quarta-feira, 23 de novembro de 2022

ANO A | TEMPO DE ADVENTO | PRIMEIRO DOMINGO | 27.11.2022

Caminhemos guiados e iluminados pela luz do Evangelho!

O sentido do tempo que antecede o Natal é o que expressamos na oração da coleta da celebração de hoje: o ardente desejo de acolher o Reino de Deus, congregarmo-nos à comunidade dos justos, caminhar com nossas boas ações ao encontro do Ungido e Enviado de Deus. Nossa atenção não se dirige às luzes coloridas, músicas harmoniosas, despensas abarrotadas, viagens deslumbrantes, ou presentes vistosos. Antes, acolhemos o convite: “Vamos subir ao monte do Senhor, para que ele nos mostre seus caminhos. Vinde, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor”.

Temos consciência da vulnerabilidade das nossas comunidades, das pressões que elas sofrem, e das distrações que podem ameaçar a fidelidade dos discípulos e discípulas de Jesus. A intolerância e a apologia da violência como caminho para a segurança, a defesa da livre exploração econômica dos mais fortes sobre os mais fracos, a primazia dos direitos do Mercado e do Capital sobre os Direitos dos Humanos coloniza a mente e o coração de muitos cristãos. Anestesiados/as e idiotizados/as, aderem à ideologia que grita que “o supremo é o povo” mas não aceita o resultado das urnas.

Àqueles/as que flertam com o poder sedutor das armas e da intolerância, da perseguição e do extermínio de quem pensa ou é diferente e que, a partir dos próprios medos e ambições, definiram como inimigos, o profeta Isaías provoca: é preciso permitir que o Senhor – Aquele que está no meio de nós, e não acima de tudo – nos ensine e nos guie. Quem assimila sua Palavra, transforma espadas em arados, e lanças em gadanhos. Quem o segue não pega em armas contra ninguém. Quem se reveste dele, não entra em combates estúpidos.

Nossa orientação não são as placas que levam aos templos do consumo, aos palácios da indiferença, às praças do faturamento e do acúmulo, mesmo que tudo isso pareça aprazível, luminoso e precioso. Não é nisso que estão os fundamentos sólidos e imutáveis de uma vida feliz, da tão sonhada dignidade humana, da paz duradoura. Não será uma simples diminuição do poder de consumo o que nos angustia e nos levará ao medo. Mais do que nunca, precisamos viver e caminhar atentos, preparados, vigilantes. Já é mais que hora de despertar, adverte-nos Paulo.

Também não podemos nos distrair com atividades que nos parecem normais e cotidianas, que sustentam a continuidade de um estilo de vida dado por certo e definitivo: comer e beber sem se importar com a partilha; casar e dar-se em casamento sem compromissos com quem não pertence ao núcleo familiar; trabalhar a terra e moer o trigo como se o meio ambiente não estivesse ameaçado; rezar e louvar a Deus sem considerar a caridade e sem esperar e preparar a vinda do reino de Deus. O sentido da vida é a vinda do Filho do homem, e nada pode nos distrair da preparação desse evento.

Viver vigilantes e preparados/as para não sermos surpreendidos pelo ladrão que poderá nos roubar aquilo que entesouramos de modo afoito e idiota: eis o apelo do evangelho de hoje. Esta vigilância não pede fuga do mundo e das justas lutas que precisamos travar, mas uma postura ativa e alerta que ajuda a continuar lucidamente nossas tarefas, construindo o Reino de Deus no mundo, tornando a Igreja visceralmente fraterna e evangélica, sempre e em tudo amando e servindo, caminhando entre as coisas que passam abraçando as que não passam.

Por isso, precisamos mergulhar no espírito do advento e aguçar a sensibilidade para identificar os pequenos sinais que teimam em aparecer no ventre de mulheres humilhadas, nas estrebarias das periferias, nas mãos abertas e desarmadas de gente que confia na fraqueza, nos corações generosos que compartilham sonhos e caminhos, nos movimentos que se erguem como o indefeso Davi diante do Mercado gigante e idólatra. Precisamos levantar a cabeça diante dos que quiseram vencer pela mentira e governar pela intimidação, pois diverso é o Filho do Homem, o Humano.

Deus pai e mãe, amor eternamente jovem e infinitamente criativo, que está sempre vindo ao nosso encontro: dissipa o medo e cura as feridas que a prepotência dos violentos deixa em nossos corpos. Conduz aqueles/as que ainda acreditam em ti ao templo silencioso e misterioso da carpintaria de Nazaré, e ajuda-nos a perceber que ali moram a criatividade mais genuína e a ousadia mais libertadora. Desperta-nos do sono da ignorância, livra-nos da noite do cinismo e mostra-nos o caminho da justiça, da reconciliação e da paz. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Profecia de Isaías 2,1-5 | Salmo 121 (122) | Carta de São Paulo aos Romanos 13,11-14 | Evangelho segundo Mateus (24,37-44)

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