Nestes dias em que temos a oportunidade e a obrigação de fazer memória do significado histórico, antropológico e social da mulher na sociedade e na Igreja, assim como da discriminação e da violência de que foram e continuam sendo vítimas, recolho e publico breves biografias de mulheres que, entre tantas outras igualmente anônimas, merecem ser lembradas. Todos estes recortes biográficos estão no livro Espelhos, de Eduardo Galeano (L&PM Editores, Porto Alegre, 2008), que recomendo vivamente, tanto pelo estilo como pelo conteúdo.
Camille
A família declarou-a louca e meteu-a num manicômio. Camille Claudel passou ali, prisioneira, os últimos 30 anos de sua vida. Foi para o seu bem, disseram.
No manicômio, cárcere gelado, se negou a desenhar e esculpir. A mãe e a irmã jamais a visitaram. Uma ou outra vez seu irmão Paul, o virtuoso, apareceu por lá. Quando Camille, a pecadora, morreu, ninguém reclamou seu corpo.
Anos levou o mundo até descobrir que Camille não tinha sido apenas a humilhada amante de Auguste Rodin. Quase meio século depois da sua morte, suas obras renasceram e viajaram e assombraram: bronze que baila, mármore que chora, pedra que ama.
Em Tóquio os cegos pediram licença para apalpar suas esculturas. Puderam tocá-las. Disseram que as esculturas respiravam. (p. 237)
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