Vocês reviverão!
No Bertheriano de março de 1999 (Ano XVII,
N° 61, p. 16-17), foi inserido um artigo meu entitulado “Senhor, estamos morrendo!” Ao escrevê-lo, tinha em mente os
cuidados que devo ter para não pôr em risco a vocação religiosa e ministerial.
E, consequentemente, minha permanência ou afastamento de tantos coirmãos de
ontem e de hoje, personagens importantes em minha história. Publiquei o citado
artigo pensando também na Província, em todos nós.
Não sou
mais nem menos que ninguém dos coirmãos para passar-lhes conselhos
moralizantes. Sou alguém que observa, reflete sobre algumas situações de vida,
minha e da Província. Sofro e entristeço-me toda vez que ouço: “Mais
um se foi!...” Mais um acaba de deixar-nos! Que pena! Por que veio isso
a acontecer? Tal desfecho poderia ter sido evitado?...
No estudo
recente que todos fizemos acerca da conjuntura da nossa Província, foram
levantados alguns dados deveras alarmantes. Existem dificuldades e resistências
em romper com o senso comum (“Deixa como está! Assim está mais que bom! Por que
nos perturbam com inovações?”). Nossa conjuntura aponta muitas marcas de individualismo
e interesses pessoais sobrepondo-se ao comunitário. Fala-se em fragmentação.
E isso não é de meter medo? Não é coisa de assustar? Tal realidade não estaria
a dizer-nos: “Abram os olhos! Gente, o barco de vocês corre perigo! Estão
esperando que a Província se afunde ainda mais?”
De uns
anos para cá, porém, um sopro novo do Espírito é perceptível em nossa
Província. Acontece algo semelhante com o episódio descrito pelo profeta
Ezequiel (37,1-14). Diante de um vale cheio de ossos ressequidos, Javé manda
Ezequiel dizer-lhes: “Vou infundir um espírito, e vocês reviverão!”
Enquanto ele profetizava, “ouviu-se um barulho e os ossos começaram a
movimentar-se, começaram a aproximar-se um do outro. Foram
aparecendo nervos, sendo cobertos de carne e de pele.” Ezequiel profetizou
novamente: “Espírito, venha dos quatro ventos e sopre nesses cadáveres, para
que revivam!” O Espírito penetrou neles e reviveram, colocando-se
de pé. Era um exército imenso.”
Recordemo-nos,
irmãos, das vezes tantas em que ressoou, nos encontros que fizemos, o brado seguinte:
“Ah, uma vez tínhamos métodos de cultivo!... Está na hora de encontrar e
implantar um método novo!” Era a voz do Espírito! Nós permanecemos surdos por
algum tempo. Um belo dia (estamos ainda lembrados?) ezequieis da Província
levaram-nos a refletir sobre nossa vida e compromisso, a tríplice aliança: aliança
com Deus (consagração, discipulado);
aliança com os coirmãos (comunhão);
aliança com os pobres (missão). Era o
Espírito a soprar mais forte. Ele levou-nos a refletir também sobre a
refundação da vida religiosa e missionária. O Espírito continuou soprando. E
não vai parar de fazê-lo, até que nos coloquemos de pé, redivivos.
Perguntemo-nos
agora: o Espírito Santo esteve presente no XIX Capítulo Provincial (julho de 1998)? Não seria esse um
prenúncio de um novo pentecostes na Província? Até mais
do que simples prenúncio: quando nos reunimos em cenáculo,
para rezar e avaliar em profundidade nossas vidas e nossas práticas; quando
cada um se debruça para traçar seu Projeto de Vida; quando os grupos de
vida e de trabalho se põem a labutar arduamente no seu Plano Político-Pedagógico;
quando a Província inteira se empenha em delinear o Plano Estratégico para os
próximos anos...; tudo isso, meu irmão, juntamente com o Plano de Formação já em
andamento, é ou não é um pentecostes entre nós?
Ouço,
neste momento, uma voz insistente, cada vez mais forte a dizer: “Vocês
reviverão!” Um vento, a esta altura já impetuoso, como em Jerusalém,
atravessa a Província em todas as direções. Já não há mais como detê-lo. Vejo
labaredas de fogo pousando sobre as cabeças de sempre mais gente nossa...
Agora, já dispondo de valioso instrumental de cultivo pessoal e comunitário, um
método de cultivo como pedíamos, passaremos algum tempo nos apropriando
racionalmente dele, tratando de entender seu conteúdo. A apropriação racional
não será suficiente e não satisfaz. É preciso também se apropriar com o
coração. E isso acontecerá.
Concluindo,
faço um apelo à Coordenação Provincial e aos Conselhos locais: vocês foram
eleitos por nós não apenas para tratar de nossas transferências; não apenas
para ouvir nossos queixumes; nem só para dirimir questiúnculas entre nós e
apagar incêndios nas comunidades... Nós os elegemos, antes de tudo, para a
missão de fomentar o zelo religioso e apostólico; incentivar a cooperação e
fortalecer a confiança entre os irmãos, a fim de que as comunidades e todos os
coirmãos cheguem à unidade em Cristo, que é o centro (cf. Const. 115).
Que disso
todos tenhamos consciência, prontos estejamos a colaborar, pois
não queremos ser insensíveis e surdos à ação do Espírito, neste tempo de graça
e de misericórdia de nosso Deus, que nos pede: “Não extingais o Espírito!” Ele
nos grita bem alto: “Vocês já estão revivendo! Coragem! Estou com
vocês!” Se eu e você, meu irmão, formos fiéis ao Espírito, dificilmente
de nós será dito: “Eh, mais um se foi!...”
Pe. Rodolpho Ceolin msf
(Reflexão publicada
em O
Bertheriano, Ano XVII, N° 62, Junho/1999, p. 23-24)
Nenhum comentário:
Postar um comentário