quarta-feira, 29 de junho de 2022

ANO C | SOLENIDADE DOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO | 03.072022

Os discípulos de Jesus têm nas mãos algemas, e não armas!

Hoje somos convidados a celebrar com reverência o testemunho de Pedro e Paulo, nossos irmãos maiores e colunas que sustentam as comunidades cristãs. Para chegar à vida real destes personagens é necessário escutar com bastante atenção o testemunho das Escrituras. Se é verdade que Pedro é o primeiro líder dos cristãos e Paulo é o apóstolo dos povos, também é certo que ambos, cada um a seu modo e a seu tempo, foram discípulos de Jesus e passaram por sucessivas crises e dificuldades, provaram a prisão e passaram pelo martírio.

Esqueçamos por um instante a cena contada por Mateus, e centremos nossa atenção no acontecimento narrado nos Atos dos Apóstolos. O primeiro Papa foi presidiário! Para que servem as chaves prometidas por Jesus Cristo se não ajudam a soltar as algemas que o prendem ou abrir a porta da prisão? Pedro estava imerso na penumbra desta e outras perguntas quando uma luz iluminou sua cela, uma mão tocou seu ombro e uma voz ordenou que se levantasse. As algemas caíram, os guardas não viram nada, e a porta que separava a cela da cidade se abriu sozinha...

Depois de ter sido um fariseu zeloso e violento e de ter acumulado muitos méritos por causa disso, Paulo fez a experiência de ser conquistado por Jesus Cristo e, diante do bem supremo desta acolhida imerecida, considerou tudo o mais como déficit na contabilidade da vida (cf. Fil 3,1-14) e se lançou, livre e incansável, no anúncio desta boa notícia, especialmente às pessoas e grupos de origem pagã. O zelo e o ardor que Paulo demonstrara pelo judaísmo se transformou em zelo pela fé e pela autonomia e liberdade recebidas em Jesus Cristo. Com isso, perdeu de vez a tranquilidade.

Esta trajetória atraiu contra Paulo o ódio dos seus irmãos judeus e, por ter sido perseguidor dos cristãos, também a desconfiança dos próprios irmãos cristãos. Depois de sucessivas perseguições, ele também acabou na prisão. Sendo cidadão romano, exigiu o direito de ser julgado pelo imperador, e foi conduzido a Roma. Mas ninguém conseguiu colocar sob algemas aquilo que o fazia livre: o Evangelho. “Por ele, eu tenho sofrido até ser acorrentado como um malfeitor. Mas a Palavra de Deus não está acorrentada”, escreveu ele ao fiel amigo e companheiro Timóteo (2Tm 2,9).

Pedro e Paulo são filhos, irmãos e pais da fé numa Igreja que confirmou com a vida aquilo que anunciou com as palavras. Eles mantêm contato com as suas comunidades de base, inclusive através de cartas, e elas não ficam indiferentes, apesar da crise provocada por uma perseguição feita em nome de Deus e da religião, assim como pelos riscos que estas relações implicavam. O vínculo entre a comunidade dos discípulos e seus líderes presos se mostra de um modo singelo e comovente no relato dos Atos dos Apóstolos proposto pela liturgia de hoje (cf. 12,1-11).

As escrituras dizem que “enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja orava continuamente por ele.” É neste contexto que Pedro experimenta a presença de Deus também na prisão. Logo que é libertado, vai à casa da mãe de João Marcos, onde a comunidade está reunida em oração. Quando a mãe de Marcos abre a porta e vê que é Pedro, é tomada de tanta alegria que deixa-o plantado do lado de fora e vai anunciar a surpreendente e boa novidade à comunidade reunida, a qual pensa que Rosa está doida. Aberta a porta, Pedro entra e conta, entusiasmado, o que havia acontecido.

O que sustenta as Igrejas e comunidades cristãs é o encontro com Deus em Jesus Cristo. É substancialmente isso que o evangelho de hoje nos propõe. Num lugar marcado pelo domínio estrangeiro, Jesus interroga seus discípulos sobre o que pensam dele. E Pedro é o primeiro dentre todos os seguidores a reconhecê-lo e proclamá-lo Messias. Só quem está aberto e sintonizado com a lógica de Deus pode reconhecer a presença de Deus nas ações e palavras deste filho da humanidade e irmão de todos os seres humanos.

Queridos Pedro e Paulo, apóstolos e irmãos na fé! Com vocês aprendemos que crer, confiar, partilhar e anunciar são verbos essenciais na gramática cristã. Ajudem-nos a viver de tal modo que, chegando ao entardecer da existência, também nós possamos dizer: “Chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.” E que jamais nos envergonhemos ou desanimemos, pois sabemos em quem acreditamos! Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

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