A justiça e a promoção humana estão no coração da missão.
As
comunidades católicas rezam hoje pelas missões, pelos missionários e
missionárias. Estes homens e mulheres abrasados pela fé, fortalecidos pela
esperança e seduzidos pelo desafio de ultrapassar fronteiras não são entidades
de outro planeta ou de outra dimensão, nem pessoas moralmente ou
espiritualmente superiores a nós. Como Jesus, os missionários são pessoas que
não fazem diferenças entre as pessoas em favor dos familiares, compatriotas ou
partidários. São criaturas que têm lucidez e coragem para relativizar as
pretensões dos poderosos e defender os direitos dos pequenos.
Depois da
parábola do banquete, na qual Jesus afirma que os principais de Israel recusam
o convite gratuito de Deus, esta elite não parece interessada em responder ou
discutir: retira-se para conspirar e planejar um ataque fulminante contra
Jesus. Com ironia, hipocrisia e cinismo, os doutores da lei, escribas e
herodianos preparam uma armadilha para enrolar e surpreender Jesus e, assim,
fabricar as provas que necessitam para a condenação que já está decidida. A
ironia e o cinismo ficam evidentes nos elogios dirigidos a Jesus pelos
emissários das elites judaicas.
Sem
querer, nos elogios irônicos e cínicos que dirigem a Jesus, os próprios
adversários de Jesus apresentam seu perfil verdadeiro e inatacável. Jesus não
se sente inibido na sua opção pelos pobres nem diante da pressão dos poderosos.
Não abandona os caminhos de Deus, mesmo diante das alternativas que oferecem sucesso
e êxito. Não foge das questões espinhosas, nem apela a uma mal dita
neutralidade política, a uma indefinida vida interior ou às coisas da alma. Ele
sabe distinguir o reconhecimento e a adesão humilde à sua proposta dos elogios
falsos, interesseiros e enganadores...
O que
está em discussão no evangelho deste domingo não é a simples questão de pagar
ou não pagar impostos. O que as elites, do judaímo e de todos os tempos, querem
saber é se, diante do império romano, Jesus é colaborador ou subversivo; se ele
mantém sua profecia ou abaixa a cabeça e cala a boca, deixando os fracos à sua
própria sorte; se o projeto de Deus mergulha na história ou se dirige apenas ao
coração e a uma fé privatizada e intimista. De qualquer modo, a questão não é a
autonomia dos poderes político e religioso, as a relação entre fé e política.
O tributo
imposto e cobrado dos povos colonizados pelo império romano era um meio de
subjugá-los, e a própria moeda servia como estratégia de propaganda do
imperador e de afirmação do seu status
divino. Para os judeus mais piedosos, a simples apresentação da imagem do
imperador cunhada na moeda provocava indignação, pois era um sinal da sua
divinização. Diante da prova da moeda, Jesus não se submete à fàcil solução de
separar fé e política, poder temporal e crítica profética. Sua resposta sábia e
corajosa é um caminho: “Devolvam a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus.”
A
conclusão de que, com esta resposta, Jesus estaria afirmando que a fé não tem
nada a dizer sobre a esfera política, mesmo sobre um poder ditador e opressor,
é puro preconceito e ideologia escapista, sem nenhuma base exegética. O que
Jesus faz é pedir que se devolva ao imperador a moeda, instrumento de propaganda
e de exploração, e que se reserve a Deus a vida e do seu povo. Partindo do
valor absoluto e transcendente do Reino de Deus, ele condena as pretensões
absolutistas do imperador e suas práticas de exploração dos povos por ele
subjugados.
Assim, Jesus
contextualiza e relativiza o poder colonialista e a lealdade às autoridades.
Sem recorrer à violência e falando em nome de Deus, exercita a profecia e
subverte a ordem estabelecida sobre a desordem ética. Isso nos lembra que
profecia, a justiça e a promoção humana são intrínsecas à missão. Graças a Deus, em muitas comunidades, temos discípulos
missionários com coração grande para amar e forte para lutar. Com Paulo,
dizemos: “Nos lembramos sempre da fé viva, do amor capaz de sacrifícios e da
firme esperança de vocês... Sabemos que vocês foram escolhidos por Jesus Cristo...”
Deus pai e mãe, dá-nos coragem e sabedoria
para relativizar todos os poderes, inclusive os poderes religiosos, e subordiná-los ao serviço à vida.
Ajuda tua Igreja a assumir, sem medo e sem reticências, a missão de encarnar o
Evangelho do teu Filho na política, na economia e na sociedade, colaborando na
edificação de um país solidário. E não permite que teus filhos se cansem de
testemuhar com clareza, de servir com amor, de dialogar com humildade e de anunciar o Evangelho com intrepidez. Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Profeta
Isaías 45,1.4-6 * Salmo 95 (96) * 1ª Carta aos Tessalonicenses 1,1-5 * Mateus
22,15-21)
Confira também: http://www.cebi.org.br/noticias.php?secaoId=1¬iciaId=5176
Nenhum comentário:
Postar um comentário