quinta-feira, 2 de julho de 2015

DÉCIMO QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B – 05.07.2015)

Jesus participa da condição dos homens e mulheres comuns.

Um pouco mais ou um pouco menos, a grandeza, a fama e o poder nos fascinam. Fraqueza, pequenez e humildade são realidades que em geral tememos e evitamos. Os ídolos nos parecem modelos dignos de serem imitados, mesmo quando omitem desesperadamente a origem humilde e desprezada e desabam como um castelo de ilusões. Mas o caminho da humanização não passa por estas veredas. E, em Jesus Cristo, Deus define para sempre seu caminho: o ser humano comum e humilhado, sem nenhum outro título ou honra, é seu sacramento, seu interlocutor e seu embaixador no mundo.
Existem pessoas que são desprezadas simplesmente por causa do gênero ou pela orientação sexual: mulheres constantemente humilhadas por uma arcaica e violenta cultura machista; pessoas homoafetivas caçadas como feras perigosas ou abtjetas. Existem também grupos humanos que são desprezados por questões étnicas e raciais: negros que carregam as marcas da escravidão como se dela fossem culpados, vistos sempre com suspeita e considerados inferiores; povos  indígenas catalogados como seres primitivos ou selvagens, exemplares exóticos de um tempo que não existe mais ou entraves para o excludente e predatório desenvolvimento branco.
Apesar dos títulos e imagens de poder que a história associou a Jesus, ele partilhou a sorte das pessoas desprezadas e marginalizadas. Jesus de Nazaré não fez coro com os soberbos e dos satisfeitos, nem se mostrou indiferente ao destino das pessoas humilhadas. Nasceu numa estrebaria, habitou numa cidade insignificante e numa região desprezada, foi trabalhador braçal, misturou-se a grupos sociais suspeitos, foi preso e executado entre ladrões. Em Nazaré, sua cidade Natal, ele era conhecido como um carpinteiro, e seus familiares eram pessoas muito humildes, gente muito comum.
No evangelho de hoje vemos a admiração e a inquietação dos conterrâneos de Jesus sobre a origem do seu carisma. Como conheciam Jesus desde pequeno, perguntavam-se: “Onde foi que arranjou tanta sabedoria? Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria?...” Do ponto de vista da origem, Jesus não poderia ser o que dava a impressão de ser... A sabedoria não poderia vir de pessoas comuns e humildes como os habitantes de Nazaré. Por mais que o ensinamento e as ações de Jesus impressionassem, sua pertença a um povoado marginal e a um povo trabalhador era para eles como uma pedra de escândalo.
Jesus fica impressionado com a visão estreita dos seus conterrâneos, com a influência que a ideologia da superioridade das pessoas cultas e poderosas exerce sobre os humildes habitantes da sua aldeia. Por trás dessa influência maléfica estava a idéia da inferioridade e impotência dos pobres, da sua radical e eterna dependência de benfeitores poderosos. Como tantos outros, aquele povo simples havia interiorizado e assimilado sua própria insignificância! Mas, o que mais surpreende, é que parece que o escândalo atinge os próprios familiares e parentes de Jesus...
É isso que deduzimos do provérbio citado por Jesus: “Um profeta só não é estimado na sua pátria, entre seus parentes e familiares...” Aqueles que conheciam as raízes camponesas e as mãos calejadas de Jesus nos trabalhos da carpintaria não conseguiam reconhecer nele os traços do Profeta ou do Messias esperado. Para Jesus, o escândalo dos habitantes de Nazaré diante da sua origem humilde é falta de fé, pois a fé é abertura de mente que permite reconhecer a presença de Deus nas pessoas simples, é acolher as surpresas e a ação inusitada de Deus que se manifesta onde e quando menos se espera.
Chamando a atenção dos cristãos de Corinto, Paulo afirma que prefere orgulhar-se de suas fraquezas e não de seus méritos. “Eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades, perseguições e angústias por causa de Cristo.” Ele tem a convicção de que a força de Deus se revela na humana fraqueza, e, por isso, não corre atrás de revelações e dons extraordinários. Aqueles que acreditam em Jesus Cristo seguem o caminho do amor que serve, do amor a fundo perdido, sem se importarem com o sucesso e o retorno. Sabem que seguem um servo, e não um patrão!
Jesus de Nazaré, carpinteiro numa aldeia insignificante, escândalo para os próprios conterrâneos e familiares... Ensina-nos a apreciar a fraqueza em vez do poder, a humildade em vez da soberba. Ajuda-nos a manter nossos olhos fixos em ti, nosso Senhor e Servo. Como tu, queremos confiar na liberdade e na força que nos vem do Espírito do Pai e da tua Palavra, e não no nosso próprio poder de convencimento e de pressão ou nas ações espetaculares. E que nós jamais esqueçamos que tu partilhas as nossas origens e não te envergonhas de nos chamar de irmãos e irmãs. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profeta Ezequiel 2,2-5 * Salmo 122 (123) * 2ª Carta aos Coríntios 12,7-10 * Evangelho de Marcos 6,1-6)

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