quarta-feira, 8 de julho de 2015

DÉCIMO QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B – 12.07.2015)

Fiel a Jesus, a Igreja precisa viver em ritmo de missão!

Ainda está viva na nossa memória a recepção pouco positiva que a comunidade de Nazaré dispensou a Jesus, narrada no evangelho do último domingo. O impacto provocado pela sua sabedoria logo se transformou em escândalo por causa da sua origem humilde. Mas isso não é um mero acidente de percurso: este é o método missionário de Jesus! Ele envia os discípulos recomendando despojamento e humildade, pedindo que tomem parte na sua missão. A comunidade cristã é uma assembléia de pessoas chamadas e enviadas, e Paulo diz que Deus nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e sem ambigüidades no amor, e o amor é a dinâmica e o coração da missão.
A palavra Igreja significa etimologicamente assembléia ou reunião. A Igreja é uma autêntica assembléia de Deus, convocada e reunida por ele e em nome dele. Esta assembléia o representa no mundo. A razão de ser da Igreja é deixar-se enviar, colocar-se a caminho, assumir uma missão no mundo, continuar a própria missão iniciada por Jesus Cristo. Ela é uma assembléia de pessoas enviadas, uma comunidade em missão. Isso significa que a Igreja não é uma sociedade voltada para si mesma, auto-referencial, como fala o Papa Francisco. Ela é uma espécie de movimento para fora, uma entidade ex-cêntrica.
Preparar-se e capacitar-se para a missão que recebemos é sinal de responsabilidade pessoal e de apreço pelos destinatários do serviço que realizamos. No caso da missão que Jesus Cristo confia à comunidade cristã, a preocupação exagerada com os meios e com os recursos não deve travar as iniciativas nem adiar os projetos. O que é indispensável é o mergulho pessoal no Evangelho de Jesus Cristo e a disposição de partilhar gratuitamente a liberdade que de graça recebemos. Como Jesus, seus discípulos não devem se preocupar demais com meios poderosos e técnicas especiais.
Com isso não queremos dizer que a preparação espiritual e intelectual não seja necessária, mas ressaltar que não devemos colocar aquilo que é secundário no lugar do que é primário. Sem a experiência de fé e a liberdade que despoja e simplifica não há curso ou instrumento multimídia que possa ajudar. Sem a atitude de irmão e companheiro não existe missão frutuosa. A vocação missionária não é uma profissão que traz benefícios ou prosperidade individual, mas uma força desestabilizadora com uma dimensão profética, o que nem sempre a faz aceita e aplaudida.
Anunciar “Jesus te ama e te salva!...” é bonito e verdadeiro, mas é pouco e insuficiente. É uma pena que haja missionários que imaginam que se faz necessário defender Jesus diante de um mundo indiferente ou resistente à religião. É o povo de Deus, e não Jesus, que precisa de defensores! E há outros que esquecem que a missão tem uma dimensão ativa, transformadora, libertadora: expulsar demônios, curar doentes, etc. Isso não significa virar exorcista ou curandeiro, mas de criar condições para que as pessoas diminuídas, menosprezadas e oprimidas recuperem plenas condições de vida.
Em cada situação precisamos identificar quem são as pessoas e grupos aos quais são negadas as possibilidades de uma vida plena e agir em favor delas. Mas, por mais que as ações espetaculares de expulsar os demônios e curar os doentes impressionem, a dimensão transformadora e libertadora da missão cristã se mostra melhor noutras iniciativas que dão menos ibope: na corajosa ação da CPT; no delicado e respeitoso trabalho do CIMI; na impressionante atividade da Pastoral da Criança; no ingrato trabalho da Pastoral Carcerária; na anônima dedicação da Pastoral da Saúde...
É uma verdade central da nossa fé que, em Cristo, Deus nos abençoou abundantemente e nos escolheu ainda antes de criar o mundo para sermos pessoas maduras e íntegras no amor. Ele também abriu nossa mente à compreensão do mistério de sua santa vontade, nos adotou como filhos e filhas e nos introduziu na lista dos seus herdeiros. E isso não é pouco, coisa abstrata ou algo para um futuro incerto. O que não podemos é pensar que isso seja mérito ou privilégio. Somos filhos e herdeiros porque ele é bom, nos ama e nos acolhe sem levar em conta nossas ambigüidades e limites.
Jesus Cristo, profeta de Nazaré e missionário do Pai! Tu nos ensinas que a vontade mais genuína do teu e nosso Pai é que o amor e a fidelidade se encontrem, a justiça e a paz se abracem, a fidelidade brote da terra e  a justiça se incline do céu. É isso que tu pedes que anunciemos e realizemos enquanto Igreja discípula e missionária. Por isso, confiantes, te pedimos pelos servidores e servidoras da Palavra, por aqueles cuja missão é, na medida do possível, atrair as pessoas a ti: abençoa o trabalho deles, de modo que realizando-o possam também eles ser atraídos a ti e confirmados na alegria. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profeta Amós 7,12-15 * Salmo 84 (85) * Carta aos Efésios 1,3-14 * Evangelho de Marcos 6,7-13)

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