A alegria de ser missionário
Ainda hoje há tanta gente que não conhece Jesus
Cristo. Por isso, continua a revestir-se de grande urgência a missão ad gentes, na qual são chamados a
participar todos os membros da Igreja, pois esta é, por
sua natureza, missionária: a Igreja nasceu «em saída».
A
alegria é a marca da missão
Narra o evangelista que o Senhor enviou, dois a dois,
os setenta e dois discípulos a anunciar, nas cidades e aldeias, que o Reino de
Deus estava próximo, preparando assim as pessoas para o encontro com Jesus. Cumprida esta missão de
anúncio, os discípulos regressaram cheios de alegria: a alegria é um traço
dominante desta primeira e inesquecível experiência missionária.
O divino Mestre disse-lhes: «Não vos alegreis, porque
os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes
escritos no Céu. Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção
do Espírito Santo e disse: “Bendigo-te, ó Pai...”. Voltando-se, depois, para os
discípulos, disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que vêem o que estais a
ver”» (Lc 10, 20-21.23).
A
alegria brota do amor realizado
Os discípulos estavam cheios de alegria, entusiasmados
com o poder de libertar as pessoas dos demónios. Jesus, porém, recomendou-lhes
que não se alegrassem tanto pelo poder recebido, como sobretudo pelo amor
alcançado, ou seja, «por estarem os vossos nomes escritos no Céu» (Lc 10, 20). Com
efeito, fora-lhes concedida a experiência do amor de Deus e também a
possibilidade de o partilhar. E esta experiência dos discípulos é motivo de
jubilosa gratidão para o coração de Jesus.
Este momento de íntimo júbilo brota do amor profundo
que Jesus sente como Filho por seu Pai, Senhor do Céu e da Terra, que escondeu
estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelou aos pequeninos (cf. Lc
10, 21). Deus escondeu e revelou, mas, nesta oração de louvor, é sobretudo a revelação
que se põe em realce.
O que foi que Deus revelou e escondeu? Os mistérios do
seu Reino, a consolidação da soberania divina de Jesus e a vitória sobre
satanás. Deus escondeu tudo isto àqueles que se sentem demasiado cheios de si e
pretendem saber já tudo. De certo modo, estão cegos pela própria presunção e
não deixam espaço a Deus.
A fonte
primeira da alegria é o amor de Deus por nós
«Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado» (Lc 10,
21). Jesus exultou, porque o Pai decidiu amar os homens com o mesmo amor que tem pelo Filho. Além
disso, Lucas faz-nos pensar numa exultação idêntica: a de Maria. «A minha alma
glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador» (Lc 1,
46-47).
Ao ver o bom êxito da missão dos seus discípulos e,
consequentemente, a sua alegria, Jesus exultou no Espírito Santo e dirigiu-Se a
seu Pai em oração. Em ambos os casos, trata-se de uma alegria pela salvação em ato,
porque o amor com que o Pai ama o Filho chega até nós e,
por obra do Espírito Santo, envolve-nos e faz-nos entrar na vida trinitária.
«A alegria do Evangelho enche o coração e a vida
inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele
são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com
Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria» (Evangelii gaudium, 1).
De tal encontro com Jesus, a Virgem Maria teve uma
experiência totalmente singular e tornou-se «causa da nossa alegria». Os
discípulos, por sua vez, receberam a chamada para estar com Jesus e ser
enviados por Ele a evangelizar (cf. Mc 3, 14), e, feito isso, sentem-se
repletos de alegria. Porque não entramos também nós nesta torrente de alegria?
Um mundo
ameaçado pela tristeza individualista
«O grande risco do mundo atual, com a sua múltipla e
avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do
coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais,
da consciência isolada» (Evangelii
gaudium, 2). Por isso, a humanidade tem grande necessidade de
dessedentar-se na salvação trazida por Cristo.
Os discípulos são aqueles que se deixam conquistar
mais e mais pelo amor de Jesus e marcar pelo fogo da paixão pelo Reino de Deus,
para serem portadores da alegria do Evangelho. Todos os discípulos do Senhor
são chamados a alimentar a alegria da evangelização.
A alegria do Evangelho brota do encontro com Cristo e
da partilha com os pobres. Por isso, encorajo as
comunidades paroquiais, as associações e os grupos a viverem uma intensa vida
fraterna, fundada no amor a Jesus e atenta às necessidades dos mais carecidos.
Deus ama
a quem dá com alegria
Onde há alegria, fervor, ânsia de levar Cristo aos
outros, surgem vocações genuínas, nomeadamente as vocações laicais à missão. Na
realidade, aumentou a consciência da identidade e missão dos fiéis leigos na
Igreja, bem como a noção de que eles são chamados a assumir um papel cada vez
mais relevante na difusão do Evangelho. Por isso, é importante uma adequada formação
deles, tendo em vista uma acção apostólica eficaz.
Não nos deixemos roubar a alegria da evangelização!
Convido-vos a mergulhar na alegria do Evangelho e a alimentar um amor capaz de
iluminar a vossa vocação e missão. Exorto-vos a recordar, numa espécie de
peregrinação interior, aquele «primeiro amor» com que o Senhor Jesus Cristo
incendiou o coração de cada um; recordá-lo, não por um sentimento de nostalgia,
mas para perseverar na alegria. O discípulo do Senhor persevera na alegria,
quando está com Ele, quando faz a sua vontade, quando partilha a fé, a
esperança e a caridade evangélica.
(Resumo da mensagem do Papa Francisco para o
Dia Mundial das Missões de 2014)
Nenhum comentário:
Postar um comentário