Caminhemos guiados e iluminados pela luz do
Evangelho!
O sentido do tempo que antecede o Natal é o que expressamos na oração da
coleta da celebração de hoje: o ardente desejo de acolher o Reino de Deus, congregarmo-nos
à comunidade dos justos, caminhar com nossas boas ações ao encontro do Ungido e
Enviado de Deus. Nossa atenção não se dirige às luzes coloridas, músicas
harmoniosas, despensas abarrotadas, viagens deslumbrantes, ou presentes
vistosos. Antes, acolhemos o convite: “Vamos subir ao monte do Senhor, para que
ele nos mostre seus caminhos. Vinde, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor”.
Temos consciência da vulnerabilidade das nossas comunidades, das
pressões que elas sofrem, e das distrações que podem ameaçar a fidelidade dos
discípulos e discípulas de Jesus. A intolerância e a apologia da violência como
caminho para a segurança, a defesa da livre exploração econômica dos mais
fortes sobre os mais fracos, a primazia dos direitos do Mercado e do Capital
sobre os Direitos dos Humanos coloniza a mente e o coração de muitos cristãos.
Anestesiados/as e idiotizados/as, aderem à ideologia que grita que “o supremo é
o povo” mas não aceita o resultado das urnas.
Àqueles/as que flertam com o poder sedutor das armas e da intolerância,
da perseguição e do extermínio de quem pensa ou é diferente e que, a partir dos
próprios medos e ambições, definiram como inimigos, o profeta Isaías provoca: é
preciso permitir que o Senhor – Aquele que está no meio de nós, e não acima de
tudo – nos ensine e nos guie. Quem assimila sua Palavra, transforma espadas em
arados, e lanças em gadanhos. Quem o segue não pega em armas contra ninguém.
Quem se reveste dele, não entra em combates estúpidos.
Nossa orientação não são as placas que levam aos templos do consumo, aos
palácios da indiferença, às praças do faturamento e do acúmulo, mesmo que tudo
isso pareça aprazível, luminoso e precioso. Não é nisso que estão os
fundamentos sólidos e imutáveis de uma vida feliz, da tão sonhada dignidade
humana, da paz duradoura. Não será uma simples diminuição do poder de consumo o
que nos angustia e nos levará ao medo. Mais do que nunca, precisamos viver e
caminhar atentos, preparados, vigilantes. Já é mais que hora de despertar,
adverte-nos Paulo.
Também não podemos nos distrair com atividades que nos parecem normais e
cotidianas, que sustentam a continuidade de um estilo de vida dado por certo e
definitivo: comer e beber sem se importar com a partilha; casar e dar-se em
casamento sem compromissos com quem não pertence ao núcleo familiar; trabalhar
a terra e moer o trigo como se o meio ambiente não estivesse ameaçado; rezar e
louvar a Deus sem considerar a caridade e sem esperar e preparar a vinda do
reino de Deus. O sentido da vida é a vinda do Filho do homem, e nada pode nos
distrair da preparação desse evento.
Viver vigilantes e preparados/as para não sermos surpreendidos pelo
ladrão que poderá nos roubar aquilo que entesouramos de modo afoito e idiota:
eis o apelo do evangelho de hoje. Esta vigilância não pede fuga do mundo e das
justas lutas que precisamos travar, mas uma postura ativa e alerta que ajuda a
continuar lucidamente nossas tarefas, construindo o Reino de Deus no mundo,
tornando a Igreja visceralmente fraterna e evangélica, sempre e em tudo amando
e servindo, caminhando entre as coisas que passam abraçando as que não passam.
Por isso, precisamos mergulhar no espírito do advento e aguçar a sensibilidade
para identificar os pequenos sinais que teimam em aparecer no ventre de
mulheres humilhadas, nas estrebarias das periferias, nas mãos abertas e
desarmadas de gente que confia na fraqueza, nos corações generosos que
compartilham sonhos e caminhos, nos movimentos que se erguem como o indefeso
Davi diante do Mercado gigante e idólatra. Precisamos levantar a cabeça diante
dos que quiseram vencer pela mentira e governar pela intimidação, pois diverso
é o Filho do Homem, o Humano.
Deus pai
e mãe, amor eternamente jovem e infinitamente criativo, que está sempre vindo
ao nosso encontro: dissipa o medo e cura as feridas que a prepotência dos
violentos deixa em nossos corpos. Conduz aqueles/as que ainda acreditam em ti
ao templo silencioso e misterioso da carpintaria de Nazaré, e ajuda-nos a
perceber que ali moram a criatividade mais genuína e a ousadia mais
libertadora. Desperta-nos do sono da ignorância, livra-nos da noite do cinismo
e mostra-nos o caminho da justiça, da reconciliação e da paz. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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