quarta-feira, 1 de junho de 2022

ANO C | TEMPO PASCAL | SOLENIDADE DE PENTECOSTES | 05.06.2022

O Espírito nos vem como dinamismo de ação que liberta.

O envio do Espírito por Jesus é a culminância da experiência pascal.  Reunimo-nos como assembleia de chamados/as para pedir que o Espírito renove em nós os prodígios que realizou no início do cristianismo, esperando que o Sopro de Deus nos dê respiro e vida, nos ajude a testemunhar e anunciar o Reino de Deus na língua das diversas culturas, nos ajude a derrubar os muros que nossos medos e prepotências ergueram, abra as portas das nossas Igrejas sitiadas pelas leis e dogmas, e nos empurre para fora, em ritmo de missão.

O Espírito Santo atua e3m nós para que não sejamos como papagaios, que repetem palavras e discursos que não entendem. Um dos primeiros frutos da ação do Espírito Santo é uma palavra nova e viva. Com a força do Espírito, as pessoas caladas vencem o medo e começam a falar. São palavras de protesto que saem da boca dos marginalizados, clamores que reivindicam reconhecimento e respeito; palavras proféticas que denunciam as injustiças praticadas contra os oprimidos e anuncia uma nova ordem social e rompe com as velhas lições.

Mas o Espírito suscita também palavras orantes e celebrativas, cânticos novos que reconhecem e louvam a ação libertadora de Deus no coração das pessoas e do mundo. São palavras despertadas por uma compreensão espiritual das Escrituras, não mais lidas como coisa do passado ou simples doutrina, mas como Palavra viva e plena de sentido para os homens e mulheres de hoje. Esta palavra nova, suscitada pelo Espírito, assume a gramática das culturas e anuncia o Reino de Deus de tal modo que os povos possam compreender na sua própria cultura.

O Espírito também nos livra da ameaça de sermos fragmentos desarticulados, perdidos no tempo e no espaço. Ele cria vínculos de amor, amizade e solidariedade. Onde o Espírito é acolhido e age, as pessoas isoladas se reúnem, os membros formam um corpo, nasce um povo novo e peregrino. Cria-se uma comunhão que transcende os indivíduos e o tempo, pois o Espírito une pessoas e gerações diferentes numa unidade familiar, étnica e nacional, as pessoas e culturas numa comunidade eclesial, centrada na memória de Jesus de Nazaré.

A presença do Espírito Santo é força que nos livra do risco de sermos sempre e apenas escravos, indivíduos que reproduzem, sob pressão e por medo, as ações determinadas pelos senhores. Ele nos faz pessoas livres, capazes de agir por iniciativa própria, inclusive na arena política. Aos macacos fica bem a imitação e a repetição, mas não aos filhos e filhas de Deus! O Espírito nos é dado para superar a condição de escravos e alcançar a condição de filhos e filhas maiores, livres de todas as tutelas, herdeiros do Reino de Deus. Onde está o Espírito, ali está a liberdade!

Esta liberdade não é apenas ‘liberdade de’ algo que oprime, mas principalmente ‘liberdade para’ alguma coisa nova. O Espírito nos faz livres da dependência das forças da natureza, dos condicionamentos inconscientes, do poder de persuasão dos meios de comunicação social, do constrangimento das instituições e sistemas políticos, econômicos, culturais e religiosos. O Espírito nos assegura a liberdade radical e nos possibilita agir sem medos em favor da vida dos outros, em vista da criação de uma realidade social nova, baseada na liberdade e na cooperação.

O Espírito Santo impede ainda que sejamos mortos-vivos, pois ele não se coaduna com os sistemas e instituições que impõem silêncio, com o individualismo narcisista e com a passividade omissa. Ele é a força de Deus na história, a força libertadora de Jesus Cristo. Aos cristãos ele é enviado como dinamismo missionário, como capacidade de agir no plano do homem novo: partilhar o pão, curar as doenças, perdoar e acolher os pecadores, anunciar a Boa Notícia aos pobres, desarmar para amar, percorrer o êxodo missionário. “Envias teu Espírito e assim renovas a face da terra...”

Vem Espírito Santo, e suscita em nós o desejo de sermos dom, de engajar-nos na luta para que todos tenham vida. Não permita que te aprisionemos na intimidade do coração ou no silêncio dos templos. Faz que nossa vida seja semente de liberdade, solidariedade e eternidade. E que o Filho do Homem ungido por ti, seja o Caminho que percorremos, a Verdade que acolhemos e a Vida que aspiramos ardentemente e promovemos generosamente. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Atos dos Apóstolos 2,1-11 | Salmo 103 (104) | 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios 12,3-13 |  Evangelho  de São  João  (20,19-23)

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