Nestes dias em que temos a oportunidade e a obrigação de fazer memória do significado histórico, antropológico e social da mulher na sociedade e na Igreja, assim como da discriminação e da violência de que foram e continuam sendo vítimas, recolho e publico breves biografias de mulheres que, entre tantas outras igualmente anônimas, merecem ser lembradas. Todos estes recortes biográficos estão no livro Espelhos, de Eduardo Galeano (L&PM Editores, Porto Alegre, 2008), que recomendo vivamente, tanto pelo estilo como pelo conteúdo.
Yasmin
Num dia do ano 1998, (na Jordânia) Yasmin Abdullah entrou em casa chorando. Só atinava dizer e repetir: “Não sou mais uma menina!” Tinha ido visitar sua irmã mais velha. Fora violada pelo cunhado...
Yasmin foi parar no cárcere de Jweidah, até que o pai tirou-a de lá comprometendo-se a cuidar dela e pagando a finaça correspondente.
Naquela altura, o pai, a mãe, os tios e setecentos vizinhos tinham decidido, em assembléia, que a honra da família devia ser lavada com sangue. Yasmin tinha dezesseis anos.
Seu irmão Sarhan meteu-lhe quatro balas na cabeça. Passou seis meses na prisão. Foi tratado como herói. Também foram tratados como heróis outros vinte e sete homens presos por casos semelhantes.
De cada quatro crimes cometidos na Jordânia, um é crime de honra... (p. 293-294)
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