos de vida consagrada. Fazendo memória da sua longa e fecunda existência, proponho a releitura deste belíssimo texto, publicado em abril de 2003. Creio que hoje podemos dizer ao Rodolpho: “Descanse em paz, querido amigo, pois os seus descendentes são incontáveis e saberão honraro seu exemplo...”

Sejam fecundos, eternamente fecundos!

Um belo dia de fevereiro, ao celebrar as exéquias de uma paroquiana, ouvi o seguinte: “Ao partir, nossa irmã Tereza deixa a pranteá-la nove filhos, setenta e oito netos e vinte e seis bisnetos…” (Nessas ocasiões, quase nunca são mencionados or irmãos, cunhados, genros e noras… Qual seria o motivo?!)

Naquele momento, lembrei-me do tema da Campanha da Fraternidade de 2003, fraternidade e pessoas idosas, e de mim mesmo, varão com meus setenta e três verões de vida. E, por uns instantes, pensei: “Puxa! Dentro de algum tempo estarei num esquife, sendo recomendado à misericórdia de Deus! Terei deixado alguém? E quem será esse alguém a chorar minha partida?” Suspendi a ligeira distração e tratei de concentrar-me na liturgia que estava presidindo.

Na meditação do dia seguinte, com o texto-base da Campanha da Fraternidade na mão, voltou-me è memória a falecida Tereza. Lembrei-me então que meus avós maternos já têm em torno de setecentos descendentes. E então lembrei-me de Adão e Eva: “Crescei e multiplicai-vos! Sede fecundos e enchei a terra!” (Gn 1,28). E também Abraão me veio à mente: “Você será pai de muitas nações... Farei a sua descendência tão numerosaq que ninguém poderá contar...” (Gn 17,5).

E cheguei a José, Maria e Jesus, ao Pe. João Berthier, aos confrades Aloísio Weber, Pedro Klaus, Ernesto Greiner, Luiz Muhl, Otto Massmann, Jerônimo Finkler e muitos outros. Lembrei-me de mim, de vocês que estão na missão, na inserção, nas paróquias, nas casas de formação, no Provincialado, no Lar de Nazaré...

Então escutei: “Eu te abençoarei!... Eu multiplicarei teus descendentes como as estrelas do céu e a areia da praia, porque não me recusaste o teu filho único, porque por amor a mim e ao Reino renunciaste à paternidade carnal...” Entendi que a realização e a glória de um homem ou de uma mulher não provêm apenas ou acima de tudo do número de descendentes gerados genitalmente.

Como é consolador sentir que, após setenta, oitenta ou noventa anos ainda continuamos férteis, capazes de gerar e proteger a vida, de construir pessoas, de gerar novos cristãos, novos Missionários da Sagrada Família. Que maravilha é poder tomar consciência de que ainda na velhice, até à morte e mesmo após ela, somos fecundos e podemos ser “pais” de muitos.

A confirmação disso tudo eu encontro na Palavra de Deus. Paulo escreve: “Fui eu quem gerou vocês em Jesus Cristo, através do Evangelho” (1Cor 4,15). A Timóteo, ele chama de “verdadeiro filho na fé” (1Tm 1,2). “A você, Tito, meu verdadeiro filho na fé, graça e paz” (Tt 1,4). São João evangelista, repetidamente chama as pessoas das comunidades de “meus filhinhos”. E o nosso venerável Pe. Berthier dirigia-se a seus discípulos com a carinhosa e afetuosa expressão “mes enfants”, isto é, “meus meninos, meus filhos”.

É tão bom sentir-se, em qualquer idade, um religioso realizado por saber-se continuamente gerador de fé, de cidadãos conscientes e doados ao povo. É bom demais ser um Missionário da Sagrada Família promovendo vida digna e abundante “entre aqueles que estão longe”. É tão bonito ver os irmãos entregues generosamente à formação dos novos missionários em nossas casas de formação e seminários. Sigamos multiplicando-nos, eternamente fecundos!

Pe. Rodolpho Ceolin msf


(Artigo publicado em O Bertheriano, Ano XXV, n° 78, abril/2003, p. 13)o

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