quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 25.10.2020

NÃO ESQUECER O QUE É ESSENCIAL

Não era fácil para os contemporâneos de Jesus ter uma visão clara do núcleo da sua religião. Pessoas simples sentiam-se perdidas. Os escribas falavam de 613 mandamentos contidos na lei. Como orientar-se numa rede tão complicada de preceitos e proibições? Em algum momento, a questão chegou a Jesus: O que é o mais importante e decisivo? Qual é o mandamento principal, o que pode dar sentido aos demais mandamentos?

Jesus não pensou duas vezes, e respondeu recordando umas palavras que todos os judeus repetiam diariamente no começo e no fim do dia: “Escuta, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu ser”. Ele mesmo havia pronunciado estas palavras naquela manhã. Ele vivia centrado em Deus. Isto era o principal para Ele.

Em seguida, Jesus acrescentou algo que ninguém lhe tinha perguntado: “O segundo mandamento é: amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Nada é mais importante do que estes dois mandamentos. Para Jesus são inseparáveis. Não se pode amar a Deus e ignorar o seu próximo.

A nós ocorre-nos muitas perguntas. O que é amar a Deus? Como se pode amar alguém a quem nem sequer é possível ver? Ao falar de amor a Deus, os hebreus não pensavam nos sentimentos que podem nascer no nosso coração. A fé em Deus não consiste num estado de ânimo. Amar a Deus é simplesmente centrar a vida Nele para viver tudo desde a sua vontade.

Por isso, Jesus acrescenta o segundo mandamento. Não é possível amar a Deus e viver esquecido das pessoas que sofrem e a quem Deus ama tanto. Não existe um espaço sagrado no qual nos possamos entender a sós com Deus, de costas para os outros. Um amor a Deus que esquece os seus filhos e filhas é uma grande mentira.

Hoje, para muitas pessoas, o cristianismo parece muito complicada e difícil de entender. Provavelmente necessitamos na Igreja de um processo de concentração no essencial para nos desprendermos de acréscimos secundários e ficarmos com o que é realmente importante: amar a Deus com todas as minhas forças e amar os outros como me quero a mim mesmo.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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