terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Reflexões do Pe. ceolin (6)

Vocês reviverão!


No Bertheriano de março de 1999 (Ano XVII, N° 61, p. 16-17), foi inserido um artigo meu entitulado “Senhor, estamos morrendo!” Ao escrevê-lo, tinha em mente os cuidados que devo ter para não pôr em risco a vocação religiosa e ministerial. E, consequentemente, minha permanência ou afastamento de tantos coirmãos de ontem e de hoje, personagens importantes em minha história. Publiquei o citado artigo pensando também na Província, em todos nós.
Não sou mais nem menos que ninguém dos coirmãos para passar-lhes conselhos moralizantes. Sou alguém que observa, reflete sobre algumas situações de vida, minha e da Província. Sofro e entristeço-me toda vez que ouço: “Mais um se foi!...” Mais um acaba de deixar-nos! Que pena! Por que veio isso a acontecer? Tal desfecho poderia ter sido evitado?...
No estudo recente que todos fizemos acerca da conjuntura da nossa Província, foram levantados alguns dados deveras alarmantes. Existem dificuldades e resistências em romper com o senso comum (“Deixa como está! Assim está mais que bom! Por que nos perturbam com inovações?”). Nossa conjuntura aponta muitas marcas de individualismo e interesses pessoais sobrepondo-se ao comunitário. Fala-se em fragmentação. E isso não é de meter medo? Não é coisa de assustar? Tal realidade não estaria a dizer-nos: “Abram os olhos! Gente, o barco de vocês corre perigo! Estão esperando que a Província se afunde ainda mais?”
De uns anos para cá, porém, um sopro novo do Espírito é perceptível em nossa Província. Acontece algo semelhante com o episódio descrito pelo profeta Ezequiel (37,1-14). Diante de um vale cheio de ossos ressequidos, Javé manda Ezequiel dizer-lhes: “Vou infundir um espírito, e vocês reviverão!” Enquanto ele profetizava, “ouviu-se um barulho e os ossos começaram a movimentar-se, começaram a aproximar-se um do outro. Foram aparecendo nervos, sendo cobertos de carne e de pele.” Ezequiel profetizou novamente: “Espírito, venha dos quatro ventos e sopre nesses cadáveres, para que revivam!” O Espírito penetrou neles e reviveram, colocando-se de pé. Era um exército imenso.”
Recordemo-nos, irmãos, das vezes tantas em que ressoou, nos encontros que fizemos, o brado seguinte: “Ah, uma vez tínhamos métodos de cultivo!... Está na hora de encontrar e implantar um método novo!” Era a voz do Espírito! Nós permanecemos surdos por algum tempo. Um belo dia (estamos ainda lembrados?) ezequieis da Província levaram-nos a refletir sobre nossa vida e compromisso, a tríplice aliança: aliança com Deus (consagração, discipulado); aliança com os coirmãos (comunhão); aliança com os pobres (missão). Era o Espírito a soprar mais forte. Ele levou-nos a refletir também sobre a refundação da vida religiosa e missionária. O Espírito continuou soprando. E não vai parar de fazê-lo, até que nos coloquemos de pé, redivivos.
Perguntemo-nos agora: o Espírito Santo esteve presente no XIX Capítulo Provincial (julho de 1998)? Não seria esse um prenúncio de um novo pentecostes na Província? Até mais do que simples prenúncio: quando nos reunimos em cenáculo, para rezar e avaliar em profundidade nossas vidas e nossas práticas; quando cada um se debruça para traçar seu Projeto de Vida; quando os grupos de vida e de trabalho se põem a labutar arduamente no seu Plano Político-Pedagógico; quando a Província inteira se empenha em delinear o Plano Estratégico para os próximos anos...; tudo isso, meu irmão, juntamente com o Plano de Formação já em andamento, é ou não é um pentecostes entre nós?
Ouço, neste momento, uma voz insistente, cada vez mais forte a dizer: “Vocês reviverão!” Um vento, a esta altura já impetuoso, como em Jerusalém, atravessa a Província em todas as direções. Já não há mais como detê-lo. Vejo labaredas de fogo pousando sobre as cabeças de sempre mais gente nossa... Agora, já dispondo de valioso instrumental de cultivo pessoal e comunitário, um método de cultivo como pedíamos, passaremos algum tempo nos apropriando racionalmente dele, tratando de entender seu conteúdo. A apropriação racional não será suficiente e não satisfaz. É preciso também se apropriar com o coração. E isso acontecerá.

Concluindo, faço um apelo à Coordenação Provincial e aos Conselhos locais: vocês foram eleitos por nós não apenas para tratar de nossas transferências; não apenas para ouvir nossos queixumes; nem só para dirimir questiúnculas entre nós e apagar incêndios nas comunidades... Nós os elegemos, antes de tudo, para a missão de fomentar o zelo religioso e apostólico; incentivar a cooperação e fortalecer a confiança entre os irmãos, a fim de que as comunidades e todos os coirmãos cheguem à unidade em Cristo, que é o centro (cf. Const. 115).

Que disso todos tenhamos consciência, prontos estejamos a colaborar, pois não queremos ser insensíveis e surdos à ação do Espírito, neste tempo de graça e de misericórdia de nosso Deus, que nos pede: “Não extingais o Espírito!” Ele nos grita bem alto: “Vocês já estão revivendo! Coragem! Estou com vocês!” Se eu e você, meu irmão, formos fiéis ao Espírito, dificilmente de nós será dito: “Eh, mais um se foi!...”
Pe. Rodolpho Ceolin msf


(Reflexão publicada em O Bertheriano, Ano XVII, N° 62, Junho/1999, p. 23-24)

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