quinta-feira, 30 de outubro de 2014

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS (ANO A – 01.11.2014)

Todas somos chamados à bem-aventurada santidade!
A verdadeira santidade é aquela que se manifesta na vida dos missionários, das pessoas que ousam sair do estreito limite dos seus próprios  interesses e se aproximam solidariamente dos últimos; que tecem pacientemente os fios que fazem do mundo inteiro uma única família; que vão aos rincões mais distantes ou periféricos para levar a bandeira da paz; que são movidas por uma insaciável sede de justiça; que choram as dores dos povos de todas as cores e provam o fel da violência da perseguição; que transformam a terra pela mansidão...
No dia 30 de outubro recordávamos os 35 anos do martírio de Santo Dias da Silva, líder cristão e operário, e, ontem, a páscoa definitiva de Martinho Lutero, ex-monge católico e reformador da Igreja. Dois homens sensíveis ao próprio tempo que, em diferentes circunstâncias, e também com métodos diversos, sonharam e lutaram por uma sociedade mais justa e uma Igreja mais fiel a Jesus Cristo. Dois cristãos que tinham fome e sede de justiça e sofreram perseguição. Será que eles não fazem parte da imensa multidão de servos de Deus, cujas frontes foram marcadas com o sinal do Cordeiro?
A festa de todos os santos faz memória dos santos esquecidos, daqueles que não têm um dia especial nem um nome conhecido, que gastaram a vida no anonimato e cujos milagres não cabem nas estreitas regras canônicas; de gente como Sepé Tiaraju, Padre Cícero, Dom Romero, e Ir. Adelaide; e mesmo de gente que não rezou pelo nosso catecismo, como Lutero, Luther King, Gandhi e tantos outros. Nesta festa, celebramos a memória daqueles que nos antecederam na fé e cujo testemunho mantém a Igreja no caminho certo, apesar das suas resistências e ambivalências.
Na passagem do milênio, o hoje santo João Paulo II provocava os cristãos a não se contentarem com pequenas medidas, com vôos rasantes, com ideais nanicos, e pedia que aspirássemos nada menos e nada mais que a santidade. Mas esta vocação de todos precisa se transformar em desejo pessoal e em decisões e ações concretas. Como diz São João, nós somos chamados filhos de Deus e já o somos desde agora, mas o desafio é crescer na identificação com Jesus Cristo, gravar no corpo e na mente as marcas do sonho que mobilizou e deu sentido à vida dele. “Seremos semelhantes a ele...”
Jesus Cristo é o verdadeiro e perfeito santo de Deus e, ao mesmo tempo, o caminho para a santidade. Não há santidade à margem do seguimento de Jesus Cristo, mesmo que tal seguimento seja implícito. Viver a vocação à santidade é refazer o caminho prático trilhado por Jesus: amar como Jesus amou; sonhar como Jesus sonhou; pensar como Jesus pensou; viver como Jesus viveu... Este é o caminho para que, no meio ou no fim do dia e no no meio ou no fim da vida, sejamos felizes. Nas bem-aventuranças Jesus propõe o caminho de santidade e da felicidade que ele mesmo percorreu.
As bem-aventuranças apresentam os sinais que indicam o caminho da santidade. São oito características de quem percorre este caminho. Esta via começa com a pobreza e termina com a perseguição. O Reino de Deus é dos pobres e dos perseguidos. A consolação para os aflitos, a herança para os mansos, a saciedade para os famintos, a misericórdia para os compassivos, a visão de Deus para os puros e a filiação divina para os promotores da paz é promessa para o futuro, mas a alegria sem fim do Reino é experiência concreta dos pobres e dos perseguidos já no presente!
A santidade à qual todos somos chamados tem a fisionomia do discipulado missionário, do despojamento solidário; o coração dos que se afligem e choram compassivamente as dores dos outros; o ritmo inquieto dos que anseiam e pela justiça plena e universal; o olhar terno da misericórdia; a transparência de quem evita a duplicidade e as segundas intenções; a ousadia daqueles que promovem a paz; a indestrutível alegria de quem assume o custo de ser livre e libertador. Os santos são beatos, o caminho da santidade e o caminho para a felicidade coincidem.
Deus pai e mãe, fonte de toda santidade e de todo bem: aqui viemos te pedir a graça de permanecer de pé diante do teu Filho, rodeados de testemunhas de todas as nações, tribos, raças e línguas. Ajuda-nos a superar a doce tentação de separar, catalogar e hierarquizar católicos e evangélicos, cristãos e não-cristãos. Que nossa incrível capacidade de sofrer e nossa inexplicável alegria em meio às intermináveis lutas sejam nossas armas e nosso triunfo. E que tratemos os santos e santas como testemunhas de um amor sem limites, e não como mediadores dos nossos interesses mesquinhos. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Apocalipse de São João 7,2-4.9-14* Salmo 23 (24) * 1ª Carta de João 3,1-3 * Mt 5,1-12)

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