Nestes dias em que temos a oportunidade e a obrigação de fazer memória do significado histórico, antropológico e social da mulher na sociedade e na Igreja, assim como da discriminação e da violência de que foram e continuam sendo vítimas, recolho e publico breves biografias de mulheres que, entre tantas outras igualmente anônimas, merecem ser lembradas. Todos estes recortes biográficos estão no livro Espelhos, de Eduardo Galeano (L&PM Editores, Porto Alegre, 2008), que recomendo vivamente, tanto pelo estilo como pelo conteúdo.
Teresa
Teresa de Ávila havia entrado no convento para se salvar do inferno conjugal. Mais valia ser escrava de Deus que serva de macho.
Mas São Paulo tinha outorgado três direitos às mulheres: obedecer, servir e calar. E o representante de Sua Santidade o Papa condenou Teresa “por ser fêmea inquieta e andarilha, desobediente e contumaz, que, a título de devoção, inventa doutrinas más contra São Paulo, que mandou que as mulheres não ensinassem”.
Teresa tinha fundado na Espanha vários conventos onde as monjas davam aula e tinham autoridade, e muito importava a virtude e nada a linhagem, e de nenhuma era exigida limpeza de sangue.
Em 1576, foi denunciada diante da inquisição, porque seu avô dizia ser cristão velho, mas era judeu convertido, e porque seus transes místicos eram obra do diabo metido em corpo de mulher.
Quatro séculos depois, Francisco Franco se apoderou do braço direito de Teresa, para se defender do diabo em seu leito de agonia. Por uma dessas estranhas reviravoltas da vida, naquele momento Teresa já era santa e modelo da mulher ibérica, e seus pedaços tinham sido enviados a vrias Igrejas da Espanha, exceto um pé, que foi parar em Roma. (p. 136-136)
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