quinta-feira, 24 de novembro de 2022

O Evangelho dominical (Pagola) - 27.11.2022

REAGIR

As reflexões que conheço sobre o momento atual insistem muito nas contradições da sociedade contemporânea, na gravidade da crise sociocultural e econômica e no carácter decadente destes tempos. Sem dúvida, também falam de fragmentos de bondade e beleza, e de gestos de nobreza e generosidade, mas tudo isto parece ficar como que oculto pela força do mal, pela deterioração da vida e pela injustiça. No final, todas são «profecias de desventuras».

Esquece-se, em geral, de um fato extremamente esperançoso. Está crescendo na consciência de muitas pessoas um sentimento de indignação ante tanta injustiça, degradação e sofrimento. São muitos os homens e mulheres que já não se resignam a aceitar uma sociedade tão pouco humana. Do seu coração, brota um firme «não» ao inumano.

Esta resistência ao mal é comum a cristãos e agnósticos. Como dizia E. Schillebeeckx, pode-se falar de «uma frente comum, de crentes e descrentes, por um mundo melhor e mais humano». No fundo desta reação está a procura de algo diferente, um reduto de esperança, um desejo de algo que esta sociedade não está oferecendo. É o sentimento de que poderíamos ser mais humanos, mais felizes e melhores numa sociedade mais justa, ainda que sempre limitada e precária.

Neste contexto, o apelo de Jesus torna-se particularmente atual: «Estejam de vigilantes». São palavras que nos convidam a despertar e a viver com mais lucidez, sem nos deixarmos arrastar e modelar passivamente pelo que se impõe nesta sociedade. Talvez isto seja o principal: reagir e manter desperta a resistência e a rebeldia; atrever-nos a ser diferentes; não nos comportarmos como toda a gente; não nos identificarmos com o inumano desta sociedade; viver em contradição com tanta mediocridade e falta de sensatez. Em suma: iniciar a reação.

Devem animar-nos duas convicções. A primeira, é que o ser humano não perdeu a sua capacidade de ser mais humano e de organizar uma sociedade mais digna. A outra, é que o Espírito de Deus continua a agir na história e no coração de cada pessoa. É possível mudar o rumo errado que esta sociedade tem seguido. O que é necessário é que haja cada vez mais pessoas lúcidas que se atrevam a introduzir sensatez no meio de tanta loucura, sentido moral no meio de tanto vazio ético, calor humano e solidariedade no interior de tanto pragmatismo sem coração.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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