O mistério que foi revelado
Escrevendo aos cristãos de Éfeso, Pauo fala que com
entusiasmo da graça que ele e os demais santos apóstolos e profetas tiveram de
conhecer o “mistério de Cristo”. E descreve o conteúdo deste mistério: os
pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados
à mesma promessa e têm a liberdade de se aproximar de Deus com toda a confiança
(cf. Ef 3,2-12).
Mas o que isso significa, concretamente? Significa que
o muro teológico e moral que as religiões, culturas ideologias ergueram para separar crentes e não
crentes, praticantes e não praticantes, cumpridores da lei e libertários, perdeu
o sentido. Jesus não pratica a lei estritamente, e se mostra libertário,
crítico e anárquico, chegando a afirmar que pessoas consideradas modelo de
pecado – como as prostitutas e os publicanos – são mais apreciadas por Deus que
os fariseus e doutores da lei...
O que Paulo intuiu – e mais tarde os evangelhos, que
nasceram no ventre da fé das comunidades cristãs, deixarão claro – é que a
humanidade de Jesus e dos seus irmãos e irmãs é o lugar do encontro com Deus,
ou seja, do encontro com a liberdade solidária e emancipadora. Infelizmente a
maioria de nós nem se dá conta, e muito menos se assusta, com o ensino de
Jesus, que não pede que, à espera da sua volta, multipliquemos celebrações e
novenas, mas que estejamos à frente – ou aos pés?! – dos nossos irmãos e irmãs
para dar-lhes de comer na hora certa. Ou seja: servimos a Deus e resgatamos
nossa verdadeira identidade humana no amor agradecido a Deus e no amor
solidário e emapncipador aos nossos irmãos.
Nossos amigos e amigas que não chegaram à graça da fé,
ou que a perderam por causa da ambiguidade do nosso testemunho, não são
necessariamente piores ou mais culpáveis que nós. Se eles se posicionarem ao
lado ou aos pés dos seus semelhantes e os servirem nas suas necessidades,
encontraram Deus e realizaram sua vocação. Há dois mil anos esse mistério foi
desvelado e, graças a Paulo e às primeiras gerações de cristãos, chegou ao
nosso conhecimento. E o conhecimento gera responsabilidade. E é de novo o
próprio Jesus que nos adverte: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a
quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (Lucas 12,48).
No horizonte do mês missionário, somos convidados a
anunciar isso com ênfase e clareza: as divisões caducaram; a pretensa
supremacia dos crentes e religiosos perdeu a base; as hierarquias ruíram. A
salvação se tornou acessível a todos os povos e culturas, e é encontrada e
realizada na compaixão, na misericórdia e na solidariedade. É isso que
significa a afirmação de não é pela prática da lei (que separa e hierarquiza)
que alcançamos a salvação, mas pela fé em Jesus Cristo (que aproxima e
solidariza).
Itacir
Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário