Todas somos chamados à bem-aventurada santidade!
A verdadeira
santidade é aquela que se manifesta na vida dos missionários, das pessoas que
ousam sair do estreito limite dos seus próprios
interesses e se aproximam solidariamente dos últimos; que tecem
pacientemente os fios que fazem do mundo inteiro uma única família; que vão aos
rincões mais distantes ou periféricos para levar a bandeira da paz; que são
movidas por uma insaciável sede de justiça; que choram as dores dos povos de
todas as cores e provam o fel da violência da perseguição; que transformam a
terra pela mansidão...
No dia 30
de outubro recordávamos os 35 anos do martírio de Santo Dias da Silva, líder cristão
e operário, e, ontem, a páscoa definitiva de Martinho Lutero, ex-monge católico
e reformador da Igreja. Dois homens sensíveis ao próprio tempo que, em
diferentes circunstâncias, e também com métodos diversos, sonharam e lutaram
por uma sociedade mais justa e uma Igreja mais fiel a Jesus Cristo. Dois
cristãos que tinham fome e sede de justiça e sofreram perseguição. Será que
eles não fazem parte da imensa multidão de servos de Deus, cujas frontes foram
marcadas com o sinal do Cordeiro?
A festa
de todos os santos faz memória dos santos esquecidos, daqueles que não têm um
dia especial nem um nome conhecido, que gastaram a vida no anonimato e cujos
milagres não cabem nas estreitas regras canônicas; de gente como Sepé Tiaraju,
Padre Cícero, Dom Romero, e Ir. Adelaide; e mesmo de gente que não rezou pelo
nosso catecismo, como Lutero, Luther King, Gandhi e tantos outros. Nesta festa,
celebramos a memória daqueles que nos antecederam na fé e cujo testemunho
mantém a Igreja no caminho certo, apesar das suas resistências e ambivalências.
Na
passagem do milênio, o hoje santo João Paulo II provocava os cristãos a não se
contentarem com pequenas medidas, com vôos rasantes, com ideais nanicos, e pedia
que aspirássemos nada menos e nada mais que a santidade. Mas esta vocação de
todos precisa se transformar em desejo pessoal e em decisões e ações concretas.
Como diz São João, nós somos chamados filhos de Deus e já o somos desde agora,
mas o desafio é crescer na identificação com Jesus Cristo, gravar no corpo e na
mente as marcas do sonho que mobilizou e deu sentido à vida dele. “Seremos
semelhantes a ele...”
Jesus
Cristo é o verdadeiro e perfeito santo de Deus e, ao mesmo tempo, o caminho
para a santidade. Não há santidade à margem do seguimento de Jesus Cristo,
mesmo que tal seguimento seja implícito. Viver a vocação à santidade é refazer
o caminho prático trilhado por Jesus: amar como Jesus amou; sonhar como Jesus
sonhou; pensar como Jesus pensou; viver como Jesus viveu... Este é o caminho
para que, no meio ou no fim do dia e no no meio ou no fim da vida, sejamos
felizes. Nas bem-aventuranças Jesus propõe o caminho de santidade e da
felicidade que ele mesmo percorreu.
As bem-aventuranças apresentam os sinais
que indicam o caminho da santidade. São oito características de quem percorre
este caminho. Esta via começa com a pobreza e termina com a perseguição. O
Reino de Deus é dos pobres e dos perseguidos. A consolação para os aflitos, a
herança para os mansos, a saciedade para os famintos, a misericórdia para os
compassivos, a visão de Deus para os puros e a filiação divina para os
promotores da paz é promessa para o futuro, mas a alegria sem fim do Reino é
experiência concreta dos pobres e dos perseguidos já no presente!
A
santidade à qual todos somos chamados tem a fisionomia do discipulado
missionário, do despojamento solidário; o coração dos que se afligem e choram
compassivamente as dores dos outros; o ritmo inquieto dos que anseiam e pela
justiça plena e universal; o olhar terno da misericórdia; a transparência de
quem evita a duplicidade e as segundas intenções; a ousadia daqueles que
promovem a paz; a indestrutível alegria de quem assume o custo de ser livre e
libertador. Os santos são beatos, o caminho da santidade e o caminho para a
felicidade coincidem.
Deus pai e mãe, fonte de toda santidade e
de todo bem: aqui viemos te pedir a graça de permanecer de pé diante do teu
Filho, rodeados de testemunhas de todas as nações, tribos, raças e línguas.
Ajuda-nos a superar a doce tentação de separar, catalogar e hierarquizar
católicos e evangélicos, cristãos e não-cristãos. Que nossa incrível capacidade
de sofrer e nossa inexplicável alegria em meio às intermináveis lutas sejam
nossas armas e nosso triunfo. E que tratemos os santos e santas como
testemunhas de um amor sem limites, e não como mediadores dos nossos interesses
mesquinhos. Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
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